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Vice-prefeito de SP se contrapõe a Nunes e diz ser contra mudar nome da GCM

Ex-comandante da Rota, Mello Araújo (PL) é vice-prefeito de São Paulo - Ana Paula Bimbati/UOL
Ex-comandante da Rota, Mello Araújo (PL) é vice-prefeito de São Paulo Imagem: Ana Paula Bimbati/UOL
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Do UOL, em São Paulo

27/04/2025 05h30

Ex-comandante da Rota, o vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL), diz ser contra a mudança do nome da GCM (Guarda Civil Metropolitana) para Polícia Municipal. A opinião do coronel da reserva da PM se contrapõe à do chefe do Executivo paulista, Ricardo Nunes (MDB), que tem se empenhado no tema, agora no STF, para conseguir a alteração.

Do seu gabinete no 5º andar do prédio da prefeitura, com fotos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) penduradas na parede e objetos que lembram sua trajetória na Rota, Mello Araújo falou com o UOL sobre sua atuação na administração.

'Devemos manter as tradições das instituições'

Mello Araújo diz defender uma "guarda forte" e ressalta que o problema, para ele, não está no nome da corporação. Para o vice-prefeito, o foco deve ser em valorizar a GCM e oferecer treinamento qualificado. Apesar da opinião diferente, ele afirma que respeita a decisão de Nunes e que não fez "jogo sujo" para que a proposta não avançasse na Câmara dos Vereadores. A mudança do nome da guarda foi aprovada pelo Legislativo em março, mas uma decisão do STF suspendeu a alteração. Agora, Nunes, defende a criação de uma PEC no Congresso.

Muitas coisas eu e o Ricardo pensamos diferente, o que é normal. Não é possível todo mundo pensar 100% igualzinho. Nesse tema, penso diferente dele. Penso que a Guarda Municipal já é tradicional e não precisaria trocar o nome. Nós temos instituições diferentes com funções, algumas vezes, semelhantes, então não precisa trocar o nome. Devemos manter as tradições. Isso [nome da GCM] não quer dizer que denigre nada.

Argumentei, lógico, nunca deixei de me posicionar com o prefeito. Não fiquei fazendo lobby na Câmara para votar contra nada. A gente aqui é o governo. Então, fiquei no silêncio, mas me posicionei para ele a respeito. Deixei que os vereadores decidissem do jeito que queriam. Você não vai ver nenhum vereador falar que eu fui lá para defender. Então, assim, o prefeito é o nosso comandante. Fiz minhas argumentações e a decisão final é dele, tenho que respeitar. Estamos num país democrático.

Respeito a opinião e a decisão do Ricardo. Ele está brigando por uma coisa que acredita e a Justiça vai decidir o que é melhor. Na minha opinião, deveria ficar do jeito que está. Simplesmente a gente fortalecer, treinar, qualificar, remunerar bem, que inclusive já é uma guarda municipal bem remunerada.

Reorganização dos ambulantes no Brás

Após um vendedor ambulante senegalês ser baleado pela PM e morrer no Brás, região central de São Paulo, o vice-prefeito passou a estruturar novas ações para região. Ele evita opinar se a abordagem do policial foi correta ou não, mas ressalta que seu objetivo é "criar uma solução boa para todo mundo". Segundo Mello Araújo, a prefeitura vai regularizar os vendedores ambulantes e impedir que uma única pessoa tenha mais de um ponto. Uma das possibilidades que devem ser oferecidas aos ambulantes, afirma o vice-prefeito, é a oferta de emprego formal em lojas do Brás.

Estamos montando uma comissão com os vendedores ambulantes para nos ajudarem. Ou seja, eles vão nos ajudar a fazer a distribuição e nós vamos regrar. A gente vai criar uma política que seja boa para todos. O lojista não vai ficar incomodado com o excesso de camelôs, os camelôs não vão precisar sair correndo da polícia porque estão ilegais. E vamos tentar regularizar o que for possível, porque muitos camelôs têm quatro, cinco pontos. A gente vai dividir esse pão.

A gente vai acabar com as pessoas que estão explorando eles. Na Ceagesp, tinha sindicatos que exploravam os camelôs, os carregadores. E aqui tem gente trabalhando e está pagando para quem não é dono do terreno. O dono do terreno é a prefeitura.

Cada ocorrência é uma ocorrência [sobre o PM que baleou o senegalês]. Uma coisa eu te falo: ninguém deseja a morte de ninguém, o policial não sai para trabalhar querendo aquele resultado. É dor de cabeça para o policial, tristeza para a família que perdeu a pessoa. Ninguém queria aquele resultado, agora se foi correta ou não a abordagem, só quando for apurado.

Proerd municipal e PM no esporte

O entendimento de Mello Araújo é que para enfrentar a "cracolândia" e barrar o aumento de usuários de droga é preciso atacar o "problema na raiz". "E onde é a raiz? Nas crianças e nos adolescentes, porque se a gente conseguir pegar essa geração e mostrar que isso faz mal, a gente muda", afirma o vice-prefeito. Para isso, ele diz que tem estruturado um projeto-piloto como o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), vinculado ao governo paulista —nesse caso, no lugar dos PMs, os guardas civis aplicariam o projeto nas salas municipais.

Sabe aqueles muros que vão enchendo de unha-de-gato? Imagina que a parede é a cidade. Aí vem a erva daninha, o crime. Chega a polícia, a segurança, poda, não corta. Isso é o que a gente faz hoje. A gente só poda o crime. A gente não resolve o crime. Então, tem que investir lá na raiz. Tenho que jogar um remédio na raiz para não surgir mais isso. E o remédio o que é? É ir nas crianças, nos adolescentes com programas. Quais? Vários.

Nós temos vários policiais formados em educação física para trabalhar com crianças. A prefeitura já paga a atividade delegada para policiais fiscalizarem ambulantes, então ela vai pagar para o profissional de educação física, policial militar. Eles vão dar aulas em equipamentos esportivos pela cidade. Vamos começar com 100 policiais em 50 equipamentos da cidade, é um projeto piloto. [...] Estamos finalizando os planos de aula. Vai ser legal essa aproximação da criança com o policial, não com bandido.

Se a gente pegar essas crianças de 12, 13 anos, daqui a 4 anos não teremos tudo isso de dependente químico. A gente passando valor, o esporte traz doutrina, regra, disciplina. Hoje, o moleque da favela, ele fala: 'eu vou ser jogador de futebol, que é o da dinheiro'. Ou traficante, que é onde dá dinheiro. Mas o cara não tem habilidade no futebol, porque é para poucos. Então ele vai ser igual aquele ali, corrente de ouro, arma na cinta, roupa bonita e as menininhas querendo ficar comigo. É assim que funciona. A realidade é essa. Então, se eu der uma oportunidade diferente de só futebol e o tráfico, a gente pode mudar uma geração.

Câmeras corporais

Se na questão das GCMs Mello Araújo se opõe a Nunes, o vice e o prefeito dividem a mesma opinião em relação às câmeras corporais. Ele diz que o instrumento só seria implementado por ele após priorizar outras políticas na área de segurança. A administração municipal acredita que as câmeras do Smart Sampa, programa de monitoramento da prefeitura, podem capturar condutas excessivas de agentes.

Essa discriminação com uma única instituição [PM], não acho que esse é o caminho. Quando existe uma posição dessa, 'agora todo mundo com câmara', causa um sentimento que a gente é o patinho feio, que anda errado e tem que ser monitorado. Quem tem que ser monitorado é o criminoso. A câmera é um equipamento que pode, muitas vezes, ser útil, mas ela tem que trabalhar a favor do policial e não contra ele.

Se estivesse no comando e tivesse dinheiro suficiente depois de investir em prioridades, ou seja, está sobrando dinheiro, eu investiria em câmaras, mas no padrão internacional. O agente pode acionar a câmera quando entender necessário, e não tirando 100% da sua liberdade de trabalhar.

'PEC da Segurança não vai resolver problema'

O vice-prefeito de São Paulo avalia que a PEC da Segurança Pública, entregue pelo governo Lula nesta semana aos presidentes do Legislativo, não "acrescenta em nada" e "não vai resolver o problema". A proposta tem o objetivo de reestruturar a atuação das forças de segurança no Brasil. O coronel da reserva defende uma mudança na Lei de Execuções Penais.

O dia que mexer na Lei de Execuções, resolve o problema da segurança pública. Não precisa de uma PEC. Acaba com a audiência de custódia. Se não acabar, pelo menos regula de forma diferente. Porque hoje, na audiência de custódia, a exceção é ficar preso. [...] Talvez não precise acabar com a audiência, só mudar. A regra é ficar preso e a exceção é ser solto.

O que a polícia mais faz é prender. 95%, 98% das pessoas que a gente prende já foram presas. Qual sensação que dá prender a mesma pessoa? Estamos enxugando gelo, não estamos fazendo nada. Se mudar isso, vou parar de prender a mesma pessoa. Não vai ter mais ladrão, porque a gente só prende os mesmos.

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