Conheça de onde são os cardeais da Europa e das Américas

O papa Francisco, primeiro papa latino-americano, ajudou a criar um movimento de descentralização da Igreja Católica e isso está expresso na origem dos cardeais. O continente Europeu ainda figura na frente, com - 39,2%, com 53 eleitores para o continente. Na sequência, a América conta com 37 cardeais com poder de voto.
Ainda assim, se comparado a 2013, ano de escolha do argentino Francisco, 56% dos eleitores eram do velho continente. Cardeais de 71 países vão escolher o próximo líder máximo do catolicismo mundial. A seguir veja alguns dos principais nomes dos dois continentes com mais representantes no conclave.
Os principais cardeais das Américas
Timothy Dolan
Arcebispo de Nova York, nos EUA, Dolan é cardeal eleitor até 2030. Em 2017, a rede de TV americana ABC obteve uma transcrição de uma teleconferência confidencial em que Kenneth Feinberg, advogado apontado pelo arcebispo para administrar o programa independente de reconciliação e compensação das vítimas de casos de abuso da diocese, afirmou que o religioso estava "preocupado" com a aprovação do Ato de Vítimas Infantis.
A legislação proposta tornaria possível pedir indenizações em casos de abuso sexual infantil, mesmo depois que os casos prescreveram criminalmente. Isto é, quando seus responsáveis não podem ser mais presos pelo crime. Este tipo de recurso poderia levar à falência diversas dioceses no estado de NY. As afirmações de Feinberg colocaram em xeque se o cardeal tinha mesmo o intuito de fazer reparações às vítimas.
Em novembro de 2024, Dolan escreveu uma carta aos fiéis em que anunciou a demissão de 18 funcionários da arquidiocese. Os cortes de gastos teriam o intuito de pagar reparações às vítimas de abuso sexual, segundo o The New York Post. No mês anterior, ele anunciou que a arquidiocese estava processando sua seguradora para obrigá-la a cobrir os gastos de indenizações que estavam saindo dos bolsos da Igreja.
Francisco Javier Errázuriz Ossa
Arcebispo Emérito de Santiago, no Chile, Errázuriz não é mais cardeal eleitor, mas segue no colégio. Em 2019, ele foi réu em uma ação que o acusava de acobertar pelo menos 10 casos de abuso sexual infantil realizados por padres na década de 1990.
Em dezembro de 2018, o papa Francisco já havia removido o cardeal de seu grupo de conselheiros. No entanto, a razão alegada pela Santa Sé teria sido a idade avançada de alguns membros do grupo. Outro cardeal acusado de abuso, George Pell (já falecido), também foi removido junto com Errázuriz.
Dom Sérgio da Rocha
Arcebispo de Salvador é o favorito. O paulista Dom Sérgio da Rocha, 64, desponta como favorito entre os cardeais brasileiros convocados para o conclave, segundo especialistas em Vaticano. Contudo, a chance de um brasileiro assumir o pontificado é remota, ainda de acordo com analistas. Chamado de "vice-papa", Pietro Parolin é apontado como favorito em plataforma de apostas.
Dom Sérgio também foi arcebispo em Teresina e em Brasília. Em 2021, foi nomeado pelo papa Francisco como membro da Congregação para os Bispos. Dois anos depois, passou a integrar o Conselho de Cardeais.
Ele foi nomeado sacerdote em dezembro de 1984, quando tinha 25 anos. Mas sua ascensão começou ao ser nomeado bispo auxiliar de Fortaleza, em 2001. Ele ascendeu rapidamente na hierarquia da igreja ao se tornar cardeal, em novembro de 2016.
Dom Sérgio ocupou posições de destaque na Igreja no Brasil e na América Latina. Foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a partir de 2015 e atuou no Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), onde presidiu o Departamento de Vocações e Ministérios.
Leonardo Ulrich Steiner
Primeiro cardeal da Amazônia. Na Arquidiocese de Manaus desde 2020, o catarinense Leonardo Ulrich Steiner, 74, também é apontado como candidato brasileiro para suceder Francisco. Ele foi anunciado cardeal em maio de 2022.
Conhecido pela postura progressista em questões sociais e ambientais, Steiner havia sido nomeado bispo em 2005 pelo papa João Paulo 2º. Bacharel em Filosofia e Pedagogia, obteve doutorado em filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma.
Odilo Pedro Scherer
Odilo Pedro Scherer, 75, arcebispo de São Paulo, cardeal brasileiro que é uma preocupação externa saber se o novo papa será progressista ou conservador. Segundo ele, a base do ensinamento da igreja é "tanto progressista, quanto conservadora". O cuidado com imigrantes e a preocupação com a paz mundial, ressaltou dom Odilo, no dia da morte de Francisco.
Dom Orani João Tempesta
Dom Orani João Tempesta, 74, arcebispo do Rio de Janeiro, também integra a lista de 135 votantes e elegíveis para assumir o papado. Filho caçula de uma família de nove irmãos, em São José do Rio Pardo (SP), o adolescente Orani chegou a resistir a seguir a vida religiosa. Afinal, a família, muito humilde, poderia precisar de seu apoio mais presente.
Uma professora, alfabetizadora e religiosa chamada Maria de Lourdes Benedita Nogueira Fontão, mais conhecida como Lourdinha, fez a diferença. Ela estimulou o rapaz e disse que apoiaria os pais, que ainda ouviram dela (ainda no início da vida religiosa, quando ele não era nem padre) que o "menino" seria bispo e papa.
Raymundo Damasceno Assis
Raymundo Damasceno Assis não poderá votar devido à idade. De acordo com a Constituição Apostólica do Vaticano, os cardeais deixam de votar a partir dos 80 anos, e o arcebispo de Aparecida tem 88 anos. Mas ele fará parte da reunião e pode ser eleito papa, segundo a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Ele foi nomeado pelo papa Bento 16 em novembro de 2010. O religioso nasceu em Capela Nova (MG).
O cardeal é formado em teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Dom Damasceno também foi presidente da CNBB.
Os principais cardeais da Europa
Cardeal Matteo Zuppi
Zuppi, de 69 anos, é arcebispo de Bologna. O italiano foi indicado ao cargo pelo papa Francisco, em 2015, que também o nomeou para ser cardeal, em 2019. Hoje, também ocupa o cargo de chefe da Comissão Episcopal Italiana.
Pertence à ala progressiva no Vaticano. Ele vê como necessárias as reformas na Igreja Católica, promovendo democratização e revisão de medidas milenares, como a de que divorciados não podem comungar. Disse mesmo que a fé em Deus não é sempre necessária para a salvação, e que há "atos notáveis de altruísmo" entre os que não acreditam.
Aprova relações homoafetivas. Zuppi defende que a Igreja não discrimine contra pessoas LGBTQIA+, e mesmo que elas sejam acolhidas dentro da instituição. Ele foi um dos maiores apoiadores da decisão de Papa Francisco de permitir bençãos a casais do mesmo sexo.
Cardeal Pietro Parolin
Parolin é atual secretário de estado do Vaticano. O italiano de 70 anos teve curta carreira pastoral, se envolvendo com o Vaticano pouco após se formar. Ele foi nomeado ao cargo de secretário de estado pelo papa Francisco, em 2013.
Ex-diplomata da Santa Sé. Parolin já atuou em vários países e se tornou chefe das relações da Santa Sé com a China, Israel, Coreia do Norte e Vietnã - que possuem atritos históricos com o Vaticano.
Favorável a comunhão de divorciados e Igreja mais democrática. Apesar disso, é contra que mulheres sejam diaconisas e nunca se posicionou com firmeza sobre a benção a casais de mesmo sexo, dizendo que deve ser algo "fiel" à tradição e à herança da Igreja.
Favorito do ChatGPT. Uma análise elaborada pelo ChatGPT a pedido da emissora francesa BFMTV apontou que Parolin tem 27,6% de chance de se tornar papa. Segundo a inteligência artificial, ele é o candidato com maior possibilidade de manter uma continuidade com o pontificado de Francisco.
Relação com maçons. Parolin tinha relações amigáveis com maçons desde 2002, segundo testemunho do Grão-Mestre do Grande Oriente da Itália, Giuliano Di Bernardo. Em 2019, ele disse que ajudou Parolin a resolver um problema que teve com o governo chinês alguns anos antes. Não se sabe se o cardeal ainda tem relação com maçons.
Cardeal Péter Erdó
Erdó, de 72 anos, é arcebispo de Budapeste desde 2003. Ele foi indicado ao cargo pelo papa João Paulo 2º, e à época de sua nomeação, era um dos mais jovens cardeais, com 51 anos.
Erdó mantém visões liturgicamente conservadoras. Ele se posiciona contra a comunhão de divorciados e fiéis que casaram novamente, contra a benção de casais do mesmo sexo e contra o uso de métodos anticoncepcionais pelos fiéis. Ele também nega o universalismo - crença de que todas as pessoas estão salvas.
Visão sobre imigração e islamismo é equilibrada. O húngaro vê a imigração como um direito dos indivíduos, mas também vê perigo em integrar refugiados em países sem danificar a estabilidade política local.
"Intelectual" religioso. Erdó é fluente em seis línguas: inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e húngaro. Ele foi professor universitário, reitor da Faculdade Húngara em Roma e pesquisador da Universidade de Berkeley, na Califórnia. Além disso, já publicou mais de 250 artigos e 25 livros.
Cardeal Anders Arborelius
Arborelius, de 75 anos, é o arcebispo de Estocolmo. Ele ocupa a função desde 1998, quando foi indicado pelo papa João Paulo II. Ele é considerado o católico mais proeminente da Suécia, tendo servido como seu único Ordinário por quase 30 anos.
Apontado por papa Francisco como "modelo". Em 2022, o antigo papa disse o seguinte sobre Arborelius: "Ele não tem medo de nada. Conversa com todos e não se opõe a ninguém. Ele sempre busca o positivo. Acredito que uma pessoa como ele pode indicar o caminho certo a seguir".
Converteu-se ao catolicismo somente aos 20 anos. Arborelius foi criado luterano, mas teve contato com vários católicos durante sua juventude. Após passar um ano e meio estudando a religião, afirmou que "a verdade lhe foi dada através da fé católica".
Cardeal é contra transformar celibato em opção para padres. Além disso, se opõe que mulheres sejam diaconisas e ao uso de contraceptivos, enquanto aprova que a Igreja se preocupe com as mudanças climáticas e promova mudanças pela sua democratização.
Cardeal Willem Eijk
Arcebispo Metropolitano de Utrecht tem 71 anos. O cardeal holandês Willem Eijk tem doutorado em medicina, mas mantém a religião como sua ocupação principal. Ele foi nomeado cardeal em 2012, pelo papa Bento 16.
Eijk tem visão ortodoxa sobre futuro da Igreja. Ele é contra a presença de meninas coroinhas, tornar opcional o celibato para padres, uso de anticoncepcionais para fiéis e contra a benção para casais homossexuais. Em entrevista, ele disse que relações LGBTQIA+ são "contrárias a ordem de criação de Deus".
Rejeita comunhão para divorciados. Em 2015, chegou a dizer que casais divorciados que entram com pedidos para casamentos sem terem as primeiras uniões anuladas representam "uma forma de adultério estruturado e institucionalizado". Ele defendia que o papa deixasse claro que o casamento é "único e inquebrável", e que católicos que casam novamente após divórcios não possam comungar.
Removeu ajudante transgênero de paróquia. Apesar das reclamações dos diretores da paróquia de Norbertus, Eijk ordenou a expulsão de Rhianna Gralike, que atuava como tesoureira da paróquia. Isso gerou protestos por membros da Igreja, que não sabiam que ela havia realizado uma transição de gênero.
Cardeal Jean-Marc Aveline
Aveline, de 66 anos, é arcebispo de Marselha, na França, e teve que emigrar da Argélia quando criança. Aveline nasceu em uma família francesa na Argélia, então colônia do país europeu. O cardeal, então com quatro anos, teve que deixar o país natal depois que este ganhou independência da França, em 1962. Ele afirma que essa experiência o fez mais consciente sobre imigrantes e exilados.
Diretor de uma comunidade com relatos de abusos. O argelino é há muito tempo o diretor espiritual da comunidade Emmanuel, fundada em 1972, na qual abusos têm sido repetidamente relatados.
Vincent Nichols
O Arcebispo de Westminster, na Inglaterra, é cardeal eleitor até novembro de 2025, quando completa 80 anos. Além disso, ele também pode se escolhido papa.
Nichols admitiu em 2019 que "falhou" com uma mulher que relatou um abuso em sua arquidiocese. Ela teria denunciado que foi abusada por um membro da Ordem dos Servitas e ele não respondeu aos emails dela.
O arcebispo confessou que seu comportamento efetivamente "calou" a vítima, segundo a agência de notícias católica CNA. A mulher não buscava compensação financeira, segundo o processo, mas queria que sua queixa fosse reconhecida pela arquidiocese.
Philippe Barbarin
O Arcebispo Emérito de Lyon, na França, segue como cardeal eleitor até 2030. Em 2019, ele chegou a ser condenado pela Justiça da França a seis meses de prisão por omissão diante dos abusos sexuais contra menores de 15 anos de idade por parte do padre Bernard Preynat.
As vítimas denunciaram não só o padre, mas o arcebispo à Justiça em 2015 por ter conhecimento dos casos desde, pelo menos, 2010. Barbarin afirmou que só tomou conhecimento em 2014, após conversar com uma vítima.
O processo ainda cabia recurso, mas Barbarin resolveu renunciar de sua posição na Igreja, mas o papa Francisco não aceitou. O pontífice alegou a presunção de inocência, já que os trâmites civis ainda não tinham acabado.
Em janeiro de 2020, Barbarin foi absolvido durante o recurso. Dois meses depois, ele voltou a fazer o pedido de renúncia à Santa Sé e Francisco aceitou.
Rainer Maria Woelki
O Arcebispo de Colônia, na Alemanha, é cardeal eleitor até 2036, quando chega aos 80 anos. Ele foi investigado pela polícia alemã nos últimos anos sob suspeita de ter mentido sobre se tinha ou não conhecimento dos casos de abuso sexual por parte do clero que aconteciam em sua diocese. Às autoridades, ele garantiu que só soube em 2022, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
Revisão de casos ocorridos 1975 e 2018, encomendada pelo próprio arcebispo, concluiu que mais de 200 abusos sexuais de crianças aconteceram em Colônia. Foram mais de 300 vítimas, a maioria menor de 14 anos. No entanto, Woelki se recusou a divulgar ao público o relatório em 2020, citando problemas com sua metodologia.
Policiais realizaram busca em quatro propriedades da Igreja ligadas à arquidiocese em busca de documentos e emails ligados aos casos em 2023. Woelki já havia pedido sua renúncia a Francisco duas vezes até ali, uma em 2021 e outra em 2022, ambas negadas. Ele segue hoje à frente da Arquidiocese.
*Com informações de matérias publicadas em 27/04/2025, 22/04/2025 21/04/2025 e 21/04/2025 e Agência Brasil