Conclave: conheça os cardeais considerados favoritos ao posto de papa
Após o funeral do papa Francisco e poucos dias antes do início do novo conclave, nomes começam a despontar na disputa para o comando do Vaticano. Conheça alguns dos considerados favoritos pelos especialistas.
O que aconteceu
Nomes para a sucessão do papa Francisco começaram a ser aventados. Veículos especializados na cobertura do Vaticano trazem possibilidades que serão consideradas durante o conclave.
Seis nomes têm se repetido em diversas apostas. Robert Sarah, Péter Erdo, Matteo Maria Zuppi, Pietro Parolin, Jean-Marc Aveline e Luis Antonio Gokim Tagle são alguns dos nomes que mais se repetem.
O colégio de cardeais conta com 252 membros, sendo 135 eleitores. Dois já anunciaram que não irão votar por motivos de saúde - serão, então, 133 cardeais votantes. Entre eles, oficialmente, todos podem ser eleitos papas. Cardeais não votantes e outros religiosos também podem ser escolhidos, apesar de na história recente apenas cardeais terem sido eleitos.
Conheça 12 dos principais candidatos a papa
Cardeal Robert Sarah
Sarah tem pensamento ortodoxo e conservador. Sarah, de 79 anos, nasceu na Guiné e ocupa atualmente o cargo de Prefeito Emérito Da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina Dos Sacramentos, no Vaticano.
"Anti-woke" e favorito da extrema direita. O cardeal ganhou apoio ao redor do mundo ao defender que a igreja retorne aos seus princípios, evitando o "secularismo ocidental". Por isso, Sarah foi um grande opositor das reformas promovidas pelo papa Francisco.
O que o nazifascismo e o comunismo eram no século XX, as ideologias ocidentais homossexuais e o fanatismo islâmico são hoje.
Robert Sarah, ao New York Times, em 2014
Contra a imigração, homossexualidade e "ideologia de gênero". Em 2019, Sarah criticou o que considera o uso "da Palavra de Deus para promover a migração", por essa configurar uma "nova forma de escravidão". Sobre pessoas LGBTQIA+, Sarah já afirmou que são "sempre boas, por serem filhos de Deus", mas que a igreja deve lembrá-los que a homossexualidade "está em desacordo com a natureza humana". Ainda diz que relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são "gravemente pecaminosas e prejudiciais ao bem-estar daqueles que participam deles".
Popular nas redes sociais. Sarah tem 190 mil seguidores no X (antigo Twitter) e 98 mil seguidores no Facebook, além de dezenas de páginas dedicadas a ele criadas por apoiadores.
Em 1979, se tornou o mais jovem bispo do mundo. Aos 34 anos, foi escolhido o arcebispo de Conakry pelo papa João Paulo 2º. Sua consagração, em dezembro daquele ano, rendeu a ele o apelido de "bispo bebê".
Cardeal Pietro Parolin
Parolin é atual secretário de estado do Vaticano. O italiano de 70 anos teve curta carreira pastoral, se envolvendo com o Vaticano pouco após se formar. Ele foi nomeado ao cargo de secretário de estado pelo papa Francisco, em 2013.
Ex-diplomata da Santa Sé. Parolin já atuou em vários países e se tornou chefe das relações da Santa Sé com a China, Israel, Coreia do Norte e Vietnã - que possuem atritos históricos com o Vaticano.
Favorável a comunhão de divorciados e Igreja mais democrática. Apesar disso, é contra que mulheres sejam diaconisas e nunca se posicionou com firmeza sobre a benção a casais de mesmo sexo, dizendo que deve ser algo "fiel" à tradição e à herança da Igreja.
Favorito do ChatGPT. Uma análise elaborada pelo ChatGPT a pedido da emissora francesa BFMTV apontou que Parolin tem 27,6% de chance de se tornar papa. Segundo a inteligência artificial, ele é o candidato com maior possibilidade de manter uma continuidade com o pontificado de Francisco.
Relação com maçons. Parolin tinha relações amigáveis com maçons desde 2002, segundo testemunho do Grão-Mestre do Grande Oriente da Itália, Giuliano Di Bernardo. Em 2019, ele disse que ajudou Parolin a resolver um problema que teve com o governo chinês alguns anos antes. Não se sabe se o cardeal ainda tem relação com maçons.
Cardeal Luis Tagle
Filipino de 67 tem ideais mais progressistas. Antes arcebispo de Manila, Luis Tagle foi convidado em 2019 pelo papa Francisco a viver em Roma e ocupar o cargo de Pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização - o que faz até hoje.
Foi chamado de "Francisco asiático". Bergoglio elevou Tagle à posição de bispo-cardeal em 2020, indicando que ele poderia ser um possível sucessor ao papado. Assim como ele, Tagle possui extenso treinamento teológico e histórico, e mantém posições parecidas sobre os futuros rumos da Igreja Católica.
Defensor de ecologia e contra "palavras duras" a fiéis LGBTQIA+. Tagle também se posiciona a favor da comunhão de divorciados, mas acredita que isso deve ser analisado "caso-a-caso".
Apesar de ideais liberais, é contra direito ao aborto e contracepção. Tagle chamou o aborto de "uma forma de assassinato" e defende que a igreja tome posições firmes contra leis que permitem a prática.
Cardeal Péter Erdó
Erdó, de 72 anos, é arcebispo de Budapeste desde 2003. Ele foi indicado ao cargo pelo papa João Paulo 2º, e à época de sua nomeação, era um dos mais jovens cardeais, com 51 anos.
Erdó mantém visões liturgicamente conservadoras. Ele se posiciona contra a comunhão de divorciados e fiéis que casaram novamente, contra a benção de casais do mesmo sexo e contra o uso de métodos anticoncepcionais pelos fiéis. Ele também nega o universalismo - crença de que todas as pessoas estão salvas.
Visão sobre imigração e islamismo é equilibrada. O húngaro vê a imigração como um direito dos indivíduos, mas também vê perigo em integrar refugiados em países sem danificar a estabilidade política local.
"Intelectual" religioso. Erdó é fluente em seis línguas: inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e húngaro. Ele foi professor universitário, reitor da Faculdade Húngara em Roma e pesquisador da Universidade de Berkeley, na Califórnia. Além disso, já publicou mais de 250 artigos e 25 livros.
Cardeal Malcolm Ranjith
Ranjith, de 77 anos, é único cardeal do Sri Lanka. Ele possui tanto experiência pastoral como em governança, ocupando atualmente o cargo de arcebispo de Colombo.
Cardeal mantém posições conservadoras. O Sri Lanka é um país tradicionalista, e talvez por isso Ranjith nunca tenha precisado se posicionar sobre questões como casamento entre pessoas de mesmo sexo e eutanásia. Entretanto, já chamou a homossexualidade de "defeito".
Ranjith tinha boa relação com papa Francisco, com quem compartilhava preocupação com pobres. Entretanto, diferia dele em algumas questões: se disse favorável à pena de morte em alguns casos e ao retorno "à verdadeira liturgia da Igreja", contrariando reformas promovidas pelo antigo papa.
Fluente em dez línguas. Ranjith fala italiano, alemão, francês, hebraico, grego, latim, espanhol, inglês, cingalês e tâmil.
Cardeal Anders Arborelius
Arborelius, de 75 anos, é o arcebispo de Estocolmo. Ele ocupa a função desde 1998, quando foi indicado pelo papa João Paulo II. Ele é considerado o católico mais proeminente da Suécia, tendo servido como seu único Ordinário por quase 30 anos.
Apontado por papa Francisco como "modelo". Em 2022, o antigo papa disse o seguinte sobre Arborelius: "Ele não tem medo de nada. Conversa com todos e não se opõe a ninguém. Ele sempre busca o positivo. Acredito que uma pessoa como ele pode indicar o caminho certo a seguir".
Converteu-se ao catolicismo somente aos 20 anos. Arborelius foi criado luterano, mas teve contato com vários católicos durante sua juventude. Após passar um ano e meio estudando a religião, afirmou que "a verdade lhe foi dada através da fé católica".
Cardeal é contra transformar celibato em opção para padres. Além disso, se opõe que mulheres sejam diaconisas e ao uso de contraceptivos, enquanto aprova que a Igreja se preocupe com as mudanças climáticas e promova mudanças pela sua democratização.
Cardeal Matteo Zuppi
Zuppi, de 69 anos, é arcebispo de Bologna. O italiano foi indicado ao cargo pelo papa Francisco, em 2015, que também o nomeou para ser cardeal, em 2019. Hoje, também ocupa o cargo de chefe da Comissão Episcopal Italiana.
Pertence à ala progressiva no Vaticano. Ele vê como necessárias as reformas na Igreja Católica, promovendo democratização e revisão de medidas milenares, como a de que divorciados não podem comungar. Disse mesmo que a fé em Deus não é sempre necessária para a salvação, e que há "atos notáveis de altruísmo" entre os que não acreditam.
Aprova relações homoafetivas. Zuppi defende que a Igreja não discrimine contra pessoas LGBTQIA+, e mesmo que elas sejam acolhidas dentro da instituição. Ele foi um dos maiores apoiadores da decisão de Papa Francisco de permitir bençãos a casais do mesmo sexo.
A favor da "misericórdia". Zuppi acredita que a Igreja Católica deve "ouvir novamente as muitas questões do mundo", enquanto "rejeita o ódio", gerando "solidariedade autêntica", abraçando o pluralismo religioso e a "fraternidade", e indo às periferias para ajudar os pobres e os marginalizados.
Realizou rezas multirreligiosas. Em Bologna, Zuppi já organizou momentos de reza com a comunidade islâmica local. Membros das duas religiões são convidados a participar da missa, e então a ir a uma mesquita para conversar com muçulmanos. "O diálogo não é uma perda de identidade", diz ele.
Casou maçom conhecido na Itália. Zuppi é próximo do maçom italiano Gioele Magaldi, que fundou a obediência maçônica progressista "Grande Oriente Democratico". Em 2010, Magaldi disse que "conhecia o mundo do Vaticano bem" e que estimava Zuppi. "Ele seria um excelente Papa", disse.
Cardeal Pierbattista Pizzaballa
Pizzaballa, de 60 anos, é patriarca de Jerusalém. Ele é o segundo papável mais jovem e se tornou cardeal há somente 2 anos, nomeado pelo papa Francisco.
Cardeal se ofereceu como refém para o Hamas. Depois que o grupo extremista capturou centenas de reféns em nos ataques de 7 de outubro de 2023, Pizzaballa se mostrou pronto para se entregar como refém em troca da liberdade de crianças israelenses. Ele classificou as ações dos membros do Hamas como "bárbaras" e as condenou, pedindo paz na região.
Religioso também pediu fim de ocupação israelense em Gaza. Ele foi um dos signatários da "Declaração sobre a crescente crise humanitária em Gaza", que condenava ataques a civis e o bloqueio israelense sobre a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Em visita a Belém em 2023, ele vestiu um keffiyeh - lenço preto e branco simbólico para os palestinos.
Pizzaballa mantém posição equilibrada. O cardeal possui visão relativamente conservadora, mas vê que a Igreja pode se abrir ao presente. Como o papa Francisco, ele acredita que a Igreja deve estar aberta a todos, mas ressalta que "não deve pertencer a todos". Como ele é cardeal há pouco tempo, nunca se posicionou com veemência aos principais pontos de discussão da Igreja.
Cardeal Fridolin Ambongo Besungu
Arcebispo de Kinshasa tem 65 anos. Nascido na República Democrática do Congo, Besungu foi nomeado cardeal em 2019 pelo papa Francisco, e apontado como membro do Conselho de Cardeais no ano seguinte. Atualmente, também é presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar.
Envolvimento em política. Besungu se descreve como um "sentinela", mantendo posição crítica contra o atual governo da República Democrática do Congo. No início do ano passado, ele foi acusado de "comportamento sedicioso que leva a atos criminosos" por um promotor público após criticar a atuação do governo sobre a segurança do país e a posição do Poder Judiciário sob uma suposta má gestão de fundos do executivo. O processo foi derrubado no mês seguinte.
Preocupação com justiça social. Seus discursos políticos se aproximam também de questões relevantes no mundo moderno, como o anticolonialismo e imigração.
Papável possui visões liberais e conservadoras. Enquanto rejeita a benção a casais homossexuais e a opção pelo celibato para padres, defende maior democratização da Igreja e preocupação da instituição com as mudanças climáticas.
Enfrentou papa Francisco. Depois que o papa permitiu a benção a casais do mesmo sexo, Besungu escreveu uma carta a ele rejeitando a medida, sob o argumento de que essas bênçãos "não podem ser realizadas na África sem expô-los [os casais] a escândalos". Ele ainda defendeu que forçar esse tipo de benção na cultura africana seria semelhante a uma "colonização cultural". Em outra oportunidade, classificou uniões homossexuais como "intrinsecamente más".
Cardeal Willem Eijk
Arcebispo Metropolitano de Utrecht tem 71 anos. O cardeal holandês Willem Eijk tem doutorado em medicina, mas mantém a religião como sua ocupação principal. Ele foi nomeado cardeal em 2012, pelo papa Bento 16.
Eijk tem visão ortodoxa sobre futuro da Igreja. Ele é contra a presença de meninas coroinhas, tornar opcional o celibato para padres, uso de anticoncepcionais para fiéis e contra a benção para casais homossexuais. Em entrevista, ele disse que relações LGBTQIA+ são "contrárias a ordem de criação de Deus".
Rejeita comunhão para divorciados. Em 2015, chegou a dizer que casais divorciados que entram com pedidos para casamentos sem terem as primeiras uniões anuladas representam "uma forma de adultério estruturado e institucionalizado". Ele defendia que o papa deixasse claro que o casamento é "único e inquebrável", e que católicos que casam novamente após divórcios não possam comungar.
Removeu ajudante transgênero de paróquia. Apesar das reclamações dos diretores da paróquia de Norbertus, Eijk ordenou a expulsão de Rhianna Gralike, que atuava como tesoureira da paróquia. Isso gerou protestos por membros da Igreja, que não sabiam que ela havia realizado uma transição de gênero.
Cardeal Charles Bo
Bo, arcebispo de Yangon, tem 76 anos. O religioso, nascido em uma vila no Mianmar, vem de uma família pobre com 10 filhos. Ele foi nomeado cardeal em 2015 pelo papa Francisco, que também o convidou para representá-lo em várias ocasiões.
Conviveu bastante no Vaticano. Bo participou da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, do Pontifício Conselho para a Cultura, e em 2016 se tornou membro da Secretaria de Comunicações do Vaticano. Em 2018, o papa Francisco o nomeou delegado ao Sínodo dos Bispos sobre juventude, fé e discernimento vocacional.
Bo possui posição ortodoxa. Apesar disso, o cardeal é favorável à democratização da Igreja, preocupação com meio ambiente e que divorciados possam comunhar, posições tidas como liberais entre os religiosos.
Gosta de futebol e basquete. O cardeal teria o costume de praticar esses esportes com outros padres e religiosos.
Cardeal Jean-Marc Aveline
Aveline, de 66 anos, é arcebispo de Marselha, na França, e teve que emigrar da Argélia quando criança. Aveline nasceu em uma família francesa na Argélia, então colônia do país europeu. O cardeal, então com quatro anos, teve que deixar o país natal depois que este ganhou independência da França, em 1962. Ele afirma que essa experiência o fez mais consciente sobre imigrantes e exilados.
Diretor de uma comunidade com relatos de abusos. O argelino é há muito tempo o diretor espiritual da comunidade Emmanuel, fundada em 1972, na qual abusos têm sido repetidamente relatados.