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Com apelo por paz, funeral de Francisco reúne políticos e milhares de fiéis

Fabíola Perez e Janaina Cesar
do UOL

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Roma

26/04/2025 15h32

O papa Francisco foi sepultado hoje após uma missa e um cortejo marcados pela presença de autoridades de todo o mundo e milhares de fiéis, sob aplausos e apelos por paz e defesa de imigrantes. A partir de amanhã, a sepultura na basílica Santa Maria Maggiore, em Roma, poderá ser visitada pelo público.

O que aconteceu

Cerimônia fúnebre durou cerca de duas horas e começou pouco depois das 5h (horário de Brasília). A praça de São Pedro, na cidade do Vaticano, ficou lotada de fiéis que se reuniram para prestar as últimas homenagens ao religioso. O Vaticano estimou a presença de 250 mil pessoas. Já o ministro do interior da Itália, Matteo Piantedosi, disse que 400 mil pessoas se reuniram para o adeus ao papa.

Presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, que era próximo de Francisco, a missa, acabou sendo usada para renovar apelos passados do papa pela paz. Re destacou o papel do pontífice argentino em defesa dos imigrantes. "A guerra é somente morte de pessoas, destruição de casas, de hospitais e escolas. A guerra deixa sempre o mundo pior que antes", disse o cardeal, que foi aplaudido pelos fiéis.

Multidão lota praça de São Pedro, no Vaticano, durante missa funeral do papa Francisco - Remo Casilli/Reuters - Remo Casilli/Reuters
Multidão lota praça de São Pedro, no Vaticano, durante missa funeral do papa Francisco
Imagem: Remo Casilli/Reuters

Frase de Francisco foi relembrada em fala de cardeal. Em 2016, o papa disse que é necessário "construir pontes, não muros" quando Trump, em seu primeiro mandato, anunciou que construiria um muro entre EUA e México.

Re afirmou que o papa trilhou o "caminho da paz" até em seus momentos de dificuldade. "Apesar de sua fragilidade e sofrimento finais, o papa Francisco escolheu trilhar esse caminho de doação até o último dia de sua vida terrena", disse o cardeal. O religioso decano lembrou ainda de uma viagem feita pelo papa aos Emirados Árabes em 2019 em prol da paz e lembrou que Francisco "levantou incessantemente a sua voz" contra a guerra.

Brasileira Bianca Fraccalvieri foi responsável pela leitura em português da Oração Universal, conhecida como Oração dos Fiéis ou Preces, durante a missa. A jornalista é coordenadora das redes sociais do Vaticano e estava à frente de uma equipe de brasileiros dedicados aos detalhes finais do funeral do papa.

Francisco foi o primeiro pontífice das Américas. Ele liderou a Igreja por 12 anos e morreu na última segunda-feira, aos 88 anos. Após três dias de velório, o caixão de madeira com o corpo do papa foi inicialmente levado para a praça de São Pedro, no Vaticano. Para o cardeal Re, a decisão de Jorge Bergoglio de adotar o nome Francisco "manifestou-se logo como a escolha do programa e do estilo em que queria basear o seu pontificado, procurando inspirar-se no espírito de São Francisco de Assis".

Conservou o seu temperamento e a sua forma de orientação pastoral, imprimindo de imediato a marca da sua forte personalidade no governo da Igreja, estabelecendo um contato direto com cada pessoa e com as populações, desejoso de ser próximo a todos, com uma atenção especial às pessoas em dificuldade, gastando-se sem medida, em particular pelos últimos da terra, os marginalizados. Cardeal Giovanni Battista Re em sua homilia

O presidente dos EUA, Donald Trump, a primeira-dama Melania Trump (à direita), o presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte Macron (à esquerda) assistem enquanto o caixão do papa Francisco é carregado durante sua missa de funeral na praça de São Pedro, no Vaticano - Dylan Martinez/Reuters - Dylan Martinez/Reuters
O presidente dos EUA, Donald Trump, a primeira-dama Melania Trump (à direita), o presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte Macron (à esquerda) assistem enquanto o caixão do papa Francisco é carregado durante sua missa de funeral na praça de São Pedro, no Vaticano
Imagem: Dylan Martinez/Reuters

Chefes de Estado e 'convidados de honra'

Cerca de 50 chefes de Estado e 10 monarcas estiveram presentes. De acordo com o Vaticano, foram 130 delegações estrangeiras. Entre eles, estavam o presidente Lula (PT) e a primeira-dama Janja, os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e dos Estados Unidos, Donald Trump, a primeira-dama dos EUA, Melania Trump, o presidente francês, Emmanuel Macron e a esposa Brigitte Macron. Também compareceram o presidente da Argentina, Javier Milei, a ex-presidente Dilma Rousseff, o chanceler federal alemão Olaf Scholz e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Acompanhado da primeira-dama Janja, o presidente Lula afirmou esperar que próximo papa seja igual a Francisco. "Francisco foi o líder religioso mais importante do primeiro quarto desse século. Ele era mais do que um papa, se preocupava com as guerras, a fome e as questões que afligem o povo no mundo inteiro. Quisera Deus que o próximo papa seja igual a ele, com os mesmos compromissos religiosos e de combate à desigualdade", afirmou o brasileiro.

Trump e Zelensky apareceram juntos em foto de "reunião histórica" na basílica de São Pedro durante o funeral. Nas redes sociais, Zelensky afirmou que reunião com Trump no Vaticano "tem potencial para se tornar histórica". "Boa reunião. Discutimos muito, um a um. Esperando resultados em tudo o que abordamos. Proteger a vida de nosso povo. Cessar-fogo total e incondicional", escreveu. No momento, Trump pressiona o ucraniano a reconhecer o controle russo da Crimeia. Esse também foi o primeiro encontro entre os dois desde a tensa reunião na Casa Branca em fevereiro.

Vaticano decidiu que 40 pessoas seriam os "convidados de honra de Francisco". O grupo representou os mais vulnerabilizados da sociedade e tiveram lugar de destaque na cerimônia de adeus. O gesto foi visto como um recado aos líderes mais poderosos do mundo como um ato de coerência do pontificado. Entre os escolhidos, estavam refugiados de diversas regiões, sem-tetos e crianças

Papamóvel leva o caixão com o corpo de Francisco em cortejo até Santa Maria Maggiore - Kevin Coombs - 26.abr.25/Reuters - Kevin Coombs - 26.abr.25/Reuters
Papamóvel leva o caixão com o corpo de Francisco em cortejo até Santa Maria Maggiore
Imagem: Kevin Coombs - 26.abr.25/Reuters

Cortejo e sepultamento

Telões foram instalados na praça de São Pedro para facilitar o acompanhamento do público. Concelebrantes utilizaram vestes litúrgicas vermelhas, cuja cor simboliza o sangue dos mártires e o Espírito Santo.

Papamóvel com estrutura transparente deixou a praça de São Pedro, no Vaticano, e seguiu em direção a basílica Santa Maria Maggiore, em Roma. O cortejo durou cerca de 30 minutos, e o veículo transitou por diversos pontos simbólicos da cidade, como o Coliseu.

O caixão de Francisco foi recebido nos degraus da basílica de Santa Maria Maggiore por um grupo de 40 pessoas formado, segundo a Igreja, por "pessoas pobres e marginalizadas", que seguravam rosas brancas.

O sepultamento do papa Francisco ocorreu às 13h30 no horário local (8h30 em Brasília) numa cerimônia fechada. Ela foi presidida pelo cardeal camerlengo Kevin Farrell e teve a presença de familiares do argentino. A duração do encontro foi de 30 minutos, segundo o Vaticano.

Este foi o primeiro sepultamento de um pontífice fora do Vaticano desde Leão 13 em 1903. Sepultura está localizada entre a capela Paulina (capela da Salus Populi Romani) e a capela Sforza, próxima ao Altar de São Francisco.

Francisco pediu que a sepultura fosse "no chão, sem decoração especial". Feita de mármore da Ligúria, o túmulo tem apenas a inscrição "Franciscus", a versão latina do nome que ele escolheu, e a reprodução de sua cruz peitoral, como pedido pelo argentino em seu testamento.

Sepultamento do caixão do papa Francisco na basílica de Santa Maria Maggiore - Vatican Media/AFP - Vatican Media/AFP
Sepultamento do caixão do papa Francisco na basílica de Santa Maria Maggiore
Imagem: Vatican Media/AFP

Período de luto e conclave

Começou hoje um período de nove dias de luto conhecido como Novendiales. Nesta fase haverá missas e homenagens na basílica de São Pedro até 4 de maio para homenagear o pontífice.

Amanhã, uma missa será realizada às 10h30 [horário local] na praça de São Pedro. A cerimônia será presidida pelo cardeal Pietro Parolin, e o grupo de presentes terá funcionários e fiéis do Vaticano.

Visitação ao túmulo pelo público começa amanhã às 7h [horário local]. No domingo à tarde, todos os cardeais também irão à basílica para visitar o túmulo de Francisco. Eles também irão à capela do ícone da Salus (obra que representa a Madona com o Menino) e celebrarão, juntos, as vésperas, e às 18h retornarão ao Vaticano.

Conclave deve ser convocado após o dia 4 de maio. Decorrido o prazo de nove dias, o conclave dos cardeais eleitores pode ser convocado para escolher um sucessor, num prazo que não poderá exceder os 20 dias a contar da morte do papa. Dessa forma, o provável é que o processo de escolha do sucessor comece entre 5 e 10 de maio.

Decisão a portas fechadas. A palavra conclave vem da junção dos vocábulos em latim "cum" (com) e "clavis" (chave), ou seja, uma sala fechada à chave.

Cardeais ficam proibidos de ter contato com o mundo externo. Cardeais do mundo todo se reunirão em uma assembleia secreta na capela Sistina, no Vaticano, sob regras rígidas que começaram a ser desenvolvidas no século 13. O seleto grupo de eleitores fará um juramento em que promete manter segredo sobre a votação e ficará proibido de ter contato com o mundo externo.

É difícil prever a duração da eleição. O caráter reservado da reunião dificulta uma previsão sobre a duração do pleito, mas a escolha de Jorge Bergoglio para o papado, em 2013, aconteceu pouco mais de 24 horas do início dos rituais. No conclave mais longo da história recente, em 1922, a decisão final demorou 5 dias.

Como funciona o conclave - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

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