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ONU pede "máxima contenção" à Índia e ao Paquistão após escalada do conflito na Caxemira

25/04/2025 10h54

A ONU apelou à "máxima contenção" por parte da Índia e do Paquistão, envolvidos em uma escalada de tensões desde um ataque ocorrido na terça-feira na Caxemira. Na região fronteiriça, disputada pelas duas potências nucleares, houve troca de tiros na manhã de sexta-feira.

Dos dois lados da Linha de Controle (LoC, do inglês "line of control"), a fronteira de fato na Caxemira, a tensão aumenta entre Islamabad e Nova Delhi ? que acusa o vizinho de envolvimento no atentado que matou 26 civis em Pahalgam.

Na sexta-feira, o exército indiano destruiu com explosivos duas casas, supostamente pertencentes às famílias dos autores do ataque. Por sua vez, o Senado paquistanês aprovou por unanimidade uma resolução que "rejeita" as acusações "infundadas" da Índia e "alerta" que o Paquistão está "pronto para se defender".

Antes do amanhecer, ocorreram trocas de tiros "de posto a posto no vale de Leepa", na LoC da Caxemira. Os disparos "não foram dirigidos à população civil e a vida segue normalmente, com as escolas abertas", segundo Syed Achfaq Gilani, alto funcionário da administração da Caxemira paquistanesa.

O exército indiano confirmou os tiros com armas leves, supostamente iniciados pelo Paquistão, aos quais "respondeu de forma eficaz".

Desde terça-feira, os governos de Nova Dheli ? liderado por nacionalistas hindus ? e Islamabad, que já travaram três guerras desde a dolorosa divisão em 1947, mergulharam em uma espiral de medidas punitivas e retaliatórias, numa dinâmica de "olho por olho".

Em 2019, após um ataque mortal contra um comboio de militares indianos, os dois países também haviam trocado disparos.

"Horas mais sombrias"

Muitos especialistas antecipam uma resposta militar por parte de Nova Delhi. Segundo Praveen Donthi, do International Crisis Group (ICG), o atentado na Caxemira ? ainda não reivindicado ? "vai levar as relações entre os dois países de volta às suas horas mais sombrias".

Diante disso, a ONU defende uma "resolução pacífica".

"Pedimos aos dois governos a máxima contenção e que garantam que a situação não piore", declarou na noite de quinta-feira o porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric.

Tanto Nova Delhi quanto Islamabad tentam satisfazer uma opinião pública inflamada por uma mídia ávida em culpar o vizinho por cada incidente, enquanto ambos se acusam mutuamente pela escalada.

Na sua primeira declaração pública após o ataque ? que segundo a polícia indiana foi cometido por ao menos três atiradores nas encostas do Himalaia ? o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, não poupou palavras.

"A Índia identificará, perseguirá e punirá os terroristas e aqueles que os apoiam até os confins da Terra", prometeu ele na quinta-feira.

Diversos líderes estrangeiros expressaram suas condolências, e os Estados Unidos afirmaram estar "ao lado da Índia".

"Guerra total"

Na quarta-feira, o ministro da Defesa da Índia, Rajnath Singh, ameaçou com represálias "aqueles que organizaram isso em segredo", apontando implicitamente para o Paquistão.

O ministro da Defesa do Paquistão respondeu na sexta-feira, em entrevista ao canal Sky News. "Nós vamos responder, ajustaremos nossa resposta de acordo com o que a Índia fizer (...) é possível que uma guerra total comece repentinamente, e isso terá consequências graves", ameaçou Khawaja Asif.

Na quarta-feira, a Índia iniciou a aplicação de sanções, com medidas amplamente simbólicas como a suspensão de um tratado sobre o compartilhamento das águas do Indo, o fechamento do principal posto fronteiriço terrestre e a expulsão de diplomatas.

Após uma rara reunião do seu Comitê de Segurança Nacional, o Paquistão retaliou com medidas correspondentes a cada sanção imposta.

A suspensão do tratado sobre as águas do rio Indo significa que a Índia pode exercer um impacto significativo sobre o controle das águas dos rios, construindo, por exemplo, mais barragens do seu lado ou mais canais que desviem as águas do rio antes que entrem em território paquistanês, explica a correspondente da RFI em Islamabad, Sonia Ghezali.

Isso pode ter um efeito determinante na gestão agrícola do Paquistão, um país na linha de frente das mudanças climáticas, que enfrenta regularmente inundações e sofre com episódios recorrentes de seca.

Jihadistas

A polícia indiana divulgou retratos falados de dois cidadãos paquistaneses, apresentados como membros do grupo Lashkar-e-Taiba (LeT), sediado no Paquistão.

Esse grupo é suspeito de estar por trás dos ataques jihadistas que mataram 166 pessoas na megalópole indiana de Mumbai, em 2008.

A Caxemira foi dividida entre a Índia e o Paquistão após a independência, em 1947, do Reino Unido. Desde então, ambos reivindicam soberania sobre todo o território.

Desde 1989, os combates entre insurgentes separatistas e tropas indianas já causaram dezenas de milhares de mortes.

Na quinta-feira, mais um soldado foi morto em um confronto em Basantgarh, informou o exército indiano.

(com AFP)

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