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Cármen Lúcia vota, e STF mantém pena de cabeleireira em 14 anos de prisão

do UOL

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

25/04/2025 11h20Atualizada em 25/04/2025 18h20

A Primeira Turma do Supremo formou maioria hoje para condenar a cabeleireira Débora Santos, que pichou "perdeu, mané" em uma estátua no 8 de Janeiro, a 14 anos de prisão. Os ministros Luiz Fux e Cristiano Zanin ficaram vencidos na proposta de uma pena menor.

O que aconteceu

Placar ficou em 5 a 0 pela condenação. Fux, que havia pedido vista, votou apenas pela condenação pelo crime de "deterioração de patrimônio tombado" e definiu a pena em um ano e seis meses de reclusão, tempo inferior ao que Débora já ficou em prisão preventiva.

Defesa de Débora diz que vai recorrer da decisão. Após o resultado, o advogado Hélio Júnior disse que "a condenação, baseada em premissas que desconsideram a ausência de provas individualizadas, será objeto de recurso oportuno, tendo em vista que não se comprovou qualquer conduta violenta ou adesão voluntária a atos de vandalismo ou golpe de Estado".

Para Fux, confissão reduz pena. O ministro considerou a confissão de prática delituosa por parte de Débora como um atenuante e defendeu que ela também deve pagar pela limpeza da estátua "A Justiça", que fica em frente ao STF.

Zanin acompanhou Moraes, mas propôs pena de 11 anos. Segundo a votar hoje, ele concordou com o relator quanto aos cinco crimes cometidos por Débora e destacou que a ré agiu em "plena adesão" aos atos de desmonte institucional, mas divergiu na dosimetria das penas. Em sua análise, o total da pena para a cabeleireira seria de 11 anos e 6 meses de prisão. Ele ainda avaliou como um "equívoco" a unificação de todos os delitos em uma única "pichação".

Moraes votou pela condenação dela a 14 anos de prisão. Ele foi seguido por Flávio Dino e Cármen Lúcia, dando maioria. Ela foi condenada pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.

As penas de cada ministro

  • Moraes, Dino e Cármen: 14 anos de prisão
  • Zanin: 11 anos de prisão
  • Fux: um ano e seis meses

Após voto de Fux, Moraes complementou o seu voto, afirmando que caso de Débora não difere dos outros. O ministro destacou confissão da cabeleireira e falou sobre como ela agiu para destruir provas. Moraes disse que ela confirmou sua participação no ato para a PF ao ser interrogada na ação penal. Além disso, ele destacou que o aparelho celular dela, apreendido pela PF, estava sem registros de conversas de WhatsApp entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, indicando que ela teria destruído provas.

Julgamento fica aberto até maio. Mesmo com todos os cinco votos apresentados, o julgamento no plenário virtual só será encerrado no dia 6 de maio. Com isso, o resultado oficial só sairá após essa data.

Débora se tornou símbolo dos bolsonaristas que defende a anistia dos golpistas. Coletivos de familiares dos presos pelo 8 de Janeiro utilizam o caso da cabeleireira para reajustar penas e pedir anistia para os golpistas. "Esse voto histórico abre precedente para que outros ministros também ponderem sobre a individualização das condutas", pontuou o advogado Hélio Júnior, que defende presos pelo 8 de Janeiro.

Diante da fragilidade da decisão, tomaremos todas as medidas cabíveis no âmbito recursal, inclusive com a interposição de embargos e eventual acesso às instâncias internacionais, se necessário.
Hélio Júnior, que defende Débora Santos

Débora vandalizou a estátua da Justiça com a frase "perdeu, mané"  - Reprodução - Reprodução
Picharam "perdeu, mané" na estátua da Justiça em frente ao STF
Imagem: Reprodução

Cabeleireira cumpre prisão domiciliar

Débora estava presa desde março de 2023. Moraes determinou, no final de março, que ela fosse para prisão domiciliar após manifestação favorável da PGR (Procuradoria-Geral da República).

Moraes impôs condições. Ela ficará em casa com a família enquanto aguarda o fim de seu julgamento por participação nos atos golpistas. Tem de usar tornozeleira eletrônica e está proibida de usar as redes sociais e de dar entrevistas sem autorização do STF.

Na prática, mesmo que seja condenada, ela não deve voltar à prisão. Em sua decisão, Moraes entendeu que o tempo que ela cumpriu na cadeia e o comportamento dela permitem a remissão de tempo de sua eventual pena. O ministro levou em conta o fato de ela já estar há mais de dois anos presa, de ter apresentado bom comportamento na cadeia, ter trabalhado e ter sido aprovada no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) neste período.

08.01.2023 - Débora Santos picha a estátua da Justiça, na praça dos Três Poderes, com a frase 'perdeu,mané' - Gabriela Biló/Folhapress - Gabriela Biló/Folhapress
08.01.2023 Manifestante identificada como Débora Santos picha a estátua da Justiça, na praça dos Três Poderes, com a frase 'perdeu,mané'
Imagem: Gabriela Biló/Folhapress

Obra pichada foi avaliada pelo STF entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. "A Justiça" é uma das principais obras do artista mineiro Alfredo Ceschiatti.

Ela escreveu "Perdeu, mané" na estátua, em referência a uma fala do presidente do STF, Luís Roberto Barroso. O magistrado respondeu a um manifestante bolsonarista com essa frase ao ser abordado na rua, durante uma viagem a Nova York, em novembro de 2022.

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