Suspeito de matar estudante da USP agiu sozinho, diz polícia

A Polícia Civil de São Paulo acredita que o suspeito de matar a estudante da USP Bruna Oliveira da Silva, 28, na zona leste de São Paulo, agiu sozinho. Esteliano José Madureira, 43, foi encontrado morto ontem com sinais de tortura.
O que aconteceu
Suspeito não conhecia a jovem. Segundo a polícia, ele atacou a estudante de forma aleatória. "Pelas imagens, ele agiu sozinho. Foi [um crime] aleatório. A gente pegou as imagens dela saindo do metrô e vimos que ela não é seguida. Ninguém saiu de lá seguindo a Bruna", explicou o delegado Alexandre Menechini, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Esteliano abordou Bruna enquanto ela voltava para casa. A estudante passava por uma calçada na avenida Sport Clube Corinthians, em Itaquera, zona leste da capital, quando foi surpreendida pela abordagem. Ela tenta resistir, mas é agarrada. A polícia suspeita de que ele a levou para o local onde a mulher foi morta.
Suspeito morava em uma comunidade a 300 metros de onde o corpo da jovem foi encontrado. Segundo a polícia, ele era usuário de drogas e conhecido na região como "Mineiro".
Bruna pode ter sido vítima de violência sexual. A polícia aguarda o laudo do Instituto Médico Legal para a confirmação. "A gente acredita na hipótese de ela ter sofrido violência sexual. A forma como o crime foi cometido indica também que ele conhecia bem a região, por isso que se sentiu confortável em cometer o crime naquele horário", disse o delegado Alexandre Menechini.
Suspeito foi encontrado morto
Esteliano José Madureira foi encontrado morto ontem com sinais de tortura. O corpo dele, identificado apenas na manhã de hoje, tinha mais de 10 perfurações no tórax, cintura, costas, nuca e região anal, provavelmente provocadas por faca. Ele também estava com as pernas amarradas por um pano.
Vítima do tribunal do crime. Nenhuma hipótese sobre a morte do suspeito está descartada, mas a principal linha de investigação da polícia é de que ele foi assassinado por criminosos. "A gente acredita que ele tenha sido vítima desse tribunal do crime, principalmente pela forma como corpo foi encontrado e desovado naquele local", afirmou o delegado Rogério Thomaz, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Polícia apura se suspeito foi morto na terça-feira (22), já que teria sido levado de sua casa até Paraisópolis, na zona sul. "Informações preliminares dão conta de que ele teria sido arrebatado na região que ele morava, na comunidade da Prainha, na zona leste, levado primeiro para outra comunidade, que deve ser a Cohab José Bonifácio, e depois levado para o interior de Paraisópolis", afirmou o delegado Thomaz.
Morte do suspeito será investigada. Ainda segundo o delegado Thomaz, o crime será investigado e a polícia já trabalha para localizar câmeras de segurança perto de onde o corpo dele foi encontrado, na avenida Morumbi, na zona sul de São Paulo. O local fica a pouco mais de 30 quilômetros da região do Terminal de ônibus do metrô de Itaquera, na zona leste, onde aconteceu o assassinato de Bruna. "Não vamos tolerar a existência de um estado paralelo", afirmou o delegado Rogério Thomaz.
Homem mudou comportamento após crime
Esteliano mudou o comportamento após matar Bruna, de acordo investigação. Moradores que viviam na mesma comunidade que ele, também em Itaquera, contaram à polícia que o homem aparentava estar nervoso, trocou de roupa, algo que não costumava fazer, e fez a barba.
Polícia encontrou casa do suspeito. No local, o delegado Thomaz ressaltou que nada de relevante foi encontrado para a investigação. "A única coisa que encontramos foi um RG de uma mulher, produto do furto de um veículo em dia de jogo no estádio do Corinthians", disse.
Segundo a polícia, é falsa a informação de que foram encontradas peças íntimas na residência. Esteliano era considerado foragido. A Justiça havia decretado na noite de ontem a prisão temporária dele por 30 dias.
Como a polícia chegou ao suspeito
Imagens de câmeras de segurança e depoimento de moradores. Segundo a polícia, o suspeito foi identificado por imagens de câmeras de segurança, que mostram ele saindo da comunidade onde vivia e indo ao encontro de Bruna, de forma aleatória. "Moradores viram as imagens e também identificaram que seria o Mineiro nas imagens", contou o delegado.
"Quando a gente começou a coletar as imagens da Bruna saindo do metrô, começamos a percorrer todo o caminho dela. Foi aí que encontramos o momento exato que ela é arrebatada por ele. Com essa imagem, consultamos câmeras do entorno e descobrimos que um indivíduo com a mesma roupa e biotipo saía da comunidade da Prainha. No domingo mesmo começamos a fazer o trabalho de campo de forma velada", detalhou o delegado Alexandre Menechini.
Esteliano tinha antecedentes criminais por roubo. "Cometeu pequenos delitos", disse Menechini.
Relembre o caso
Bruna desapareceu no dia 13 abril. Ela saiu da casa do namorado no bairro do Butantã, na zona oeste da capital, e estava indo para casa, em Itaquera, na zona leste da cidade. Com a bateria do celular acabando, parou em uma banca de jornal para recarregar o aparelho e enviou uma mensagem a familiares pedindo dinheiro para pegar um carro por aplicativo, segundo o boletim de ocorrência. Ela deixou de responder mensagens minutos depois, por volta das 22h30.
Vídeo mostra a estudante saindo do terminal de ônibus do metrô Itaquera. Ela caminha em direção à rua e atravessa a faixa de pedestres correndo. Pelo horário registrado no arquivo, Bruna deixou o local e desapareceu minutos depois.
"Morreu do que mais temia", disse a mãe de Bruna. Após reconhecer o corpo da filha, Simone da Silva disse a jornalistas, do lado de fora do Instituto Médico Legal, que a estudante lutava pelo fim da violência contra a mulher. "Morreu como ela mais temia, como eu mais temia. Que peguem essa pessoa, porque essa pessoa está solta e vai matar mais", afirmou.
Quem era Bruna?
Era formada em turismo pela USP e fazia mestrado. Bruna completou a graduação em 2018 pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, na USP Leste. Ela tinha ingressado havia poucos meses no mestrado em Mudança Social e Participação Política, também na Universidade de São Paulo. O objetivo era seguir com a pesquisa realizada em seu trabalho de conclusão de curso sobre um time de várzea sediado debaixo do Viaduto Alcântara Machado e formado por pessoas em situação de rua.
Bruna tinha um filho de 7 anos. O último ano da jovem na graduação coincidiu com a gravidez, aos 21. Ela pensou em pausar os estudos, mas a insistência da mãe a fez persistir. O filho, Iuri, era recém-nascido quando ela se formou.
Era filha mais velha e tinha dois irmãos: um de 25 anos e outro de 12, este último do segundo casamento de sua mãe.
Amiga falou de envolvimento de Bruna com causas sociais. "Ela se revoltava muito, se sensibilizava com casos de violência contra as mulheres. É triste ter se tornado mais uma vítima. Cabe a nós continuarmos o legado dela, não deixando casos assim continuarem impunes", disse Karina Ribeiro Amorim.