Quem foi Alexandre 6º, papa acusado de comprar cardeais e praticar incesto

O papa Alexandre 6º, nascido Rodrigo de Bórgia, foi uma das figuras mais controversas do papado durante o Renascimento. Seu pontificado, iniciado em 1492, ficou marcado tanto pela habilidade política quanto por escândalos que abalaram a reputação da Igreja Católica.
Quem foi o papa Alexandre 6º
O papa teve a ascensão impulsionada por influência familiar. Rodrigo nasceu em Xàtiva, no Reino de Valência, em 1431, e era membro de uma das famílias mais influentes da época: os Bórgia, conhecidos pelos poderes político, territorial e eclesiástico. Seu tio, por exemplo, era o papa Calisto 3º.
Aproveitando os laços familiares, ele foi nomeado cardeal ainda jovem e recebeu vários benefícios eclesiásticos. Educado em direito em Bolonha, ele rapidamente se destacou na Cúria Romana por sua habilidade diplomática, inteligência estratégica e pelo talento em construir alianças. Sua ascensão refletia seu talento político, mas também o nepotismo comum à época.
Sua eleição foi marcada por suspeitas de corrupção. A eleição de Rodrigo como papa foi acompanhada de fortes indícios de simonia - compra de votos entre os cardeais. Relatos da época sugerem que promessas de cargos e dinheiro circularam abertamente durante o conclave. Apesar das críticas, ele foi eleito e assumiu o nome de Alexandre 6º.
Seu papado foi focado em fortalecer o poder da família Bórgia. Alexandre 6º governou com o claro objetivo de elevar sua família à elite política europeia. Entre seus filhos ilegítimos, estavam César Bórgia, que abandonou a carreira eclesiástica para se tornar militar e político, e Lucrécia Bórgia, envolvida em casamentos estratégicos.
O papa reconheceu seus filhos. Isso, por si só, já causava escândalo à época — no entanto, ele também concedeu títulos, terras e cargos de destaque aos seus descendentes. A relação de Alexandre com os filhos foi retratada na série de TV "Os Bórgias".
Alianças e conflitos políticos dominaram o pontificado. A política na Itália durante o Renascimento era confusa e cheia de conflitos, e o papa soube se adaptar bem a essa situação. Em meio à disputa entre reinos como França, Espanha, Nápoles e os Estados Papais, ele alternou alianças conforme os interesses dos Bórgia.
A instabilidade culminou em invasões estrangeiras e guerras constantes, com o papa atuando como figura central. Sua política externa era marcada por cálculos apontados como frios e traiçoeiros por seus opositores, buscando garantir a sobrevivência e o avanço de sua linhagem.
Escândalos pessoais marcaram sua vida pública. Alexandre 6º não escondia sua vida privada, que ia contra os votos clericais que deveria respeitar. Ele manteve longos relacionamentos com amantes como Vannozza dei Cattanei e Giulia Farnese, e teve vários filhos enquanto ainda era cardeal e mesmo após se tornar papa.
Estas atitudes foram questionadas pela opinião pública e exploradas por seus inimigos, que vinculavam sua figura com a decadência da Igreja. Pregadores como Girolamo Savonarola o acusavam publicamente, e suas críticas ecoaram entre fieis cansados da corrupção e do luxo da Cúria Romana.
Entre os rumores mais escandalosos do período estão as acusações de incesto envolvendo Alexandre 6º e seus filhos. Embora nunca comprovadas, havia suspeitas de que ele mantinha uma relação inadequada com Lucrécia Bórgia, sua filha.
Essa narrativa foi muito explorada por adversários políticos dos Bórgia, tanto para desmoralizar o papa quanto para enfraquecer sua influência. A fama de Lucrécia como figura envolta em venenos, traições e luxúria foi alimentada por essas histórias, muitas das quais se revelaram exageradas ou infundadas, mas que refletiam o clima de escândalo e intriga que cercava a família.
O papa também foi acusado de legitimar a escravidão colonial. Durante o pontificado de Alexandre 6º, a Igreja Católica desempenhou um papel importante na legitimação da expansão colonial europeia. Em 1493, por meio das bulas Inter Caetera e Dudum Siquidem, ele concedeu aos monarcas espanhóis o direito exclusivo sobre novas terras "descobertas" no Novo Mundo, com o objetivo de evangelizar os povos indígenas.
Embora essas bulas não mencionassem diretamente a escravidão, na prática, legitimaram a dominação europeia sobre populações nativas. Sendo assim, elas teriam sido utilizadas para justificar a escravização e exploração dos povos das Américas e da África.
Alexandre 6º morreu em 1503, possivelmente envenenado — embora a causa exata da morte permaneça incerta. Sua morte pôs fim a um dos papados mais tumultuados da história, e dividiu opiniões desde então. Para alguns, ele foi um diplomata habilidoso que fortaleceu a posição da Igreja como potência política. Para outros, é lembrado como um dos papas mais corruptos, símbolo da decadência moral que abriria caminho para a Reforma Protestante.
* Com informações de reportagens publicadas em 07/03/2007 e 05/09/2007.