Como carros elétricos e híbridos desafiam futuro da profissão de mecânico

Muito se fala de autonomia, mitos e verdades, infraestrutura e tempos de recarga quando o assunto são os carros elétricos e híbridos.
Mas há outro (e vital) tópico nessa discussão: a manutenção. Como as marcas, oficinas e mecânicos estão se preparando para lidar com este crescimento cada vez mais exponencial de veículos eletrificados no Brasil?
Com o advento de baterias e sistemas complexos de alta tensão, onde se passa uma grande quantidade de energia, há um risco adicional para quem conserta estes tipos de automóveis.
"A manutenção da bateria em si, é algo extremamente técnico e de alto risco devido a choques elétricos, incêndio e explosão. No cenário atual, a recomendação é de que seja feita por profissionais treinados pelos fabricantes nas concessionárias", alerta Mauricio Gayubas, engenheiro elétrico e doutorando em Gestão Internacional e Inovação, com mais de 30 anos de atuação em treinamentos técnicos.
Gayubas, que também é professor e ministra o curso de pós-graduação de veículos elétricos e híbridos no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) em São Paulo, no entanto, faz uma revelação surpreendente quanto à formação de novos especialistas.
"Conversando com as pessoas, com profissionais de manutenção e alunos, uma considerável parcela ainda não acredita na aplicação da eletrificação veicular", diz.
Oportunidade de maximizar renda
Mauricio Gayubas acredita que aí reside uma boa oportunidade para a iniciação de estudos e conhecimentos em relação à eletrificação - que não seja somente por meio de cursos de formação, mas também da construção do conhecimento teórico aplicado na prática.
Essa expertise pode ser um diferencial e definidor de carreira em um futuro bem próximo.
"Os profissionais que conhecerem bem o sistema passarão a ser diferenciados no mercado de trabalho, podendo conseguir ganhos interessantes pela "raridade" nesse conhecimento e por atender um público de maior poder aquisitivo, pelo valor do veículo eletrificado", completa.
Quem conserta carros a combustão há muito tempo está preparado para lidar com carros elétricos e híbridos?
Gayubas acredita que não.
"As tecnologias são bem diferentes. Os profissionais devem se preparar tecnicamente para realizar as devidas manutenções. Mesmo que sejam reparos simples", aponta o CEO da Gayubas Internacional, que fornece soluções técnicas especializadas e serviços de consultoria para a indústria automotiva.
"Até mesmo em uma simples troca de pastilhas de freios, há os cabos de cor laranja, que significam que possuem alta tensão elétrica passando por eles, e ele deve saber que ali ele deve ter cuidado ao entrar em contato e romper a isolação dos cabos", completa.
Os mecânicos devem passar por critérios técnicos de segurança antes de iniciar as intervenções nesses veículos especificamente, como saber utilizar os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e os EPCs (Equipamentos de Proteção Coletiva) específicos para essa atividade.
Também é fundamental conhecer as ferramentas que devem ser utilizadas, pois elas possuem diferenças importantes em relação às convencionais - como, por exemplo, a isolação para alta tensão elétrica.
Gayubas ainda vai além e acredita que o conhecimento, ao menos o básico, deve ser expandido para todos que circulam em uma oficina diariamente.
"É preciso que gestores, eletricistas, borracheiros, funileiros, pintores, pessoal da limpeza e profissionais que trocam os sistemas de filtros de ar-condicionado tenham um conhecimento de sensibilização, para entenderem os riscos que um veículo eletrificado pode oferecer se alguma pessoa "mexer" onde não deve", finaliza.