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Ataques de onças a humanos são raros: o que pode explicar morte de caseiro?

23/04/2025 15h23

Um caseiro foi atacado e morto por uma onça-pintada, em Aquidauana, no Pantanal, em Mato Grosso do Sul. O corpo de Jorge Avalo, de 60 anos, foi encontrado às margens do Rio Miranda, junto às pegadas do felino de grande porte, segundo a Polícia Militar Ambiental. Ambientalistas apontam que caso é pouco comum e temem que o ocorrido desencadeie uma caçada às onças-pintadas.

Um especialista no manejo de onças-pintadas da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) se deslocou para a região, acompanhado de uma equipe da Polícia Ambiental, na tentativa de rastrear e fazer a captura do felino. A onça que teria feito o ataque será levada para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, em Campo Grande, capital do Estado.

jorge avalo - Reprodução / Instagram - Reprodução / Instagram
O caseiro Jorge Avalo morreu após ser atacado por uma onça no pesqueiro onde trabalhava, no Pantanal
Imagem: Reprodução / Instagram

O homem, que trabalhava como caseiro de um pesqueiro particular, desapareceu na segunda-feira. Turistas que foram até a casa dele, na região conhecida como Touro Morto, para comprar mel, viram marcas de sangue pelo chão e chamaram a polícia. Uma equipe da Polícia Militar Ambiental chegou ao local de helicóptero e localizou o corpo, parcialmente devorado pelo animal, nesta terça-feira.

A região, banhada pelos rios Miranda e Aquidauana, é destino do turismo ecológico, recebendo turistas e pescadores do Brasil e do exterior. A presença de turistas, que acabam deixando restos de alimentos para os animais, favorece o encontro de pessoas com a fauna local.

Ataques de onças a humanos são raros

Conforme a Polícia Ambiental, ataques de onças a humanos são muito raros e acontecem quando há escassez de alimentos ou se o animal se sente ameaçado. Também pode acontecer no período reprodutivo, quando a onça tem instinto de proteger sua prole. No caso do caseiro, ele manipulava mel de abelhas e o cheiro pode ter atraído o animal.

Outra possibilidade investigada é se haveria uma ceva no local. Em muitos locais turísticos, existe a prática de deixar sistematicamente alimentos para atrair a fauna silvestre de forma que os animais sejam vistos pelos turistas.

Segundo a Polícia Ambiental, essa prática contraria dispositivos da lei federal que trata dos crimes ambientais e de uma lei estadual que dispõe sobre a proteção da fauna no Mato Grosso do Sul. Há, ainda, uma resolução da Semad (Secretaria Municipal de Administração) proibindo a ceva no estado.

O IHP (Instituto Homem Pantaneiro), que desenvolve programa de proteção dos grandes felinos do Pantanal, ressaltou a importância do desenvolvimento da ciência, incluindo a ciência cidadã, para aprimorar a coexistência do ser humano com a onça-pintada. O temor é de que o ataque ao caseiro desencadeie uma onda de hostilidades contra a espécie.

No dia 20, um dia antes do ataque ao caseiro, uma onça-pintada foi encontrada morta, boiando no Rio Paraguai, próximo de Corumbá. "Ainda não se sabe o que causou a morte dessa onça-pintada e nem em qual região ela morreu", diz o instituto.

O IHP, que atua com o desenvolvimento científico para a conservação do Pantanal e da sua biodiversidade, ofereceu auxílio técnico para este caso e acompanha também o caso do ataque em Aquidauana, que não tem relação com o da onça achada no rio. "A onça-pintada é símbolo da biodiversidade brasileira e a morte de um indivíduo da espécie pode gerar diferentes prejuízos para a conservação no médio e longo prazo", diz, em nota, sobre a onça morta.

Símbolo da biodiversidade brasileira

O biólogo Gustavo Figueiroa, da Ong SOS Pantanal, usou sua página no Instagram para informar que as onças-pintadas não podem ser consideradas vilãs. "A onça-pintada não é por natureza um animal perigoso para o ser humano. É um felino reservado que evita o contato com as pessoas e não representa ameaça direta quando não há uma provocação ou interferência humana", diz, em vídeo.

Ele lembra que casos de ataques não provocados por ação humana são extremamente raros. O biólogo contou que ele próprio já teve seis encontros com onça-pintada a pé, em locais em que poderia ser atacado, mas usou a estratégia de se afastar devagar e a onça seguiu seu caminho. Caso a onça não se afaste, a pessoa deve gritar, mexer os braços e fazer barulho com galhos e objetos para afugentá-la.

Conforme Figueiroa, a presença de onças-pintadas no Pantanal não é apenas um símbolo da biodiversidade brasileira, mas também uma fonte vital de renda para milhares de famílias que vivem do turismo de observação da fauna. "A atividade fomenta a conservação da espécie e contribui para o desenvolvimento ambiental da região", diz.

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