Moeda do papa é vendida por 500 euros e fieis ocupam Praça São Pedro

São 8 horas e a Praça São Pedro começa a ficar tomada. A área em frente à basílica está completamente lotada, e começou a encher com a chegada dos fiéis por volta das 6 horas. Entre eles, há quem tenha vindo de longe, como Antônio Nicola, que viajou com a esposa e os dois filhos, de 11 e 7 anos, em uma excursão organizada desde a Romênia.
"Estamos tristes porque o Santo Padre partiu, mas nos sentimos abençoados por participar deste momento tão difícil e importante", diz, emocionado.
Antônio conta que a família já tinha organizado a viagem ao Vaticano há meses, mas não imaginava que Francisco partiria agora — ainda mais após tê-lo visto no papamóvel no domingo de Páscoa. "Chegamos no sábado passado e vamos embora no domingo. Estamos prontos para enfrentar a fila, que sabemos será longa. Para nós, estar aqui e acompanhar o funeral é também uma forma de aproximar os filhos da fé, para que entendam o valor da religião católica", afirma.
Enquanto milhares de fiéis continuam a chegar, a movimentação nos arredores da praça revela outro lado deste momento histórico: o comércio de lembranças religiosas. Luigi Di Rosa, siciliano que vive em Roma há dez anos, trabalha no Roma Eterna, loja de souvenirs católicos situada ao lado da Basílica de São Pedro. Ele conta que é a primeira vez que acompanha de perto o funeral de um papa.
Apesar de trabalhar com vendas, diz estar chocado com a especulação que já começou. "Abri a internet e me deparei com uma moeda comemorativa do Papa Francisco sendo vendida por 500 euros. É uma coisa horrível!", diz, indignado.
O artigo mais vendido na loja, segundo Luigi, é um santinho com a imagem de Francisco no dia de sua eleição em 2013, geralmente comprado junto a um rosário. Já Alessandro, um dos proprietários do estabelecimento, diz que, apesar dessas especulações, as vendas na loja seguem estáveis. "O número de pessoas que entram e compram não aumentou muito, mas esperamos que nos próximos dias o movimento cresça um pouco."
O cenário é de devoção, emoção e também de oportunidade — espiritual para uns, comercial para outros. O velório do papa Francisco está apenas começando, mas já deixa claro que sua despedida será marcada por fé, lágrimas e, para alguns, cifras surpreendentes.
Francisco pediu rituais simples
Francisco ordenou uma simplificação de todos os rituais fúnebres. Antes de morrer, ele descartou, por exemplo, o uso do catafalco, espécie de plataforma onde os corpos dos papas anteriores eram colocados.
Papa escolheu um caixão simples de madeira revestido de zinco. Pela tradição, o chefe da Igreja é enterrado em três caixões interligados feitos de cipreste, chumbo e carvalho.
Ele também optou por ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma. A igreja foi o primeiro lugar que Jorge Mario Bergoglio foi após se tornar papa e que procurou durante a pandemia de covid-19. Ele disse mais de uma vez que se sentia "engaiolado" no Vaticano.
O pontificado de Francisco durou 12 anos. Ele foi eleito em 13 de março de 2013, após a renúncia de Bento XVI, e entrou para a história como o primeiro papa latino-americano. Aos 88 anos, encerrou sua trajetória como um dos líderes mais carismáticos da Igreja nas últimas décadas. Em um de seus últimos escritos, ele declarou: "A morte não é o fim de tudo, mas um novo começo."