'Pode ser que eu seja a vítima', diz Silvio Almeida em depoimento à PF
O ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida disse à Polícia Federal, em depoimento prestado em fevereiro, que está sendo chamado de estuprador e que pode ser a verdadeira vítima do caso.
O que aconteceu
"Estão me chamando de estuprador", disse ele à delegada responsável pelo caso. "O papel desempenhado pela [ONG] Me Too Brasil é fundamental para criar esse perfil público que faz com que algumas pessoas estejam me chamando de estuprador", diz Almeida. O depoimento teve duas horas de duração. Ele foi demitido do governo em setembro de 2024 após as acusações de assédio sexual. A informação foi publicada pela CNN Brasil e confirmada pelo UOL, que teve acesso ao vídeo.
"Não quero me colocar nessa posição, mas pode ser que eu seja a vítima", diz Almeida. Ao longo de seu depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro critica as acusações feitas pelo Me Too e pede que a organização complemente as informações contra ele. "Quais são as denúncias que o Me Too tem contra mim?", questiona. O UOL procurou o Me Too. O espaço segue aberto para manifestação.
O ex-ministro diz que escrivã de um dos depoimento de uma das supostas vítimas o chamou de "filho da p...". "Acho que a escrivã não percebe que está gravando e ela diz: 'esse cara é um filho da...'. Como me trata desse jeito? Como é que ela me xinga desse jeito? Estou chocado, indignado, chateado, mas quero justiça", afirma.
O ex-ministro acusa a ONG Me Too Brasil de "desrespeitar a autoridade policial". "A Me Too não faz verificação de fatos, faz acolhimento. Como podem fazer nota de fulano de tal", disse ele, se referindo à nota que foi divulgada confirmando que a organização havia recebido as denúncias.
Almeida foi acusado de assediar mulheres. As denúncias foram tornadas públicas por meio de reportagens publicadas por Guilherme Amado e outros jornalistas a partir de setembro do ano passado.
Na ocasião, o ex-ministro acusou associação de querer "diminuir sua existência". Uma publicação do ministério no mesmo período afirmava que o apoio da Me Too às vítimas era uma "tentativa de interferência" por parte do grupo na licitação do Disque 100, serviço mantido pela pasta para denúncias ligadas a questões de direitos humanos.
"Tentaram me matar", escreveu Almeida em fevereiro. Em nova publicação nas redes sociais, o ex-ministro disse que atores públicos "por disputa política ou por ressentimento, ladeados por ONGs suspeitíssimas, ainda fazem pressões indevidas sobre instituições do Estado" para prejudicá-lo.
"Anielle se perdeu num personagem", afirmou o ex-ministro ao UOL. Na primeira entrevista após a revelação do escândalo, Almeida disse que esteve poucas vezes com a ministra de igualdade racial Anielle Franco —uma das vítimas de assédio— e negou que tenha tido condutas inapropriadas quando esteve com ela.
Almeida teria importunado Anielle pela primeira vez em 30 de dezembro de 2022. Segundo a revista Piauí, ele teria se aproximado dela e dito: "Nossa, como você está linda e cheirosa hoje". Depois, ele teria feito sussurros eróticos nos ouvidos dela e passado a mão em suas pernas por baixo da mesa durante uma reunião.
'Se refere a mim como abusador serial', diz Almeida sobre professora
No depoimento, Almeida criticou a professora Isabel Rodrigues, que em setembro de 2024 o acusou de violência sexual. "Ela se coloca como a 15ª vítima [de assédio]. Ela deixa no perfil dela, que agora ela tirou, como representante das mulheres e que teria que acabar com minha serialidade de abusos. Ela se refere a mim como abusador serial. Ela se refere a mim como tarado."
Isabel reagiu à entrevista que Almeida deu ao UOL em fevereiro, dizendo que ele fez "insinuações" de que ela teria feito a acusação por ser candidata a vereadora. Ela pede que provas disso sejam apresentadas à Polícia Federal. O UOL procurou a professora, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.
Ela conta que Almeida passou a mão na região íntima dela, sem consentimento, durante um almoço com colegas, em São Paulo. "As marcas da violência ainda estão no meu corpo", disse.
Isabel Rodrigues também afirma que tratou do caso com amigos próximos e na terapia. Em agosto de 2019, Silvio e Isabel trabalhavam como professores. Ele foi empossado no ministério em janeiro de 2023.