'Dependo de transporte, fazer o quê', disse aluna da USP antes de ser morta

A estudante da USP (Universidade de São Paulo) Bruna Oliveira da Silva, 28, assassinada no bairro de Itaquera, na zona leste da capital, enviou um áudio para a mãe antes do crime dizendo que dependia do transporte público para retornar para casa.
O que aconteceu
Mãe de Bruna enviou áudio à filha perguntando se ela estava no metrô Itaquera. "Seu pai está desesperado. Ele sabe que ele [possível referência ao ônibus] sai às 22h30. Vai sair em cima da hora, né, filha. Aí, Bruna, pelo amor de Deus, não faz isso, filha. Esteja lá sempre esperando teu filho, pelo amor de Deus", disse Simone da Silva em áudio obtido pelo Brasil Urgente (TV Bandeirantes).
Então, Bruna respondeu que dependia do transporte público. "Dependo de transporte público. Eu vou fazer o quê? Está escutando o barulho dos ônibus? Não tenho dinheiro para pedir Uber, não. Vou ter que esperar. Não vou a pé, esse horário da noite. Eu tenho mó medo daqui", relatou a jovem.
A reportagem da emissora não deixa claro, mas é provável que essa comunicação de Bruna com a mãe tenha ocorrido antes de a estudante perceber que o ônibus que ela pegaria não estava mais disponível.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulgou hoje a foto do suspeito de assassinar Bruna. Apesar da divulgação da foto, o nome dele não foi divulgado. Até a noite desta quarta-feira (23), ele não havia sido encontrado. A polícia pediu a prisão temporária do suspeito. O UOL não conseguiu localizar a defesa dele porque o nome não foi divulgado pela polícia. O espaço segue aberto para manifestação.
Cronologia do caso
Às 22h, a estudante enviou uma mensagem ao namorado, Igor, dizendo estar em Itaquera, a caminho de casa. Três minutos depois, ela envia outro texto, afirmando que o ônibus que ela pegaria, 4021-10, que faz o trajeto de Metrô Itaquera - Vila Chuca, tinha saído do terminal de ônibus do metrô de Itaquera às 21h15. Logo na sequência, a mulher escreveu: "Vou ter que ir a pé".
Namorado sugeriu que a estudante voltasse de casa de Uber. A aluna respondeu que não tinha dinheiro, mas o companheiro disse que mandava. Ela retornou falando o valor, R$ 15, e mandou um print da tela do aplicativo de transporte. Às 22h07, Igor disse que mandou o valor.
Às 22h09, Bruna escreveu que estava carregando o celular em uma "banquinha" e que esperaria o valor, de R$ 19,99, baixar. Dez minutos depois, a jovem falou "tô (sic) indo". Às 22h30, Igor pergunta se "deu certo" e a vítima não responde mais. Ele também tentou ligar para ela minutos depois, mas a chamada não foi atendida.
Um vídeo obtido pelo UOL (veja abaixo) mostra Bruna, às 22h19. No registro, a estudante atravessa uma faixa de pedestre após deixar o terminal de ônibus.
Relembre o caso
Desaparecimento. Segundo informado pela família à polícia, ela saiu da casa do namorado, no bairro do Butantã, na zona oeste da capital, e voltava para casa quando sumiu no domingo (13).
Corpo foi encontrado em estacionamento no dia 17 de abril. Vítima estava nos fundos do imóvel na avenida Miguel Ignácio Curi, na Vila Carmosina. O local onde o corpo foi encontrado fica perto da Neo Química Arena, estádio do Corinthians, e a menos de dois quilômetros do local onde sumiu.
Vídeo mostra estudante sendo atacada. Nas imagens, é possível ver o suspeito seguindo Bruna de perto pela calçada, e atacando a estudante por trás, e ela tenta resistir. Depois, as imagens não mostram mais os dois. A polícia suspeita de que ele a levou até o local onde a mulher foi morta.
"Morreu como ela mais temia", disse mãe da vítima. Após reconhecer o corpo, Simone da Silva, mãe de Bruna, disse a um grupo jornalistas do lado de fora do Instituto Médico Legal que a estudante lutava pelo fim da violência contra a mulher. "Morreu como ela mais temia, como eu mais temia. Que peguem essa pessoa, porque essa pessoa está solta e vai matar mais", afirmou.
Bruna era formada em turismo e cursava pós-graduação na Universidade de São Paulo. Em nota, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP lamentou a morte. "A direção envia os sentimentos aos familiares e amigos", afirmou a faculdade em nota.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão e violência contra mulheres, ligue para 190 (Polícia Militar) e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.