Quem governa a Santa Sé na ausência do papa? Camerlengo assume posto
Quando um papa está ausente, seja por renúncia, como aconteceu com Bento 16, ou por morte, outra autoridade da Igreja Católica assume o controle administrativo da Santa Sé: o camerlengo.
Quem é camerlengo
É um dos cargos cuja validade não termina quando um papa morre. O camerlengo continua despachando os assuntos cotidianos da Santa Sé e prestando contas ao Colégio dos Cardeais, como ele faria ao pontífice se este estivesse vivo.
No passado, era o camerlengo quem atestava a morte do papa chamando-o pelo nome de batismo três vezes, enquanto batia levemente em sua cabeça com um martelo de prata. Só então ele declarava: o "papa está realmente morto". O gesto foi substituído com a colocação de um véu sobre o pontífice.
É o camerlengo quem comunica a morte do papa ao cardeal-vigário de Roma e, consequentemente, ao povo da Igreja Católica. Historicamente, este cardeal, ao confirmar a morte, ainda destrói o anel do pescador, joia usada pelos pontífices para assinar documentos. O objetivo é evitar falsificações, mas este ritual coloca fim simbólico ao papado.
Imediatamente, o camerlengo sela o quarto do papa e seu escritório e toma posse do Palácio Apostólico. Este também é selado em seguida, e o camerlengo ordena o início do preparo do corpo do falecido pontífice.
É ele também quem estabelece como será realizado o sepultamento do pontífice, após ouvir outros cardeais, geralmente seguindo orientações deixadas pelo morto. Além disso, é responsabilidade do camerlengo escolher a data do conclave, que elege um novo papa, e acertar os preparativos para a eleição na Capela Sistina. O camerlengo também recebe o juramento de que o voto será secreto por parte dos cardeais.
Irlandês é o atual camerlengo
Desde 2019, o cardeal de origem irlandesa, Kevin Farrell, 77, ocupa o posto. Ele foi apontado pelo próprio papa Francisco para a posição que estava vaga desde 2018, com a morte de Jean-Louis Tauran. O francês anunciou da sacada central da basílica a eleição de Jorge Mario Bergoglio como papa em 2013.
Como camerlengo, Farrell preside a Câmara Apostólica. O órgão é uma espécie de conselho financeiro da Igreja Católica, que desempenha a função de preservar e administrar os bens da Santa Sé. Ou seja, ele toma decisões financeiras e administrativas enquanto o papa está ausente.
Brasileiro está na alta cúpula. Farrell recebe a ajuda de três cardeais-assistentes em suas funções. Mas caso ele se veja impedido de realizá-las por algum motivo, assume o vice-camerlengo, que é o paulista de Sertãozinho dom Ilson de Jesus Montanari. Ele é arcebispo titular de Capocilla.
Camerlengo solicita relatórios sobre o estado patrimonial e econômico das administrações dependentes da Santa Sé. Ele também checa orçamentos e balanços de cada ano, atuando em partes como um tesoureiro.
Farrell é também um cardeal eleitor. Isso quer dizer que, com a morte de Francisco, ele é um dos membros do Colégio de Cardeais que votará na eleição de um novo papa.
Atual camerlengo tem histórico internacional
Farrell cresceu falando gaélico irlandês. Ele estudou artes, filosofia, teologia em Salamanca, na Espanha, e em Roma, na Itália, antes de ser ordenado padre em 1978. Anos mais tarde, ele completou seu MBA (um mestrado profissional em administração) nos EUA.
Ele iniciou sua vida religiosa em Monterrey, no México. Lá, ele foi capelão da Universidade de Monterrey, onde também conduziu seminários em bioética e ética social. O papa Francisco oficializou Kevin Farrell como cardeal da Igreja Católica, após o consistório (reunião do Colégio de Cardeais) de novembro de 2016.
Nos anos 80, ele foi transferido para a Arquidiocese de Washington, nos EUA. Em 1995, ele se tornou monsenhor. Em 2001, o então papa João Paulo 2º o tornou bispo auxiliar da mesma diocese. Em 2007, o papa Bento 16 o nomeou bispo de Dallas.