Papa Francisco deixa legado de reformas nas finanças do Vaticano
O Papa Francisco, que morreu na segunda-feira (21) aos 88 anos, foi um papa reformador e também arquiteto de uma maior transparência nas finanças do Vaticano. Apesar da forte oposição dentro da Cúria, o sumo pontífice retirou a cidade-estado da lista de paraísos fiscais.
Bento XVI lançou o movimento, mas o Papa Francisco levou as reformas financeiras a um novo patamar. Quando o papa argentino assumiu o cargo em 2013, o sigilo bancário ainda era a regra no Vaticano e muitas transações financeiras ocorriam sem nenhum tipo de controle.
Em 2014, o papa emitiu um decreto estabelecendo uma espécie de ministério para supervisionar as finanças do menor estado do mundo. Essa secretaria, segundo o decreto papal, tem "autoridade sobre todas as atividades econômicas e administrativas dentro da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano". Para auxiliar a secretaria nessa difícil tarefa, o papa também criou o "Conselho dos 15", composto por oito cardeais ou bispos e sete leigos especialistas no setor financeiro.
Dois anos após sua chegada a Roma, o sigilo bancário foi suspenso. No ano seguinte, 5.000 contas suspeitas do chamado Instituto para Obras Religiosas (IOR), conhecido como o "banco do Vaticano", foram fechadas. O órgão de controle financeiro da cidade-estado viu seus poderes reforçados. E em 2020, a Santa Sé adotou um Código de Contratos Públicos pela primeira vez.
Um juiz antimáfia no Vaticano
Francisco também nomeou um juiz antimáfia para o tribunal do Vaticano, o que levou a alguns julgamentos de alto nível. Em 2021, um ex-presidente do "Banco do Vaticano" foi considerado culpado por lavagem de dinheiro e peculato com agravante devido a um investimento imobiliário em Londres considerado desastroso. O projeto envolvia a compra de um prédio no sofisticado bairro Chelsea para criar cerca de cinquenta apartamentos de luxo.
Entre 2013 e 2014, a Secretaria de Estado, o "coração" da Cúria Romana, tomou emprestado mais de US$ 200 milhões, principalmente do banco Crédit Suisse, para investir em um fundo de Luxemburgo.
Metade da soma deveria ser usada para comprar pouco menos da metade do edifício de Londres e a outra metade para investir no mercado de ações.
Mas o empresário à frente do fundo havia investido o dinheiro da Igreja em "operações especulativas", como a compra de bancos em situação delicada, por exemplo. Quatro anos depois, o Vaticano pôs fim a essa aliança com o fundo, mas não com os problemas. Na época, a investigação evidenciou o uso imprudente do Óbolo de São Pedro, a coleta de doações destinadas a obras de caridade.
Além disso, há cerca de um ano e meio, o ex-número três da Santa Sé foi condenado a cinco anos de prisão por desvio de fundos e abuso de poder. O cardeal Angelo Becciu foi acusado de ter usado dinheiro do Vaticano para obter um empréstimo imobiliário e enriquecer pessoalmente. Ele entrou com recurso contra essa decisão.
De acordo com o próprio banco do Vaticano, desde o início da década de 2010, a cidade-estado perdeu entre € 800 milhões e € 1 bilhão em transações financeiras e imobiliárias de risco.