Papa Francisco apostou na diversidade da Igreja, na defesa de imigrantes e criticou conflitos
Arcebispo de Buenos Aires, Argentina, Jorge Mario Bergoglio tornou-se o primeiro papa jesuíta e o primeiro papa do hemisfério sul no ano de 2013. Seu objetivo: "ir até a periferia existencial da humanidade". Desde o início de seu mandato, Francisco conclamou os cristãos a se abrirem para a diversidade do mundo e para os mais pobres. Após sua morte, nesta segunda-feira (21), qual é o legado deixado pelo papa Francisco?
O Papa Francisco morreu, anunciou na segunda-feira o Vaticano em comunicado. O soberano pontífice, eleito em 2013 após a renúncia de Bento XVI, tinha 88 anos. Ele havia sofrido recentemente de uma dupla pneumonia.
"Queridos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que devo anunciar o falecimento de nosso Santo Padre Francisco", anunciou o cardeal Kevin Farrell no canal de televisão do Vaticano. "Às 7h35 desta manhã, o bispo de Roma, Francisco, se uniu à casa do Pai."
O pontífice argentino havia saído do hospital em 23 de março após ter sido internado durante 38 dias por uma pneumonia bilateral, sua quarta e mais longa internação desde o início do pontificado em 2013.
No domingo, durante as celebrações de Páscoa, ele apareceu muito enfraquecido, mas se ofereceu para um banho de multidão no papamóvel, no meio de milhares de fiéis na Praça de São Pedro.
Visivelmente muito debilitado, ele delegou a leitura de seu texto a um colaborador, não conseguindo pronunciar mais do que algumas palavras, com a voz ofegante.
O pontífice, chefe espiritual de 1,4 bilhão de católicos e chefe de Estado da Cidade do Vaticano, estava debilitado por uma série de problemas de saúde nos últimos anos, incluindo cirurgias no cólon e no abdômen, além de dificuldades para caminhar.
Francisco viajou para áreas onde nenhum outro papa esteve: para os migrantes de Lesbos ou Lampedusa, na Itália, e para lugares remotos, como Papua-Nova Guiné, na Oceania. Ele também viajou para países em guerra, como a República Democrática do Congo e a República Centro-Africana, ou onde houve guerra, como o Iraque. Ele também visitou países onde os cristãos são minoria, como a Birmânia e a Indonésia.
Papa para restaurar ordem
O papa foi eleito em 2013, acima de tudo, para restaurar a ordem na Igreja Católica, que estava atolada em escândalos financeiros e sexuais. No que diz respeito às finanças, ele conduziu a reforma da Cúria, a pesada administração da Igreja Católica.
Francisco não fez apenas amigos. Ele acumulou uma série de opositores com suas medidas consideradas polêmicas pelos membros da Igreja mais conservadores, e criticou constantemente a desconexão entre o clero e os fiéis.
No que diz respeito ao abuso sexual na Igreja, houve um aumento na conscientização e uma maior disposição para ouvir as vítimas. Mas o impacto não foi o esperado, com poucas medidas eficazes.
No que diz respeito ao papel das mulheres, seu histórico é heterogêneo. Embora tenha permitido a participação de mulheres no governo da Igreja, manteve fechado o caminho para o diaconato feminino e a ordenação de mulheres.
Então, o que restará do pontificado de Francisco?
O que permanecerá é seu estilo simples e direto, sua disposição de dar prioridade ao diálogo inter-religioso, que para o papa era a condição essencial para a paz no mundo.
Em 2019, junto com o Grande Imã de Al Azhar, ele assinou o documento sobre "fraternidade humana para a paz mundial e a coexistência comum".
Ele também permanecerá na história da Igreja por seu comprometido com o meio ambiente. Sua encíclica Laudato Si, em 2015, pediu a preservação da Casa Comum, um impulso para a conscientização coletiva da emergência climática.
Leia também"Não poluirás": encíclica do Papa Francisco cria 11° mandamento
Durante 12 anos, Francisco apostou em uma Igreja diversificada, plural e mais descentralizada, mas alguns temem que as divisões tenham se aprofundado entre as Igrejas progressistas e conservadoras, especialmente depois que o papa permitiu que casais do mesmo sexo fossem abençoados.
Papa Francisco no Brasil
Ainda no início de seu pontificado em 2013, o papa Francisco desembarcou no Rio de Janeiro em 22 de julho, onde foi recebido pela então presidente brasileira Dilma Rousseff, para presidir durante uma semana a Jornada Mundial da Juventude.
Diante de cerca de 3 milhões de fiéis que lotaram a praia de Copacabana, o jesuíta argentino conclamou os jovens que participam da Jornada Mundial da Juventude a "seguirem superando a apatia e oferecendo uma resposta cristã às preocupações sociais e políticas presentes em seus países".
Naquele ano, uma pesquisa de opinião constatava uma queda histórica no número de católicos brasileiros.
Na mesma época, o Brasil estava em plena ebulição política, com os protestos pedindo não apenas melhores serviços públicos, como também mais tolerância da Igreja aos homossexuais e respeito à laicidade no Brasil.