Topo
Notícias

Quem é o brasileiro conhecido como 'golpista em série' preso na Itália

Luiz Eduardo Auricchio Bottura foi preso na Itália - Reprodução/Facebook
Luiz Eduardo Auricchio Bottura foi preso na Itália Imagem: Reprodução/Facebook
do UOL

Colaboração para o UOL

18/04/2025 05h30

Procurado pela Interpol, o brasileiro Luiz Eduardo Auricchio Bottura, 49, foi preso na Itália após comprar um carro de luxo.

Quem é Bottura

Natural de Mato Grosso do Sul, o homem é descrito pelas autoridades como um "golpista em série". Ele é suspeito de comandar um golpe de milhões de reais no Brasil.

Bottura vivia no país graças à cidadania italiana obtida por ter ascendentes italianos. Ele foi detido dia 4 de abril, na cidade de Selvazzano. A captura foi feita pela Guardia di Finanza de Pádua, após duas semanas de vigilância.

Na Itália, o homem levava uma rotina de ostentação, o que ajudou as autoridades a localizá-lo. Segundo o jornal Il Mattino di Padova, ele estava hospedado na casa de um compatriota e vivia como um homem rico. Já o Corriere del Veneto apontou que o veículo Maserati, avaliado em R$ 1 milhão e registrado em seu nome, além dos gastos em academias de luxo, permitiram que a polícia rastreasse seus passos.

Segundo denúncias do Ministério Público de São Paulo, ele praticava usurpação de função pública e falsificação de documentos para aplicar golpes com aparência de legalidade — inclusive assinando petições como advogado, sem estar inscrito na OAB.

'Litigante profissional'

Bottura ficou conhecido como "litigante profissional" por mover mais de 3 mil ações judiciais no Brasil. Segundo o site jurídico ConJur, em pelo menos 300 delas, foi condenado por litigância de má-fé. A estratégia, segundo decisões da Justiça de São Paulo, incluía indicar endereços falsos para provocar revelias e ajuizar ações contra magistrados com o objetivo de forçá-los a se declarar impedidos.

Em agosto de 2023, a 1ª Vara de Organização Criminosa de São Paulo recebeu denúncia formal contra Bottura por liderar um grupo composto por sete pessoas, incluindo familiares e advogados. A acusação inclui associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documentos públicos e coação no curso do processo. O grupo teria causado prejuízo milionário com fraudes judiciais e contratos simulados.

Bottura criou um centro de arbitragem apenas para chancelar fraudes. A estrutura era usada para emitir sentenças simuladas que legitimavam alterações contratuais falsas, apurou o Conjur. Em 2022, o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) anulou uma dessas sentenças, reconhecendo o uso indevido da arbitragem como instrumento de golpe.

Outro episódio citado pelo ConJur envolve a intimidação de um perito do Instituto de Criminalística de São Paulo. Bottura foi acusado de tentar coagir o servidor após um laudo técnico desfavorável, o que resultou em medida cautelar proibindo qualquer tipo de contato ou menção pública ao profissional.

Sogros e ex-esposa

Entre 2007 e 2009, ele ajuizou mais de 200 ações contra a ex-esposa e o sogro — e chegou a obter uma pensão de R$ 100 mil usando documentos falsificados. Em outro caso, tentou transferir um processo por meio de uma petição forjada. Foi preso por isso em 2009, mas acabou absolvido.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, sua esposa, Raquel Fernanda de Oliveira, e os pais, Luiz Célio Bottura e Maria Alice Auricchio Bottura, também integram a organização criminosa. Raquel foi presa preventivamente em dezembro de 2024, por envolvimento direto nas fraudes.

O UOL tenta localizar as defesas de Luiz Eduardo Bottura, de sua esposa Raquel e de seus pais. O espaço está aberto para manifestações.

Em 2021, Bottura recebeu uma "doação" de R$ 7 milhões feita por uma paciente da mãe — psicóloga — em um suposto caso de abuso de confiança. A transação é alvo de investigação, segundo o Conjur (Consultor Jurídico). Na ocasião, a mulher, que era acompanhada em terapia havia 18 anos por Maria Alice Bottura, foi induzida a transferir os valores da herança do marido a contas ligadas ao esquema familiar — segundo os autos citados pelo ConJur.

Detido no presídio Due Palazzi, Bottura aguarda a tramitação do pedido de extradição feito pelo Brasil. A Corte de Apelação de Veneza validou a prisão, e ele poderá cumprir pena de até 49 anos, se condenado.

As autoridades italianas avaliam o bloqueio de bens em solo europeu. O caso segue sob análise diplomática entre os dois países.

Notícias