Policiais cercam Favela do Moinho após operação; acesso a trem foi fechado
Policiais militares lançaram bombas e spray de pimenta em comunidade durante operação de reintegração de posse em terreno da União.
O que aconteceu
Polícia entrou na comunidade com bombas e spray de pimenta na Favela do Moinho. Moradores relatam que foram pegos de surpresa com a operação da Polícia Militar que começou pela manhã de hoje (18), em meio ao feriado de Páscoa. Ouvidos pelo UOL, lideres comunitários alegaram que a PM lançou bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra pessoas que estavam em um bar.
Uma das vítimas desmaiou durante a confusão. Os moradores que estavam no estabelecimento inalaram gás lacrimogêneo e passaram mal. Entre as vítimas está uma mulher que recebeu spray de pimenta no rosto e desmaiou no local, sendo socorrida por vizinhos.
Acesso ao bairro foi bloqueado. Moradores optaram por fechar acesso às linhas 7 e 8 de trem, em protesto contra as ações policiais.
Policiais cercaram a comunidade. Participaram da operação ao menos sete viaturas, incluindo efetivos da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e policiais da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas).
A PM foi procurada. A versão contada aos moradores foi de que a operação policial foi motivada como parte de uma reintegração de posse em um terreno da União. O UOL questionou a SSP-SP (Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública de São Paulo), mas não obteve respostas. O texto poderá ser atualizado.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) pretende transferir sede administrativa para a região. A Favela do Moinho se localiza em área pública federal e os moradores alegam que a ação de reintegração de posse tem caráter higienista. "Estamos aqui há mais de 35 anos, essa tentativa de nos expulsar é terrorismo", argumenta moradora que prefere não se identificar.
Favela do Moinho é a última do centro de São Paulo
Comunidade é cercada por trechos das linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM. O acesso ao Moinho é uma entrada atravessada por trilhos. Moradores convivem com barulhos e tremores pela passagem constante dos trens.
A favela foi construída a partir de uma ocupação sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel. Era ali que ficava o Moinho Central, uma indústria de processamento de farinha e de rações para animais. A indústria foi desativada no final da década de 1980. Nos primeiros anos, os moradores eram ex-trabalhadores da fábrica.
Terreno é disputado
Terreno é alvo de disputa há anos. Ele foi controlado pela Rede Ferroviária Federal, depois foi a leilão por dívidas da empresa e chegou a empresários, mas que não concluíram a compra, segundo a BBC. Em 2008, a associação de moradores entrou na Justiça para permanecer no terreno por usucapião. Eles garantiram a posse do terreno, mas a ação ainda não foi julgada.
O governo de SP tenta colocar em prática um plano de remoção gradual dos moradores. Segundo a gestão, 84% das famílias já aceitaram a proposta habitacional apresentada. Moradores ouvidos pelo UOL negam que pretendem sair da região.