Guerra comercial: diante de prejuízos no setor do luxo, LVMH ameaça instalar mais fábricas nos EUA
O setor de luxo está passando por um período de incertezas diante da guerra comercial iniciada pelo governo de Donald Trump. Realocação, aumento de preços, congelamento de contratações... As empresas francesas com maior exposição nos Estados Unidos estão começando a rever suas estratégias para lidar com o impacto das tarifas em seus negócios.
É o caso, por exemplo, da LVMH, gigante do mercado de luxo que controla marcas como a Louis Vuitton, Dior, Tiffany e Moët & Chandon, que produz vinhos e espumantes. Comandada por Bernard Arnault, a empresa está acostumada a bons resultados, mas vem passando por um momento complexo neste primeiro semestre de 2025.
A principal divisão de moda e artigos de couro da LVMH viu suas vendas despencarem em 5% e teme que a guerra comercial iniciada pelos EUA afete também suas empresas focadas em outros setores, como o de vinhos.
Em resposta, Bernard Arnault convocou líderes europeus a encontrarem uma solução "amigável" para as tensões comerciais, chegando a dizer que era "a favor" de "uma área de livre comércio" com os Estados Unidos.
Se essas negociações fracassarem e "mantiverem as tarifas altas, (...) teremos que aumentar nossa produção americana", disse Arnault, cujo grupo já possui três fábricas da Louis Vuitton nos EUA e quatro da Tiffany, e gera 25% de suas vendas no país.
Respiro no setor de vinhos e destilados
No setor de vinhos e destilados, o mercado norte-americano corresponde a 34% para a LVMH, que detém marcas como Dom Pérignon, Hennessy e Krug. Apesar da guerra comercial também afetar este mercado, o grupo está melhor protegido neste caso, pelo menos por algum tempo.
"Para vinhos e destilados, enviamos uma certa quantidade de estoque (para os Estados Unidos). Não é uma solução duradoura, mas nos dá um pouco de tempo para pensar", revelou no início desta semana Cécile Cabanis, diretora financeira da LVMH.
"Precisamos absolutamente encontrar um acordo, assim como os líderes em Bruxelas parecem estar tentando encontrar um para o setor automobilístico alemão. É vital para a viticultura francesa", insistiu Bernard Arnault.
Posicionamento de outras empresas
Conhecida por suas bolsas Birkin, a Hermès pretende "compensar totalmente" o impacto das tarifas americanas de 10%, aumentando seus preços de venda nos Estados Unidos "a partir de 1º de maio e em todas as linhas de negócios", disse o diretor financeiro do grupo, Eric Halgouët, na quinta-feira (17).
"Os clientes americanos permanecerão fiéis a nós e aqueles que acharem que é muito caro virão e aproveitarão as instalações do nosso hotel em Paris e comprarão no Le Faubourg (a loja principal e a sede do grupo na rue du Faubourg-Saint-Honoré)", disse Axel Dumas, diretor administrativo da Hermès, em fevereiro.
Já a produtora de conhaque Rémy Martin, uma subsidiária do grupo Rémy Cointreau, decidiu colocar centenas de funcionários em regime de trabalho temporário durante uma semana por mês até junho, diante das medidas tomadas pela China em resposta à guerra comercial e da perspectiva de tarifas alfandegárias dos EUA, informou uma fonte sindical na quarta-feira (16). Os mercados chinês e americano correspondem cerca de 80% das vendas da Rémy Martin.
Na quinta-feira (17), o CEO da L'Oréal, Nicolas Hieronimus, falou sobre as medidas que o grupo poderia adotar "dependendo do que for decidido" sobre as taxas alfandegárias nos Estados Unidos.
"Podemos aumentar os preços, acumulamos estoques e, sim, podemos realocar parte de nossa produção", disse ele à margem da apresentação de seus resultados do primeiro trimestre.
Efeitos de uma guerra comercial maior
Desde que retornou à Casa Branca, o presidente dos EUA, Donald Trump, tem usado tarifas como uma ferramenta política. Ele relançou sua guerra comercial com força total, particularmente contra a China, aplicando fortes tarifas sobre as importações, incluindo champanhe, cosméticos, relógios e bolsas.
Diante de tal situação, os consumidores americanos estão gastando menos. E como o mercado dos EUA é o maior do mundo para marcas de luxo, é fácil entender o impacto das medidas de Donald Trump.
De acordo com um estudo publicado nos últimos dias pela empresa de pesquisa Bernstein, 32% dos gastos globais com luxo estão nos Estados Unidos e 24% na China. Somente esses dois países respondem por mais da metade do consumo mundial. Dados que apontam que o luxo está na vanguarda das medidas comerciais de Donald Trump.
No entanto, Bernard Arnault, que é próximo do presidente americano, está tentando pessoalmente dissuadir o governo Trump de aplicar tarifas de até 200% sobre vinhos e bebidas alcoólicas francesas.
De acordo com a Bernstein, o mercado de luxo como um todo pode perder 2% este ano, em comparação com o crescimento de 5% de apenas alguns meses atrás. Para continuar existindo, as marcas podem ter que rever suas cadeias de suprimentos e repensar seus preços.
(Com AFP)