Glauber encerra greve de fome depois de acordo com presidente da Câmara
Depois de fazer um acordo com a cúpula da Câmara, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) encerrou sua greve de fome. Ele começou o protesto em 8 de abril, ao ver avançar seu processo de cassação.
O que aconteceu
O anúncio aconteceu no final desta tarde. Glauber convocou representantes de movimentos sociais e declarou que terminava o período sem comer. "Mas nós não estamos suspendendo a luta contra o orçamento secreto, o poder oligárquico e pela responsabilização dos assassinos de Marielle [Franco], contra os golpistas de plantão", afirmou.
A sinalização do acordo foi feita no perfil do X de Hugo Motta (Republicanos-PB). No post, o presidente da Câmara se comprometeu a conceder 60 dias para Glauber se defender da possibilidade de perda de mandato. Ele agrediu um integrante do MBL e foi acusado de falta de decoro parlamentar.
A saída encontrada estica a permanência de Glauber na Câmara até o final de junho. Motta ponderou que o prazo de dois meses começa a contar a partir da decisão da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) sobre um recurso que será apresentado pelo deputado.
O deputado tem até terça da próxima semana para apelar. A resposta da CCJ sairá no máximo em 29 de abril. Adicionando o prazo de 60 dias fixado pelo presidente da Câmara, Glauber terá o mandato preservado até o final de junho.
Glauber foi para o hospital e fará uma retomada gradual da alimentação. Ele fez exames a cada dois dias e fará uma nova bateria de testes para atestar que a saúde está em dia.
O papel de Motta foi ressaltado pela esquerda. Líder do PT, o deputado Lindbergh Farias (RJ) contou que o presidente da Câmara teve uma atitude aberta ao debate e ajudou encontrar uma solução.
O elogio carrega uma crítica a Arthur Lira (PP-AL). Ele foi presidente da Câmara até fevereiro e seria inflexível a respeito da cassação de Glauber, que é desafeto de Lira e prestou depoimento à Polícia Federal levantando suspeitas sobre a forma como as emendas são distribuídas e gastas.
Sâmia afirmou que a CCJ pode rejeitar o parecer pela cassação. A parlamentar declarou que isto significaria retorno do processo ao Conselho de Ética e a indicação de um novo relator.
A deputada disse que não há um plano B no momento. Mas falou que nunca houve perda de mandato por casos semelhantes ao de Glauber. Ela acrescentou que um grupo de juristas vai trabalhar para apoiar a defesa.
Sâmia relatou que as negociações com Motta se intensificaram nos últimos dois dias. Líder do PSOL, a deputada Talíria Petrone (RJ) avalia que a mudança de atitude do presidente da Câmara reflete uma mudança de pensamento de líderes de partidos.
Começo da greve de fome
Glauber anunciou a greve ao final de uma sessão do Conselho de Ética em 8 de abril. O processo de cassação dele foi levado adiante por 13 votos a 5 durante uma reunião tensa.
Suspeitas de manobras contra Glauber surgiram naquele dia. O presidente da Câmara se comprometeu a começar às sessões no plenário sempre às 16h. Isso obriga todas as comissões a suspenderem as demais sessões, incluindo o Conselho de Ética.
Descumprindo a própria promessa, Motta foi adiando a sessão plenária. Ela só foi aberta às 19h, quando a votação em relação à perda de mandato de Glauber foi encerrada. Desde então, existe a suspeita de que o ex-presidente da Câmara estaria pressionando e Motta teria cedido aos seus apelos.
Ao ver o processo de cassação avançando, Glauber anunciou a greve de fome. Ele permaneceu na sala onde ocorreu a sessão do Conselho de Ética desde 8 de abril. Neste período, o deputado perdeu 4,9 kg.
Ministros de Lula visitaram Glauber durante a greve de fome. Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Comunicação Social) foram os primeiros a se reunir com o parlamentar e estiveram na Câmara no sábado.
A greve de fome preocupou a família. A mulher dele, a também deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esteve todo o tempo com ele. O pai do parlamentar, que é médico, viajou a Brasília para acompanhar o filho.