Operação da PF contra lavagem mira 3 prefeitos no RJ e bloqueia R$ 3,5 bi

A Polícia Federal realiza na manhã de hoje no Rio de Janeiro e em Minas Gerais uma operação para desarticular uma organização criminosa suspeita de obstrução de Justiça, caixa dois, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro. Três prefeitos do Rio de Janeiro estão entre os alvos.
O que aconteceu
Justiça determinou o bloqueio de cerca de R$ 3,5 bilhões das contas dos investigados e a suspensão das atividades de oito empresas. Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos investigados nas cidades de Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba, Rio de Janeiro, todas no RJ, e Juiz de Fora, em MG.
Entre os alvos da operação estão prefeitos de cidades do Rio, segundo apurou o UOL. Rubem Vieira de Souza, conhecido como Dr. Rubão, é prefeito de Itaguaí; Sérgio Luiz Costa Azevedo Filho, conhecido como Dr. Serginho, é prefeito de Cabo Frio, e Fábio de Oliveira Costa, conhecido como Fabinho, é prefeito de Iguaba Grande. Ao UOL, a assessoria de Fábio Costa informou que "até o presente momento, não há qualquer notificação oficial da Polícia Federal envolvendo o nome do prefeito".
Também é investigado Davi Perini Vermelho, presidente do Instituto Rio Metrópole, um órgão do governo do estado do Rio. A reportagem entrou em contato com o instituto, mas não obteve retorno.
Assessoria de imprensa do prefeito de Cabo Frio informou que não recebeu informações sobre a operação. "A administração municipal reitera seu compromisso com a verdade dos fatos e com o respeito à população cabo-friense", disse. O Instituto Rio Metrópole declarou que a operação realizada nesta manhã não envolve a entidade, e o presidente do instituto, Davi Perini Vermelho, apontou "a inexistência de qualquer relação com o fato noticiado".
Ao UOL, a prefeitura de Itaguaí informou que está sob um governo interino desde 1º de janeiro de 2025 por determinação da Justiça Eleitoral. "O prefeito interino é Haroldo Jesus, que era presidente da Câmara por ocasião da decisão judicial que invalidou o registro de candidatura de Rubem Vieira (Rubão)", informou a assessoria de imprensa. "Informamos que a Prefeitura de Itaguaí não tem posicionamento sobre a Operação Teatro Invisível II porque os fatos que as autoridades policiais investigam não fazem parte do contexto da atual gestão.
Candidatos à prefeitura de cidades do Rio também estavam entre os alvos. São eles: Valdecir Dias da Silva, conhecido como "Valdecy da Saúde" e candidato à prefeitura de São João de Meriti nas eleições de 2024, e Aarão Brito Neto, candidato à prefeitura de Mangaratiba. O UOL tentou contato com ambos, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
Foram identificados indícios de uso de recursos não declarados à Justiça Eleitoral para beneficiar candidatos nas eleições de 2024, segundo a PF. As investigações concluíram que parte dos investigados seria proprietária de empresas envolvidas em fraudes licitatórias em Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e São João de Meriti (RJ).
A ação é desdobramento da primeira fase da Operação Teatro Invisível, deflagrada em setembro de 2024. Na ocasião, a PF prendeu quatro pessoas suspeitas de integrar uma organização criminosa que propagava informações e notícias falsas sobre candidatos à prefeitura de mais de dez municípios do Rio de Janeiro.
A investigação teve origem a partir da análise do material apreendido. Segundo a PF, o grupo destruiu provas armazenadas em meios digitais, para evitar a responsabilização criminal de seus membros.
Novas provas de lavagem de dinheiro surgiram, informou a PF. As operações incluíram transações ilegais por meio de contas de passagem, uso de dinheiro em espécie, empresas com intensa movimentação financeira e aquisição de bens de alto valor.
Propagação de notícias falsas
Grupo atuava pelo menos desde 2016, segundo a PF.O órgão afirmou ainda que as ações dos criminosos influenciaram no resultado de ao menos três eleições municipais. Os membros se concentravam em São João de Meriti, mas o esquema era contratado e exportado para ao menos outras dez cidades fluminenses. A prefeitura do município informou que "nenhum dos investigados pela Polícia Federal tem relação com a atual gestão."
PF disse que esquema era "sofisticado e lucrativo". "As investigações revelaram que a organização criminosa, por meio de seus líderes — que chegaram a ocupar funções públicas em diversas cidades do estado do Rio de Janeiro —, desenvolveu um sofisticado e lucrativo esquema baseado na contratação de pessoas com o objetivo de influenciar no processo eleitoral de diversos municípios", divulgou a PF em setembro.
Contratados recebiam instruções sobre como propagar notícias falsas sobre determinado candidato. Na sequência, segundo a PF, "passavam a circular diariamente pelo município alvo, infiltrando-se em locais com aglomerações de pessoas como pontos de ônibus, padarias, filas de bancos, (...), difundindo aos eleitores falsas afirmações sobre um determinado postulante ao cargo de prefeito, no intuito de beneficiar o candidato para o qual o serviço criminoso fora contratado".
Propagadores de informações falsas ganhavam R$ 2.000 por mês. Os coordenadores recebiam dos líderes da organização R$ 5.000 mensalmente, além de serem contratados pela prefeitura. "No ano eleitoral, quando o esquema entrava em vigor, os coordenadores eram exonerados de seus cargos e substituídos por 'laranjas' — possíveis funcionários fantasmas —, a fim de manter o 'direito' sobre eles", segundo os investigadores.
Grupo produzia relatórios diários com prestações de conta. De acordo com a PF, o esquema de propaganda criminosa "possuía um processo de aferição de resultado (...) por meio da elaboração de relatórios diários das atividades, com a especificação da quantidade de eleitores abordados por dia, número de votantes em cada candidato e o total de eleitores convertidos para o candidato beneficiário do esquema criminoso".