Mulher que fala em fechar refinarias não é a que pichou estátua com batom

Publicações nas redes sociais enganam ao insinuar que uma mulher que aparece em um vídeo ameaçando fechar refinarias seja a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou a estátua da Justiça com batom durante os atos golpistas de 8 de Janeiro.
As imagens compartilhadas pelos posts desinformativos mostram outra pessoa: Ana Priscila Azevedo, administradora de grupos bolsonaristas nas redes sociais e participante da invasão das sedes dos Três Poderes.
O que diz o post
A publicação traz o vídeo de uma mulher enrolada na bandeira do Brasil. Ela diz: "Não estamos blefando, não. Nós vamos fechar entre oito e dez refinarias nas principais cidades e acabou. A esquerda vem pra cima? Venham; é isso que nós estamos querendo. Nós estamos doidos para o MST barrar os ônibus, fechar as estradas. Nós estamos doidos pra polícia vir pra cima e dar borrachada em nós. Venham, façam isso".
"Mas do que ela ta falando? A Santinha inocente do baton", diz o texto sobreposto ao vídeo, sugerindo que a mulher nas imagens seja a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos.
Por que é falso
Vídeo mostra outra mulher, e não Débora. Com o auxílio de uma busca reversa, o UOL Confere identificou que as imagens não são de outra pessoa. Reportagens que contêm trechos do vídeo usado pelas peças enganosas mostram que se trata de Ana Priscila Azevedo (aqui e aqui). Ela publicou o conteúdo original no X (antigo Twitter) na véspera dos atos golpistas de 8/1. O perfil dela está bloqueado no Brasil por conta de uma decisão judicial (aqui).
Supremo cita vídeo de Ana Priscila em ação penal. Em uma busca no site do STF (Supremo Tribunal Federal) por processos no nome de Ana Priscila (aqui), é possível chegar à ação penal contra ela por seu envolvimento nos atos golpistas de 8 de Janeiro (aqui). Na página 76 da peça (aqui e abaixo), há uma referência ao vídeo postado por ela em suas redes sociais. "No 07/01/2023, ou seja, no dia anterior aos atos antidemocráticos perpetrados, ANA PRISCILA envia vídeo no qual se encontra, possivelmente, no acampamento instalado em frente ao Quartel General, informando que não há blefe, que fechariam as refinarias nas principais cidades, deixando claro que a partir daquele momento haviam iniciado a revolução verde amarela".
Ana Priscila foi condenada a 17 anos de prisão. De acordo com a sentença do STF, ela foi condenada por cinco crimes: associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado (aqui e aqui). Ela está presa em Brasília desde 10 janeiro de 2023 (aqui).
Ana Priscila e Débora têm aparências diferentes. Vídeos com os depoimentos de Ana Priscila à CPI dos Atos Antidemocráticos (aqui e abaixo) e de Débora ao STF (aqui e abaixo) permitem afirmar que as duas não são parecidas fisicamente (abaixo).
Débora pichou estátua da Justiça com batom. A cabeleireira, que usou um batom para escrever "Perdeu mané" na estátua da Justiça, responde pelos mesmos cinco crimes atribuídos a Ana Priscila. O caso está em análise na Primeira Turma do STF, composta por cinco ministros (aqui). O placar está em 2 a 0 contra Débora, com os votos do relator Alexandre de Moraes e de Flávio Dino para uma condenação a 14 anos de prisão (aqui). Luiz Fux pediu vista, o que suspendeu o julgamento (aqui). Além do voto de Fux, faltam os de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. Moraes autorizou a prisão domiciliar da cabeleireira (aqui), cujo caso tem sido explorado pelos bolsonaristas para apoiar a anistia aos envolvidos nos atos golpistas (aqui).
Viralização. Até hoje, um post no Facebook tem mais de 7.500 visualizações.
Este conteúdo também foi checado pela AFP e Reuters.
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