Premiê francês alerta para crise orçamentária e acusa país de "não trabalhar o suficiente"
Em uma coletiva de imprensa, nesta terça-feira (15), dedicada à preparação do orçamento de 2026, o primeiro-ministro francês, François Bayrou, fez um balanço da situação financeira da França. O premiê disse que a dívida pública representa um risco real e que o país tem que "produzir mais" e "trabalhar mais". O governo francês está em busca de € 40 bilhões, cerca de R$ 234 bilhões, em economias no orçamento de 2026 para cumprir a meta de redução do déficit público dos atuais 5,4% du PIB - objetivo de 2025 - para 4,6% em 2026.
"Somente confrontando a verdade de nossa situação com os olhos abertos será possível sustentar uma ação determinada", declarou o premiê ao final de um encontro que reuniu ministros, parlamentares, representantes da Previdência Social, entidades sindicais e empresariais. Em um discurso que durou cerca de 40 minutos, o primeiro-ministro tentou explicar aos franceses a dimensão do esforço necessário. "Há momentos decisivos, e este é um deles", declarou, de forma solene.
Com o apoio de gráficos, François Bayrou listou os pontos fracos da França, que "não tem os meios" para financiar suas prioridades porque "não produz o suficiente e não trabalha o suficiente" em comparação com seus vizinhos. "A política de restauração da produção e da reindustrialização (...) deve se tornar uma obsessão para nossa nação", disse o primeiro-ministro.
"Se nossa produção per capita estivesse na mesma faixa que a de nossos vizinhos europeus, não teríamos esse déficit orçamentário", acrescentou, insistindo no impacto de "uma taxa de emprego mais baixa" entre os jovens e os idosos. Segundo ele, esse contexto está levando a um agravamento da dívida, que está se tornando "uma armadilha perigosa e potencialmente irreversível".
"Se as taxas de juros dispararem, será uma explosão garantida", à qual nenhum governo conseguirá resistir, lançou o premiê. No entanto, após fazer esse diagnóstico de uma situação que classificou de "intolerável" e anunciar "um esforço de cerca de € 3 bilhões a mais" em 2026 para a defesa, diante da guerra na Ucrânia e da reviravolta estratégica dos Estados Unidos, François Bayrou não detalhou nenhuma resposta concreta.
O chefe do governo se contentou simplesmente em anunciar que as "diretrizes gerais" e as "principais escolhas" para o próximo orçamento seriam propostas antes dos debates orçamentários no Parlamento previstos para o início de outubro.
Operação de comunicação?
Em baixa nas pesquisas de opinião pública e frequentemente acusado de inação após quatro meses a frente do governo, Bayrou foi imediatamente criticado pela oposição, que o acusa de fazer anúncios alarmistas sem necessariamente apresentar propostas concretas.
A chefe da extrema direita, Marine Le Pen, disse que a coletiva de imprensa de Bayrou "não estava à altura da grave crise que atinge as contas públicas. Do lado da esquerda, o parlamentar Eric Coquerel (esquerda radical) disse ter a impressão de ter assistido a uma "operação de comunicação".
A líder sindical da CGT (Confederação Geral do Trabalho), Sophie Binet, também disse que o primeiro-ministro não havia dado "nenhuma resposta" às suas "perguntas" e "questionamentos". Por sua vez, Marylise Léon, chefe da CFDT, o maior sindicato da França, lamentou a "visão contábil" do governo, dizendo que "não se pode elaborar um orçamento apenas com uma planilha do Excel".
Vingança
Segundo o jornal Le Monde, a principal incógnita não é o planejamento dos cortes em si, mas sim se o atual governo conseguirá apoio para aprovar a próxima lei orçamentária. O premiê já está sob ameaça de uma moção de censura dos partidos de esquerda e da bancada de deputados da extrema direita, que poderá se vingar da decisão judicial que tornou Marine Le Pen inelegível por cinco anos.
A rádio France Inter diz que uma das pistas em estudo no governo é reduzir consideravelmente os 467 programas de subvenções econômicas e benefícios fiscais concedidos ao setor empresarial e à população. O problema é que o Ministério das Finanças sequer tem análises detalhadas sobre o retorno dessas subvenções aos cofres públicos.
O jornal Le Parisien enumera a lista de medidas em estudo, entre elas o aumento da alíquota do Imposto de Renda para os salários elevados. Em 2025, a taxa passou para 20% para os contribuintes com salário anual superior a € 500 mil. Essa medida, válida por um ano, poderia se tornar definitiva. Outras possibilidades são reduzir auxílios públicos concedidos a empresas; aumentar a contribuição de aposentados; intensificar o combate às fraudes no sistema de Seguridade Social; e reduzir as subvenções para as reformas de adaptação à transição energética.
(Com AFP)