Anvisa aprova vacina do Butantan contra chikungunya; quando poderei tomar?

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou hoje o pedido de registro definitivo da vacina contra chikungunya criada pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica franco-austríaca Valneva. Com isso, o imunizante está autorizado para ser aplicado no país em pessoas acima de 18 anos.
O que aconteceu
Esta é a primeira vacina autorizada contra a doença, que já mata mais do que a dengue. 620 mil pessoas sofreram com chikungunya em 2024, a maioria delas no Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia. A doença é transmitida por meio da picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue e a Zika, e que carrega o seu vírus.
Bons resultados já haviam sido comprovados em 2024. Um estudo clínico de fase 3, em que apenas uma dose da vacina foi aplicada em adolescentes brasileiros, encontrou presença de anticorpos neutralizantes do vírus Chikungunya em 100% dos participantes que já haviam tido a doença anteriormente e em 98,8% daqueles que nunca haviam tido contato com o vírus.
A proteção foi mantida em 99,1% dos jovens após seis meses. Além disso, a maioria dos efeitos adversos registrados após a vacinação foi leve ou moderada, com relatos mais frequentes de dor de cabeça, dor no corpo, fadiga ou febre —como acontece com a vacina contra a gripe, por exemplo. Estas conclusões foram publicadas na revista científica de prestígio The Lancet Infectious Diseases em setembro do ano passado.
Testes também foram feitos nos EUA. Por lá, os 4.000 voluntários que participaram do estudo tinham entre 18 e 65 anos. 98,9% deles produziram anticorpos que neutralizavam o vírus e impediam a doença. A proteção durou seis meses, demonstrou outro artigo na The Lancet de junho de 2023.
Por isso, a "Anvisa americana" também já aprovou a vacina. Tanto o FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora dos EUA, quanto a EMA (European Medicines Agency), que libera medicamentos na União Europeia, já consideraram o imunizante seguro e deram o sinal verde para a aplicação.
Tradicionalmente, vacinas são aprovadas comparando o número de casos entre vacinados e não vacinados. Esta vacina é um caso inovador: como o vírus não circula tão frequentemente em toda parte, as agências decidiram analisar a quantidade de anticorpos que impedem a doença após a aplicação.
Quando poderei tomar o imunizante?
Por enquanto, ainda não há previsão de quando a população começará a ser vacinada. No entanto, a aprovação pela Anvisa do imunizante indica que a vacinação é uma realidade cada vez mais próxima.
O Butantan prepara uma versão da vacina com componentes nacionais. Assim, ficará mais fácil a produção cotidiana do imunizante para que ele seja oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Esta vacina "mais brasileira" já está em avaliação pela Anvisa, pelo Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), pelo Programa Nacional de Imunizações e demais autoridades de saúde.
A partir da aprovação pelo Conitec, a vacina poderá ser fornecida estrategicamente. No caso da chikungunya, é possível que o plano do Ministério [da Saúde] seja vacinar primeiro os residentes de regiões endêmicas, ou seja, que concentram mais casos. Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan
A chikungunya é uma doença transmitida por meio da picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue e a Zika, e que carrega o seu vírus. No Brasil, foram registrados 267 mil casos prováveis da doença e pelo menos 213 mortes em 2024, de acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde.
Os principais sintomas são febre de início repentino (acima de 38,5°C) e dores intensas nas articulações de pés e mãos, como nos dedos, tornozelos e punhos. Pode ocorrer também dor de cabeça, dor muscular e manchas vermelhas na pele. Alguns pacientes podem desenvolver dor crônica (ou seja, persistente) nas articulações, o que afeta muito sua qualidade de vida.
Ainda não existe tratamento específico para chikungunya. Por isso, enquanto a vacina não chega (e mesmo depois dela), é importante tomar os mesmos cuidados para evitar o mosquito que adotamos com a dengue: esvaziar e limpar frequentemente recipientes com água parada, como vasos de plantas, baldes, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, além de jogar fora o lixo sempre fechado e em uma lixeira adequada.