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Ensaio de candidatura de Nunes a governador irrita base aliada do prefeito

As possíveis articulações de Ricardo Nunes (MDB) tem irritado entorno do prefeito - Danilo Verpa/Folhapress
As possíveis articulações de Ricardo Nunes (MDB) tem irritado entorno do prefeito Imagem: Danilo Verpa/Folhapress
do UOL

Do UOL, em São Paulo

19/03/2025 05h30

Enquanto o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), faz possíveis articulações políticas para se lançar candidato ao governo do estado em 2026, nos corredores da Câmara dos Vereadores —e até mesmo entre aliados— sobram críticas ao emedebista.

O que aconteceu

Vereadores da base e da oposição ouvidos pelo UOL afirmam que Nunes ensaia candidatura. O prefeito teria enviado a lideranças de partidos aliados um print com resultados de um levantamento feito pela Paraná Pesquisas, divulgado em 25 de fevereiro, em que ele aparece na liderança das intenções de voto (27%) em um cenário ao governo de São Paulo sem Tarcísio de Freitas (Republicanos).

"Estamos em campanha", dizia uma das mensagens compartilhadas por Nunes. Para alguns, o tom foi de brincadeira. Para outros, confirmou o que seria o objetivo das últimas ações do prefeito: as eleições de 2026. Tarcísio é visto por uma das alas do bolsonarismo como o nome mais forte à disputa presidencial.

Tarcísio condiciona sua candidatura a presidência a convite de Bolsonaro. O governador de SP já disse a aliados que só aceitará a candidatura se o convite partir do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje inelegível.

Entusiasmo com cenários futuros. Aliado próximo de Nunes diz que a discussão é precipitada, mas admite que é um cenário possível. Pessoas ligadas a Tarcísio também veem o prefeito "entusiasmado" com as pesquisas de intenção de voto.

Sair da prefeitura seria trair eleitor, dizem lideranças políticas. Aliados e oposição afirmam que Nunes pensar em uma nova candidatura, com menos de três meses de mandato, significaria trair a confiança do eleitor. Durante a campanha, o emedebista afirmou que a eleição de 2024 era sua última disputa.

Nunes garante que ficará mais quatro anos na prefeitura

"Não estou fazendo nenhum movimento para eleição de 2026", disse Nunes ao UOL. O prefeito de São Paulo afirmou que seu foco é fazer uma boa gestão nos próximos quatro anos.

Vereadores, porém, dizem que Nunes está "arrogante" e se mostra ambicioso. Ouvidos pela reportagem em condição de anonimato, eles afirmam que, antes de vencer a eleição, o emedebista era conhecido pelo perfil conciliador e de quem entendia e respeitava o trabalho legislativo, já que foi vereador antes de chegar à prefeitura.

"Postura autoritária", dizem críticos. Diferentes lideranças paulistas, governistas e de oposição, se referem a ele atualmente com os apelidos de "imperador" e "reizinho", em alusão à suposta arrogância. Outros dizem que ele está "cego pela ambição" e que teria adotado "postura autoritária".

A insatisfação com a postura do prefeito atinge políticos de legendas aliadas, como PP e Republicanos. Essa mudança de tom do prefeito e as reclamações da falta de interlocução da administração municipal com a Câmara foram representadas em derrotas de Nunes na Casa —como durante a aprovação do projeto que obriga as votações em plenário a serem presenciais.

Nunes tem sido resistente a conselhos, afirmam lideranças políticas. Em reuniões, eventos e entrevistas, o prefeito sempre reforça total de votos que obteve na disputa eleitoral em 2024 —3.393.100. Em uma das ocasiões, uma pessoa arredondou o número de votos que o emedebista recebeu no segundo turno. Nunes então teria corrigido seu interlocutor ao falar o total por extenso. O comentário virou piada inclusive entre aliados.

Um vereador compara Nunes com João Doria e sugere que "terá o mesmo fim". A referência ao empresário é feita por Doria ter deixado a prefeitura da capital paulista no dia 6 de abril de 2018, um ano e três meses após assumir o cargo, para disputar o governo de SP. Depois, em 2022, chegou a se lançar à Presidência, mas, não aparecia competitivo nas pesquisas.

Nomeação de ex-prefeitos como secretários seria parte de uma articulação para criar bases aliadas em outras cidades e tornar Nunes mais conhecido. O emedebista escalou os ex-prefeitos de São Bernardo do Campo (Orlando Morando, na Segurança Urbana), de Suzano (Rodrigo Ashiuchi, na secretaria de Verde e Meio Ambiente), de Osasco (Rogério Lins, em Esportes) e de Jundiaí (Luiz Fernando Machado, em Parcerias e Desestatização) no primeiro escalão de sua gestão. Essa estratégia representa "articulação pura" para voos mais altos, diz um vereador.

O líder do governo na Câmara, Fábio Riva (MDB), e o líder do MDB, Marcelo Messias, disseram que o foco é a administração municipal. Riva afirmou que conversou com o prefeito na segunda-feira e que Nunes disse que quer "prefeitar" até 2028. "O foco é trabalhar pela cidade, e o compromisso é de prosseguir o que as urnas conferiram", afirmou o vereador.

Riva negou que a relação da Câmara com Nunes esteja em completo descompasso. "É como uma sintonia de rádio. Às vezes fica meio fora de sintonia, mas nada que venha atrapalhar a relação do Legislativo com o Executivo", afirmou. Segundo o líder da base, o governo tem se colocado à disposição para ouvir os vereadores.

Para Messias, ansiedade de vereadores para serem atendidos é o que gera críticas. "O prefeito começou a gestão, mudou algumas peças, e essas pessoas precisam compreender a máquina", disse. "Não é mais um governo Bruno Covas e Ricardo Nunes, não é mais um governo do PSDB. É do MDB, então essas mudanças demoram um pouco para serem assimiladas."

Acordo com Bolsonaro e fator Kassab

Políticos bolsonaristas não veem com bons olhos as articulações de Nunes para ser candidato ao governo paulista. Para vereadores do PL, se levar adiante esse projeto, o prefeito descumprirá o "acordo" com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Nunes precisa do apoio de lideranças da direita para se lançar candidato ao governo. Além de atrair Bolsonaro, são importantes as costuras com o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, o presidente da Alesp, André do Prado, e o presidente do PSD e atual secretário de Governo e Relações Institucionais de São Paulo, Gilberto Kassab —este último também seria um dos postulantes ao Palácio dos Bandeirantes, caso Tarcísio se lance ao governo federal.

Segurança pública na mira

Segurança urbana tem sido usada por Nunes para se aproximar do eleitor de direita. O entorno de Nunes diz que ele é considerado um político "morno" e precisa conquistar mais o público conservador —a escolha da área pode ajudar nesse desafio, avaliam aliados e a própria oposição.

Prefeito pressionou base aliada para aprovar mudança de nome da GCM (Guarda Civil Metropolitana) por Polícia Municipal na Câmara. "Desde as eleições, ele tem aparecido muito em treinamentos da Guarda, valorizando o Smart Sampa. Isso demonstra que ele viu na segurança pública uma oportunidade de se projetar", disse Carolina Ricardo, diretora-executiva do Sou da Paz.

Programa de monitoramento se tornou uma das vitrines de Nunes. O Smart Sampa reúne 20 mil câmeras instaladas em pontos da cidade com o objetivo de reduzir a criminalidade em regiões da capital. A política de segurança urbana funciona a partir de um sistema de reconhecimento facial e de identificação de placas de veículos furtados e roubados.

Mudança de nome da GCM para Polícia Municipal também é considerada "política" autoridades do setor. O projeto que altera o nome da corporação foi aprovado pela Câmara na quinta, não sem antes enfrentar resistência de parte dos vereadores, que viram pouca função na mudança do nome, sendo que as atribuições seguem as mesmas.

Em busca de consenso sobre policiamento municipal. A votação na Casa ocorreu depois de o STF decidir que os guardas municipais têm competência para exercer atividades de policiamento ostensivo, o que poderia ampliar seu escopo de atuação. Por ora, no entanto, não há consenso sobre o tema.

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