Copom eleva Selic em um ponto percentual, para 14,25%
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) elevou nesta quarta-feira (19) a taxa básica de juros da economia em um ponto percentual, para 14,25%, a maior em nove anos, dando prosseguimento às suas políticas de combate à inflação.
O quinto aumento consecutivo da taxa Selic, antecipado em janeiro pelo BCB, contraria os pedidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma redução dos juros para impulsionar o crescimento econômico.
O Copom citou como justificativa "um ambiente externo desafiador", especialmente em função da "incerteza" em torno da política comercial dos Estados Unidos. As tarifas impostas pelo governo de Donald Trump afetam as exportações brasileiras de aço.
Em relação ao cenário doméstico, o comitê mencionou o "dinamismo" dos indicadores econômicos, apesar dos sinais de "uma incipiente moderação no crescimento" e da persistência de um ritmo inflacionário de alta.
O Copom sinalizou um aumento da Selic de menor magnitude em sua próxima reunião, em maio, caso as condições atuais se mantenham. O ajuste de hoje para 14,25% confirmou as expectativas de mais de 100 instituições financeiras e consultorias indagadas pelo jornal econômico Valor.
A Selic atinge seu maior patamar desde o período de julho de 2015 a outubro de 2016, quando se manteve em 14,25%. Naquele momento, o país enfrentava uma forte recessão, sob o governo de Dilma Rousseff.
Lula é um opositor ferrenho do aumento da Selic, pois argumenta que os juros elevados impedem o crescimento ao encarecerem o crédito para consumidores e investidores.
Os bancos centrais usam o aumento da taxa básica de juros para reduzir as pressões sobre os preços ao inibir o consumo.
- Inflação, uma prioridade -
As ações do Banco Central desconsideram as preocupações com o crescimento econômico no Brasil, mesmo após a estagnação no último trimestre de 2024 em comparação com os três meses anteriores (0,2%), disse William Jackson, da empresa Capital Economics.
O BCB "deixou claro que se preocupa muito mais com a inflação elevada que com a debilidade da economia", indicou Jackson em comunicado.
Os preços de bens e serviços continuam subindo no Brasil. Em fevereiro, a inflação em 12 meses superou a barreira de 5% pela primeira vez desde setembro de 2023, fora do intervalo entre 1,5% e 4,5% contemplado pelas autoridades.
E pode fechar o ano em 5,66%, segundo as estimativas de instituições financeiras consultadas no Boletim Focus do Banco Central.
O aumento no custo dos alimentos, em especial, fez com que o governo anunciasse, no início de março, uma série de medidas, entre elas a eliminação das tarifas de importação sobre produtos como carne, açúcar e azeite de oliva.
Segundo especialistas, a escalada da inflação é uma das explicações para a queda da popularidade de Lula. Uma pesquisa divulgada no mês passado pelo instituto Datafolha indica que a aprovação do governo caiu para 24%, a mais baixa dos mandatos do petista.
O país registra, no entanto, bons indicadores, com um desemprego de 6,5% entre novembro e janeiro e um crescimento econômico de 3,4% em 2024, o melhor desempenho desde 2021.
"A economia brasileira continua aquecida, embora nós tenhamos visto sinais de desaceleração", disse à AFP Reginaldo Nogueira, diretor nacional das Faculdades Ibmec.
"Então, tudo isso fica avisado de que os juros vão continuar subindo, porém, provavelmente, num nível menor, que é também condizente com o que o mercado já acreditava ser necessário", acrescentou.
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