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Quem é mulher que deu golpe no Exército por 30 anos e deve devolver R$ 3 mi

Ana Lucia Umbelina Galache de Souza tinha 15 anos quando seu documento foi fraudado para enganar Exército - Reprodução/Redes Sociais
Ana Lucia Umbelina Galache de Souza tinha 15 anos quando seu documento foi fraudado para enganar Exército Imagem: Reprodução/Redes Sociais
do UOL

Do UOL, em São Paulo*

15/03/2025 05h30

Ana Lucia Umbelina Galache de Souza, 55, foi condenada a devolver R$ 3,7 milhões aos cofres do Exército, após aplicar um golpe na instituição por 33 anos. A sentença do STM (Superior Tribunal Militar) foi proferida no final de fevereiro e não cabe mais recurso.

Quem é a mulher

Ana Lucia é natural de Três Lagoas (MS). Ela viveu grande parte da vida com os pais biológicos, Silvestre Galache e Neuza Umbelina Galache. Ela foi casada com Ronaldo Ventura de Souza, cujo sobrenome foi incorporado ao seu nome. Nas redes sociais, Ana utiliza o nome "Ana Lucia Galache", dispensando o sobrenome "Zarate", que usou apenas para a fraude. Seu perfil no Instagram é fechado.

Embora tenha se passado por filha de Vicente Zarate, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, Ana Lucia nunca conviveu diretamente com ele. Vicente era seu tio-avô, e a relação entre eles não era próxima. A fraude foi iniciada quando ela ainda era adolescente.

Em 1986, aos 15 anos, Ana Lucia foi registrada falsamente como filha de Vicente Zarate. O documento foi feito no Cartório Santos Pereira, em Campo Grande, registrando Ana como filha do ex-combatente da FEB (Força Expedicionária Brasileira), segundo o processo que correu no STM.

Com a morte de Vicente em 1988, Ana Lucia passou a receber a pensão militar. O benefício deveria ser destinado a filhos legítimos de militares falecidos.

A ideia da fraude partiu de Conceição Galache, avó de Ana Lucia e irmã de Vicente Zarate. Conceição percebeu que, com a morte iminente do irmão, o benefício cessaria. Para manter a pensão na família, Conceição registrou Ana Lucia como filha de Vicente, mesmo sabendo que isso era ilegal.

A fraude só foi descoberta em 2021, quando a avó denunciou a neta. Após mais de 30 anos de repasse irregular, Conceição ficou insatisfeita com o repasse que Ana Lucia lhe dava e exigiu uma quantia de R$ 8 mil. Quando Ana não pagou, Conceição decidiu denunciá-la à Polícia Civil. Com a denúncia, o Exército suspendeu imediatamente o pagamento da pensão, e ela foi chamada a depor.

Em seu interrogatório, Ana Lucia confessou a fraude. Ela admitiu saber que Vicente Zarate era seu tio-avô, e não seu pai, e que utilizava o nome "Ana Lucia Zarate" apenas para obter a pensão militar. A fraude foi confirmada pela Administração Militar, que deu início aos processos judiciais contra ela.

A condenação

Ana Lúcia foi condenada por crime contra o patrimônio público e estelionato. A Justiça Militar entendeu que ela agiu de forma intencional para receber pensão indevida e a mulher terá que devolver o valor equivalente ao que recebeu durante as mais de três décadas. Além disso, ela também foi condenada a pena de três anos e três meses de prisão — no entanto, cumprirá a sentença em regime aberto.

O UOL não conseguiu contato com a mulher. O espaço segue aberto para manifestação. Ela era representada pela DPU (Defensoria Pública da União) desde 2022, e o órgão pediu sua absolvição por "ausência de dolo". A defensoria justificou que o registro da ré como filha do militar foi feito quando ela era menor de idade pela sua avó e irmã do militar. Ela deixou de ser atendida pelo órgão em dezembro passado.

O que diz o Exército

Exército diz que tem adotado medidas para evitar fraudes no sistema de pensões militares. "Após a apresentação da documentação com o requerimento de habilitação à pensão militar, a administração militar instaura uma sindicância, procedimento investigativo interno, medida formal destinada à apuração de fatos de interesse ou de situações que envolvam geração de direitos".

O Exército também destaca outras medidas utilizadas. As medidas incluem, segundo a Força, a fiscalização sobre o acúmulo de benefícios, a verificação da prova de vida anualmente e a consulta ao Sistema Nacional de Informações de Registro Civil, base de dados do governo para reunir informações sobre registros civis, "com o intuito de evitar prejuízo ao erário com o pagamento de benefícios indevidos".

* Com informações de matéria publicada em 12/10/2024

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