Museu de rua em SP é abandonado e depredado: 'Falta vontade política'
O servidor público Adeilton Almeida não soube responder ao ser questionado pela reportagem se há um museu na avenida Cruzeiro do Sul, zona norte de São Paulo. "Não sabia que existia", disse, justamente em frente ao Museu Aberto de Arte Urbana.
O que aconteceu
O espaço, que abriga cerca de 150 murais de grafite espalhados pelas colunas das estações do metrô Portuguesa-Tietê, Carandiru e Santana, não parece mesmo um local dedicado à arte. Os desenhos estão pichados, queimados por fogueiras feitas por pessoas em situação de rua, e até com cartazes colados por cima.
Binho Ribeiro, um dos grafiteiros idealizadores do projeto em 2011, diz que o museu recebeu apoio financeiro da prefeitura e do governo do estado no início. "Depois, fizemos as outras partes de forma 'underground', uma colaboração entre os artistas, mas ao menos havia um cuidado do poder público com o espaço. Agora, há trechos com luzes apagadas, fogueiras queimando as artes", reclama.
O museu nasceu de um acordo entre os artistas e as autoridades após 11 grafiteiros, entre eles Binho, serem presos por pintarem as colunas sem autorização. Seis meses depois da prisão, os artistas começaram o projeto.
Binho diz ter entrado em contato com a prefeitura e com o governo do estado algumas vezes nos últimos anos, cobrando a revitalização do espaço, mas não conseguiu uma resposta. "Não houve vontade política. É um local extremamente importante. Infelizmente, é pouco acolhido pelo poder público, mas entendo que essa movimentação que estamos fazendo pressiona os órgãos públicos para, talvez, pensarem no retorno que isso pode trazer para a população", afirmou.
Procurado pelo UOL, o Metrô afirmou ser responsável somente pela manutenção da estrutura ligada ao transporte. Já a Prefeitura de São Paulo disse que o museu é uma parceria entre o governo estadual e o Metrô. O município garantiu que faz o patrulhamento 24h da região e afirmou que equipes do Serviço Especializado de Abordagem Social percorrem a avenida para auxiliar as pessoas em situação de rua.
A reportagem também entrou em contato com o governo de São Paulo. Se houver resposta, o texto será atualizado.
Ocupação e segurança
Daniele Guerreiro acredita que a revitalização do Museu Aberto de Arte Urbana pode também ajudar com a segurança de quem passa pela avenida. "Eu não me sinto nem um pouco segura passando aqui. Não andaria à noite, por exemplo", disse.
A avenida Cruzeiro do Sul tem 301 registros de crimes ocorridos em janeiro deste ano. Apesar do medo de Daniele durante a noite, a maioria dos casos foi registrada pela manhã (62), seguido pela noite (51) e à tarde (40). Ainda há 17 ocorrências de madrugada, uma em horário incerto e 130 outros casos em que o período do dia não foi informado.
O crime que mais acontece no local é furto, com 211 registros, mas a tabela disponibilizada pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública) não detalha o que foi levado nesses casos. Depois, aparecem roubo (75), furto de veículo (7), lesão corporal dolosa (6) - quando há intenção no crime -, além de porte de arma e lesão corporal culposa por acidente de trânsito, com uma ocorrência cada.
Odair Sodré é proprietário de um restaurante próximo ao museu. Ele acompanha o projeto desde o começo e lamenta a situação atual do espaço. "Para mim, é uma obra de arte, maravilhoso. Todos têm acesso, não tem privilegiados. Qualquer um pode vir e admirar, sem pagar nada", afirmou.
Enquanto o apoio do poder público não acontece, os artistas começam a revitalizar o espaço por conta própria. No início de março, alguns grafiteiros iniciaram o processo de reforma de suas pinturas.
Binho estima que apenas dez grafites devem ser reformados nas próximas semanas. "São os artistas que se despuseram a fazer, têm condições de trazer escada ou mesmo um assistente", disse.