'Uma Preta em Paris': artista carioca lança 1° livro para inspirar mais mulheres negras periféricas
A partir da história de como seus pais se conheceram, Isabelle Mesquita relata em "Uma Preta em Paris" como ultrapassou dificuldades financeiras ao lado da família na Pavuna, subúrbio do Rio de Janeiro, até conseguir realizar seu sonho de morar fora e fazer carreira na "cidade luz". A artista e designer de moda carioca apresentará sua obra na França no dia 16 de março no Salão do Livro Africano de Paris. Ela lançou seu primeiro livro no dia 31 de janeiro na Livraria da Travessa, no Rio, e já conta com premiação internacional.
Isabelle subirá ao palco em Genebra, na Suíça, no dia 21 de março para receber o Prêmio Talentos Helvéticos-Brasileiros, ao lado de outros escritores vindos do Brasil, Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Itália homenageados no evento que gratifica autores de livros em português e francês que se destacam no cenário cultural dos países onde vivem.
Após conquistar prêmios na área da moda, negócios, design e até pesquisa científica, Isabelle Mesquita explica que a principal intenção de se lançar no mundo literário aos 36 anos é a representatividade: "Eu quero que mais pessoas da periferia, mais mulheres negras se vejam representadas na minha história, e que eu possa inspirar muito mais pessoas".
"Na verdade, eu quis ampliar a minha voz através dessas experiências que passei, vinda da periferia, de toda a dificuldade de acesso que a gente tem, até chegar nessa capital do luxo, da moda, do prestígio que é a minha área de estudo, a minha área de atuação. Eu senti a necessidade de utilizar mais uma ferramenta artística, que é a literatura, para poder diversificar todas essas experiências e representar outras pessoas que vêm do mesmo lugar que eu", conta.
A artista aponta que apesar das dificuldades de acesso e de trabalho como estrangeira e preta, não levou isso como uma barreira. "Eu fui avançando", diz Isabelle, que hoje comanda seu espaço de artes plásticas no 20° distrito da capital francesa, o Isabelle Mesquita Studio.
Educação como modificadora de realidade
Além de contar, nas mais de 200 páginas de seu livro, sobre sua formação desde a sua alfabetização até seus estudos superiores internacionais, sempre incentivada pela família. Ela descreve como seus pais faziam todos os esforços possíveis para que ela e sua irmã mais nova pudessem ter um bom ensino. Isabelle também traz na obra relatos da sua estrutura familiar e nuances de comportamento de familiares que a instigaram a ser persistente e correr atrás seus projetos pessoais.
Para ela, independente de classe social, é importante ser permitido sonhar desde criança e vislumbrar objetivos, mesmo que muitas vezes sejam considerados impossíveis para uma menina negra, filha de faxineiros religiosos, criada na periferia. Seus desejos infanto-juvenis chegaram a ser chamados por pessoas do entorno de seu núcleo familiar de "mania de grandeza".
"Por que está querendo o bom? Você não pode querer o bom. Então eu falo disso, a gente tem o direito de sonhar grande, sim, e de almejar as coisas boas e de conquistar", acredita a autora.
"Eu quis mostrar que a única saída que a gente tem vindo desse lugar é a educação. É só ela que pode nos dar a oportunidade de acender em algum lugar um pouco melhor do que realidade que a gente vive. Então eu falo muito sobre educação nesse livro. O quanto é importante a gente ter esse acesso, que ainda é muito difícil para muita gente", descreve Isabelle Mesquita.
A artista plástica radicada em Paris, é atualmente pós-graduanda em História da África e da Diáspora Atlântica pelo Instituto Pretos Novos, no Rio. Em seu livro, ela se intitula "artilista", uma mistura de arte, moda e ativismo em prol da igualdade racial e social.
Salão do Livro Africano de Paris
"Uma Preta em Paris" já foi lançado em formato eletrônico e pode ser encontrado nas plataformas digitais. O projeto de lançar o livro em francês está em andamento, segundo a designer, que fará o lançamento na França da versão original em português, no Salão do Livro Africano de Paris (Salon du Livre Africain de Paris) no próximo dia 16 de março. Além de apresentar "Uma Preta em Paris" no stand da Livraria Portuguesa e Brasileira, Isabelle participará da mesa redonda "Contribuições da África para a civilização brasileira".
"Vamos falar de tudo que a África trouxe para o Brasil na construção da nossa civilização. Se não fosse a África, eu não sei como seria hoje a nossa situação em relação a toda essa cultura, tudo que foi desgarrado do povo africano. Todo o sofrimento e tudo que a gente carrega hoje, toda essa trajetória desse povo", resume.
"Então a gente tem muito o que dizer e o Brasil é o convidado de honra do salão. Por isso que tem essa conexão e que eu vou estar lá", conta a autora, que também ilustrou seu livro.