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Jornalista em estado crítico após repressão policial em protesto argentino

13/03/2025 14h31

Um jornalista encontra-se em estado crítico nesta quinta-feira (13) após ter sido ferido enquanto cobria um protesto de aposentados apoiado por torcedores de futebol argentino em Buenos Aires. A manifestação acabou em violentos confrontos com a polícia, deixando 45 feridos e resultando na prisão de mais de uma centena de pessoas.

O repórter fotográfico Pablo Grillo, de 35 anos, foi atingido na quarta-feira na cabeça por um projétil de gás lacrimogêneo, conforme mostram as imagens, e levado a um hospital da capital argentina para ser submetido a uma cirurgia.

Seu pai, Fabián Grillo, afirmou que a cirurgia "salvou sua vida", que agora começa a "possível recuperação" e que os médicos realizariam outra intervenção ao longo do dia "para medir a pressão do outro lado do cérebro".

Na tarde de quarta-feira, a manifestação semanal dos aposentados exigindo um reajuste em suas pensões recebeu o apoio de torcedores de pelo menos trinta clubes de futebol, assim como de organizações sociais e sindicais.

A iniciativa surgiu quando um grupo de torcedores do Chacarita Juniors se uniu à manifestação dos aposentados na quarta-feira da semana passada, em defesa de um veterano do clube que havia sido atingido por gás lacrimogêneo em um protesto anterior.

Antes do início da manifestação, os manifestantes foram duramente reprimidos pela polícia com balas de borracha, gás lacrimogêneo e caminhões de jato d'água, enquanto alguns manifestantes responderam com pedras, pedaços de calçada quebrados e vandalizaram caçambas de lixo e viaturas policiais.

Os participantes pertencem a "diferentes setores que buscam a desestabilização total e absoluta" do governo, afirmou a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, alegando que alguns detidos portavam armas de fogo e armas brancas.

"Tivemos detidos torcedores e membros de torcidas organizadas", assegurou. "Vamos pedir [aos clubes de futebol] uma declaração de repúdio e que expulsem todos os associados a esses clubes que participaram da marcha", acrescentou.

O prefeito de Buenos Aires, Jorge Macri, acusou "grupos violentos muito organizados" de terem provocado os distúrbios, que causaram danos materiais estimados em 260 milhões de pesos (R$ 1,4 milhão). Dos 45 feridos, 20 eram policiais, informou.

Os detidos "serão acusados por destruição de carros, comércio, espaço público e por agressão a agentes da polícia (...) Temos provas e estamos reunindo mais evidências para construir um caso sólido", declarou o prefeito.

A vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, manifestou solidariedade aos feridos e descartou a teoria de que a mobilização buscava desestabilizar o governo: "Simplesmente acredito que é o exercício da democracia".

- "Objetivos" -

A juíza Karina Andrade liberou 114 dos 124 detidos, nas primeiras horas desta quinta-feira, argumentando que a informação recebida sobre as detenções era "imprecisa", sem "detalhes sobre a hora e o local" ou dados sobre o "delito específico" que supostamente haviam cometido, segundo o veredicto publicado pela mídia local.

A presidência criticou a decisão: "Aqueles que militam pela impunidade em todas as decisões também são cúmplices", disse o porta-voz Manuel Adorni.

Na tarde desta quinta-feira, um grupo de fotojornalistas se reuniu diante do Congresso e ergueu as câmeras para exigir a renúncia de Bullrich pela ação policial da véspera.

"Temos que exigir ao Estado nacional que garanta o direito ao protesto e à liberdade de expressão", disse durante o protesto o secretário-geral do sindicato de jornalistas de Buenos Aires, Agustín Lecchi. "Por isso exigimos a renúncia de Bullrich", acrescentou.

Os fotojornalistas são "alvos de repressão" do Ministério da Segurança, denunciou a Associação de Repórteres Gráficos da Argentina (Argra) em um comunicado.

Grillo foi "gravemente ferido pelas forças de segurança (...) e sua vida está em perigo, porque não houve uma única iniciativa política, institucional ou judicial para pôr fim à sua impertinência assassina e demagógica", declarou a Argra.

Além de Grillo, cerca de 20 jornalistas que cobriam o protesto foram atingidos por balas de borracha disparadas pela polícia, de acordo com a associação.

O chefe de gabinete, Guillermo Francos, referiu-se ao caso Grillo como um "acidente imprevisto".

Na noite de quarta-feira, panelaços foram ouvidos em repúdio à repressão em vários bairros de Buenos Aires. Além disso, centenas de argentinos marcharam espontaneamente de diferentes partes da cidade até a Casa Rosada (governo), para exigir a saída de Bullrich e Milei.

mry-lm/dga/jmo/aa/am

© Agence France-Presse

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