Familiares de presos ucranianos aguardam com ansiedade acordo de cessar-fogo, mas Moscou reluta
Enquanto Kiev aguarda a resposta de Moscou sobre um acordo de cessar-fogo na guerra, a expectativa aumenta para milhares de famílias de prisioneiros ucranianos, detidos na Rússia. Alguns desapareceram desde o início do conflito, há três anos.
Este foi o caso do filho de Natalia, Artem, um soldado engajado na defesa de Mariupol e que, desde abril de 2022, não deu mais notícias. "Quase todas as informações que recebemos sobre nossos parentes em cativeiro russo vêm daqueles que retornaram, daqueles que estavam nas mesmas celas com eles", explica Natalia, 50 anos.
A mãe organiza regularmente manifestações com outras famílias para pedir o retorno dos parentes detidos. Para ela, a ideia de uma trégua com a Rússia parece irreal, após tanto tempo de espera.
"Sinceramente, eu gostaria de acreditar que isso é possível. Mas há muitas pessoas em cativeiro, mais de 8 mil soldados ucranianos feitos prisioneiros e um grande número de civis", lamenta.
Os familiares costumam se encontrar em um pequeno café na margem esquerda de Kiev. Quando o presidente Volodymyr Zelensky aprovou um cessar-fogo, todos ali quiseram acreditar no sucesso da negociação, relata a correspondente da RFI na capital ucraniana, Cerise Sudry-Le Du. Zelensky insistiu na importância de incluir uma cláusula sobre a libertação de prisioneiros no projeto de acordo.
Enquanto aguarda respostas, Natalia promete que vai continuar se manifestando para exigir a libertação dos presos, como faz toda semana.
Projeto americano de acordo
O projeto de acordo foi resultado de uma iniciativa norte-americana. Os enviados dos Estados Unidos apresentam nesta quinta-feira (13) a proposta de Donald Trump para um cessar-fogo de 30 dias na Ucrânia, que foi aceita por Volodymyr Zelensky, após negociações sobre o assunto na Arábia Saudita.
O presidente dos EUA disse esperar que Vladimir Putin também concordará com o plano, mas foi evasivo sobre a pressão que poderia exercer sobre o presidente russo caso ele recuse.
Na tarde de quinta-feira, um avião que supostamente transportava o enviado dos Estados Unidos, Steve Witkoff, pousou em Moscou, segundo o site especializado Flightradar. No entanto, nenhuma fonte oficial confirmou ainda a chegada da delegação americana em solo russo.
"Os negociadores estão chegando de avião e contatos estão planejados", disse o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, confirmando um anúncio feito no dia anterior pelo presidente americano.
Moscou critica ideia de pausa de 30 dias
Enquanto isso, o Kremlin criticou a ideia de uma trégua de um mês, dizendo que apenas serviria para dar "um alívio" ao exército ucraniano. Washington está pressionando Moscou a aceitar uma trégua "incondicional" como um sinal de boa vontade, mas o conselheiro diplomático de Vladimir Putin, Yuri Ushakov, insistiu que a Rússia quer um acordo de "longo prazo" que leve em consideração os "interesses" e "preocupações" russos.
Putin, que "provavelmente" deve falar sobre o assunto nesta quinta-feira", de acordo com Ushakov, exige a rendição da Ucrânia, sua renúncia à adesão à OTAN e o controle russo dos territórios ucranianos ocupados.
Em uma entrevista à televisão russa, Yuri Ushakov sugeriu que o plano americano não agradava ao Kremlin. Uma trégua "nada mais é do que uma trégua temporária para os militares ucranianos", denunciou ele, garantindo que havia informado o conselheiro de segurança nacional americano, Mike Waltz, durante uma ligação na quarta-feira.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou a falta de uma "resposta significativa da Rússia".
Envio de tropas de paz seria ato de 'conflito direto'
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, ressaltou que o envio de forças de manutenção da paz europeias para a Ucrânia, uma ideia apresentada pelo Reino Unido e países da União Europeia no contexto de um eventual cessar-fogo, seria considerado por Moscou como um "conflito armado direto" com suas tropas.
"Responderemos por todos os meios disponíveis", alertou ela.
No front, diante de um adversário enfraquecido pela suspensão da ajuda militar dos EUA, os militares russos recapturaram com uma velocidade inédita territórios recuperados pelas forças ucranianas na região russa de Kursk, que Kiev queria usar como moeda de troca no caso de negociações de paz.
Leia tambémRússia é alvo de ataque de drones ucranianos, enquanto Trump espera que Putin aceite cessar-fogo
O exército russo reivindicou na quinta-feira a retomada da cidade de Sudja, a principal conquista ucraniana na região russa de Kursk desde o verão de 2024, no que marcaria um grande revés para as tropas de Kiev. A Ucrânia ainda não comentou o anúncio.
Durante sua primeira visita à região de Kursk desde a ofensiva ucraniana, Vladimir Putin disse, na quarta-feira, que esperava que a região "fosse completamente libertada em breve". Diante do avanço russo, o comandante-chefe do exército ucraniano, Oleksandr Syrsky, indicou na quarta-feira que suas tropas estavam se retirando da região, embora os combates "continuem", segundo ele, nos subúrbios e ao redor de Sudja, "quase totalmente destruídos".
Com informações da AFP