Saiba quem são os separatistas do Baluchistão que fizeram 450 reféns em um trem no Paquistão
Uma operação em larga escala das forças de segurança do Paquistão, nesta quarta-feira (12), resultou na libertação de 190 dos 450 passageiros sequestrados na véspera em um trem, por militantes separatistas. O ataque foi reivindicado pelo Exército de Libertação do Baluchistão (ELB), principal grupo separatista da província que faz fronteira com o Afeganistão e o Irã.
Os criminosos explodiram um trecho da ferrovia e tomaram o controle do trem, na noite de terça-feira (11), nesta região pobre do sudoeste do Paquistão, mas que tem grandes reservas de petróleo e minerais. Este seria um dos motivos para o local ser cenário frequente de muitos ataques separatistas.
Considerado como uma organização terrorista pelo governo do Paquistão, o Exército de Libertação do Baluchistão se tornou conhecido no ano 2000, depois que reivindicou a autoria de uma série de atentados contra as autoridades paquistanesas.
Há décadas, as forças de segurança combatem os insurgentes desta província. Os grupos rebeldes acusam as autoridades de permitir que estrangeiros explorem os seus recursos naturais sem que isso beneficie a população local.
Já se passaram quase 30 horas desde que combatentes rebeldes pararam o trem detonando uma bomba nos trilhos. Desde então, tropas paquistanesas foram enviadas para o Baluchistão em helicópteros de guerra. O acesso está bloqueando para esta província do Paquistão, que abriga vários canteiros de obras ? principalmente chineses ? nos setores de energia e transporte.
Segundo um balanço provisório, três pessoas, incluindo o condutor do trem, morreram durante o ataque no remoto distrito montanhoso de Sibi. Um policial e um soldado também foram assassinados. Uma fonte das forças de segurança confirmou à AFP que "uma operação em larga escala" para libertar os demais reféns estava em andamento.
"Até o momento, 190 passageiros foram resgatados e 30 terroristas morreram. Devido à presença de mulheres e crianças com criminosos suicidas, estamos procedendo com extrema cautela", declarou a fonte. "A operação continua para eliminar os paramilitares restantes", disse.
Os confrontos continuam e o destino de dezenas de passageiros permanece desconhecido. De acordo com fontes de segurança, "homens-bomba se posicionaram com seus cintos de explosivos entre os reféns".
Cena de filme
O trem havia saído por volta das 9h de Quetta, capital da província, (1h da madrugada no Brasil) rumo a Peshawar (noroeste), em uma viagem que deveria durar mais de 30 horas. O ataque aconteceu quase quatro horas depois da partida.
O ELB diz que quer trocar reféns por prisioneiros balúchis e divulgou um vídeo mostrando a explosão e dezenas de reféns sendo retirados do trem em meio às montanhas rochosas.
Babar Masih, um trabalhador de 38 anos, disse à AFP que viajava com seus pais, sua esposa, seu filho bebê e um sobrinho de oito anos. "De repente, ouvimos um grande estrondo e o trem parou", disse ele, "depois houve tiros que duraram muito tempo", continuou. "Agressores armados vieram para verificar os nossos documentos, mas deixaram sair os que estavam em família", disse.
As pessoas que conseguiram escapar tiveram de caminhar durante horas por um terreno montanhoso. "Não tenho palavras para descrever como conseguimos fugir. Foi aterrorizante", disse à AFP Muhamad Bilal, que viajava com a sua mãe no trem Jafar Express.
Os reféns libertados foram levados para a capital da província, afirmou uma fonte policial que pediu anonimato. As autoridades não mencionaram nenhuma vítima entre os reféns ou entre os membros das forças de segurança. Porém, nesta quarta-feira, cerca de 140 caixões foram levados preventivamente para Quetta.
Outros ataques
Em fevereiro, Exército de Libertação do Baluchistão já havia reivindicado a morte de sete punjabis (moradores da região do Punjabi paquistanês, vizinho ao estado de mesmo nome, na Índia). Em agosto, o grupo separatista matou 39 pessoas usando a mesma tática de interceptar linhas de transportes, incluindo a verificação dos documentos de identidade de passageiros em diferentes rotas, antes de matá-los a tiros, se fossem punjabis.
No início de novembro, o ELB colocou uma bomba em uma plataforma da estação ferroviária de Quetta, matando 26 pessoas, incluindo 14 soldados.
Em suas declarações, o ELB acusa "generais paquistaneses e a sua elite punjabi" de "saquear os recursos" dos balúchis, enquanto a sociedade civil balúchi, que regularmente realiza protestos pedindo não violência, acusa as autoridades de prender ativistas que lutam pela causa de seu povo.
O Centro de Pesquisa e Estudos de Segurança, sediado em Islamabad, estima que 2024 foi o ano mais mortal em quase uma década, com mais de 1.600 pessoas mortas em ataques rebeldes, incluindo 685 agentes de segurança.
(Com AFP)