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Réu por três mortes, médico diz que óbitos são 'ônus da profissão'

João Couto Neto é investigado por causar lesões e mortes de pacientes de Novo Hamburgo - Arquivo pessoal
João Couto Neto é investigado por causar lesões e mortes de pacientes de Novo Hamburgo Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

12/03/2025 16h43

O médico-cirurgião João Batista do Couto Neto, réu pelas mortes de três pacientes e investigado por outros 39 óbitos, foi ouvido pela Justiça em audiência na manhã de hoje, em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre.

O que aconteceu?

Ao chegar para prestar depoimento, o médico concedeu entrevista à reportagem da RBS TV, afiliada da TV Globo na região, e se defendeu. Questionado se teria algo a dizer às vítimas, ele criticou o uso do termo e afirmou que a morte é um ônus da profissão.

Depende do que consideramos vítimas. São pessoas que tinham doenças, patologias, e acabaram falecendo. Isso é um ônus da profissão médica, na qual não conseguimos salvar 100% das pessoas. João Batista do Couto Neto

Ele também afirmou que os números atribuídos a ele são elevados porque realizava uma grande quantidade de procedimentos. "Se considerarmos percentualmente, os números são baixíssimos", argumentou. O médico ainda negou ter negligenciado pacientes, e disse que estava no fórum para provar sua inocência com documentos.

Entenda o caso

João Batista do Couto Neto é alvo de investigação por 140 erros médicos. Do total, 42 resultaram em mortes de pacientes. Até o momento ele é réu em três desses casos, de dois homens e uma mulher.

Ele foi preso em dezembro de 2023, em Caçapava (SP), enquanto atendia no hospital municipal. No entanto, obteve um habeas corpus e foi solto dias depois, respondendo às acusações em liberdade.

Em São Paulo, o médico foi contratado como autônomo ou terceirizado para trabalhar em órgãos públicos e filantrópicos. Além do Hospital de Caçapava, ele atuou na AMA Sacomã e nos hospitais Mandaqui, Ipiranga, Pio 12 e São Francisco de Assis.

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul começou a investigar o caso após denúncias de pacientes. Os relatos apontam casos de infecção generalizada, trombose, embolia pulmonar e até demência após a realização de procedimentos pelo cirurgião. O médico atuava em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre.

Segundo a polícia, Couto Neto realizava a cirurgia em um órgão e acabava perfurando outro. Testemunhas disseram que pacientes que tinham complicações após os procedimentos eram tratados com descaso.

O médico chegava a fazer até 25 cirurgias em um único turno. Segundo a polícia, um dos objetivos do profissional seria aumentar os ganhos financeiros, o que impedia que ele desse o tratamento adequado dos pacientes. Em 2022, ele fez uma postagem em uma rede social comemorando a marca de 25 mil cirurgias realizadas.

As investigações apontaram que Couto Neto fazia cirurgias de hérnia, vesícula e refluxo. Muitos procedimentos, porém, teriam sido realizados sem a autorização dos pacientes. Em um dos casos, por exemplo, o médico teria cobrado pela retirada do útero de uma paciente com endometriose, mas não fez o procedimento.

O UOL entrou em contato nesta quarta-feira com a defesa de Couto Neto. O advogado que o representa estava em uma audiência, e por isso não se manifestou até o momento. O espaço segue aberto.

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