Por que avião da 2ª Guerra 'censurado' por Trump se chamava Enola Gay?

Por ordem do presidente Donald Trump, o Pentágono começou a remover, durante o fim de semana passado, fotos e conteúdos sobre diversidade e inclusão feitos pelas Forças Armadas dos Estados Unidos. Entre os registros apagados estavam imagens do histórico avião da Segunda Guerra, Enola Gay, apenas por causa de seu nome.
Como surgiu o nome?
Avião foi batizado pelo seu piloto, o coronel Paul Tibbets Jr., da Força Aérea dos EUA. Ele quis fazer uma homenagem à mãe, chamada Enola Gay Tibbets. Nascida e crescida em uma fazenda em Iowa, Enola Gay recebeu este nome em referência à personagem de um romance — "Enola; Or, Her Fatal Mistake", publicado por Mary Young Ridenbaugh em 1886 — que seu pai estava lendo pouco antes do seu nascimento.
Tibbets pediu para o soldado Nelson Miller, encarregado da manutenção das aeronaves da Força Aérea, pintar o nome logo abaixo da janela do piloto. O ajuste foi feito nas primeiras horas da manhã, pouco antes da decolagem para o bombardeio.
O coronel teria evocado a mãe como fonte de autoconfiança diante da missão. Posteriormente, Tibbets relembrou o momento do batismo do avião no livro "The Return of the Enola Gay", de 1998.
Meus pensamentos se encaminharam, a essa altura, para minha ruiva e corajosa mãe, cuja confiança silenciosa foi uma fonte de força para mim desde a infância e particularmente durante um período de introspecção, quando decidi abandonar uma carreira médica para me tornar piloto militar. Em uma época em que meu pai achava que eu tinha perdido a cabeça, ela ficou ao meu lado e disse: 'Você vai ficar bem, meu filho'. Paul W. Tibbets Jr.
A verdadeira Enola Gay teria se divertido com a homenagem. Ao menos, de acordo com os registros de relatos no arquivo casa de leilões Paul Fraser Collectibles, parceira do museu Smithsonian.
Que avião era esse?
Enola Gay, uma aeronave americana Boeing B-29, foi responsável pelo lançamento da bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945. Chamada de "little boy", a bomba explodiu a aproximadamente 600 metros do solo, causando uma onda de calor de mais de 4.000 ºC em um raio de cerca de 4,5 km.
Entre 50 mil e 100 mil pessoas morreram no dia da explosão, em decorrência da ação militar da "superfortaleza" Enola Gay. Metade dos sobreviventes acabou morrendo posteriormente, por exposição à radiação.
O destino do Enola Gay
Avião teve uma expressiva carreira militar. Depois do lançamento da bomba em Hiroshima, o Enola Gay participou da missão que lançou a segunda bomba sobre o Japão três dias depois, na cidade de Nagasaki. No entanto, ele serviu apenas para verificar as condições do tempo no local e não para o bombardeio em si.
Já nos anos 1950, ele foi utilizado nos testes com armas atômicas lançadas no Atol de Bikini. Em 1960, ele foi desmontado e armazenado na Base da Força Aérea Andrews, em Maryland. A essa altura, ele já tinha defeitos nas asas e em outras peças grandes, resultado dos anos de ação militar, segundo o Departamento de Defesa dos EUA.
Em 1984, os militares decidiram, finalmente, consertar o Enola Gay. O trabalho de restauração foi feito peça a peça e levou cerca de dez anos e 300 mil horas.
Avião só foi remontado em 2003. Hoje ele segue em exposição no Museu Aeroespacial dos EUA, mantido pelo Smithsonian em Chantilly, no estado da Virgínia. Ele pode ser visitado no Udvar-Hazy Center, onde a pintura original do nome ainda pode ser vista, ou através dos acervos digitais da instituição. O Enola Gay divide o centro com um vizinho ilustre, o ônibus espacial Discovery.
*Com informações de matéria publicada em 11/08/2023.