'Mais grave corrupção da história': como Milei abriu crise na Argentina

Uma publicação nas redes sociais do presidente da Argentina, Javier Milei, criou uma grande crise política no seu governo após o 'Criptogate'. Na última sexta-feira (14), ele divulgou a criptomoeda $Libra, de legitimidade duvidosa, o que causou dúvidas sobre a sua intenção com a publicação. A oposição classificou como o mais grave ato de corrupção da história argentina.
O que aconteceu
Poucos minutos após a divulgação de Milei, a criptomoeda recebeu cerca de US$ 4,4 bilhões (R$ 25,1 bilhões) em investimentos. O valor da $Libra passou de zero a quase US$ 5 (R$ 28,50).
Os donos do projeto, que tinham mais de 80% das moedas concentradas em cinco carteiras virtuais, venderam tudo quando a cotação estava em alta. Eles tiveram lucro de US$ 110 milhões (R$ 628 milhões). Rapidamente, a cotação da criptomoeda voltou a próximo de zero e milhares de pessoas foram lesadas pelo mundo.
Na segunda-feira (17), a bolsa de Buenos Aires desabou e a moeda argentina perdeu valor. As ações encolheram, em média de 5,6%, mas houve quedas de até 8%. As ações com cotação em dólares perderam 6,5% em média. A cotação do dólar financeiro, de acesso livre, subiu 2%. Os títulos públicos argentinos em dólar tiveram perdas de 2,5% em média.
O escândalo da criptomoeda fez com que os investidores duvidassem da credibilidade do governo e, por isso, frearam as decisões. O mercado norte-americano estava fechado na segunda-feira (17) devido ao feriado do Dia do Presidente. Nesta terça-feira (18), a Argentina terá maior dimensão do impacto na reputação de Milei após o caso.
A resposta do mercado pode estar associada às chances de Javier Milei sofrer um processo de impeachment. Por enquanto, essa opção parece improvável.
Possível impeachment
Mais de 100 denúncias chegaram à Justiça contra Milei após o caso da criptomoeda. São acusações de fraude, negociações incompatíveis com a função pública, mau desempenho, condutas contrárias à ética pública, conflito de interesses, tráfico de influências e até de associação criminosa.
No âmbito legislativo, a oposição quer avançar em um processo de impeachment do presidente. Entretanto, atualmente eles não possuem os votos necessários para isso. Na Argentina, são necessários dois terços das câmaras para que o projeto avance.
Um processo de destituição pode ganhar força caso surjam provas de que Milei se beneficiou com a criptomoeda. Ele também pode ter um grande desgaste político caso for instalada uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ou se a Justiça o indiciar por violar artigos do código penal, da lei de entidades financeiras e da lei de ética pública.
Alguns parlamentares estão inclinados para a instalação da CPI. Diferentemente do processo de impeachment, esse tipo de comissão precisa somente de maioria simples para ser instaurada. Porém, não está claro se há quorum para isso atualmente.
Milei se defende
Em uma estratégia para mostrar inocência, Milei pediu para que o Escritório Anticorrupção o investigasse. O presidente argentino também quer criar uma Unidade de Tarefas Investigativas, composta por representantes de organismos relacionados com criptomoedas, atividades financeiras e lavagem de dinheiro.
Na noite de segunda-feira, o presidente argentino deu uma entrevista para se defender das acusações. Ele afirmou que agiu de boa-fé?, que não é um especialista em criptomoedas, que não sabe nada de criptomoedas e que não recebeu dinheiro para divulgar a operação.
Milei também afirmou que quem investiu na criptomoeda sabia do risco, pois são especialistas nesse tipo de ativo. A $Libra seria uma memecoin?, uma criptomoeda que se valoriza de forma viral, conforme sua difusão na internet, e é criada mais como piada do que uma proposta séria. Se você for ao Cassino e perder dinheiro, não tem reclamação, disse.
O presidente também minimizou o número de lesados. Não foram 44 mil. Foram, no máximo, cinco mil, disse, acrescentando que quase não havia argentinos. A maioria era de norte-americanos e chineses, nenhum cidadão comum.
(Com RFI)