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Alta de casos de meningites bacterianas muda estratégias de vacinação na França

18/02/2025 09h56

Dados do Centro Nacional de Referência dos Meningococos mostram um aumento dos casos de meningites e de outras infecções causadas pela bactéria no país, após o fim das medidas sanitárias adotadas durante a epidemia de Covid-19.  

Taíssa Stivanin, da RFI em Paris

Segundo a agência de saúde francesa Santé Publique France, em 2023 foram notificados 560 casos de meningite meningocócica - um aumento de 72% em relação a 2022. Deste total, 44% estavam relacionados ao meningococo B, 29% ao W e 24% ao Y.

Esta alta é preocupante, pois a taxa de mortalidade de uma meningite bacteriana é de 10%, mesmo com um tratamento adaptado. Em média, a cada cinco pacientes, um terá sequelas graves, como explica o clínico-geral Samy Taha, pesquisador do Centro Nacional de Referência dos Meningococos do Instituto Pasteur, em Paris.  

A doença, transmitida por gotículas e secreções do nariz e da garganta, como tosse, espirro e troca de saliva, ataca as meninges, três membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. Ela atinge em uma proporção maior bebês de menos de dois anos, adolescentes e idosos acima de 75 anos. 

De acordo com o pesquisador francês, o distanciamento social e o uso de máscaras durante a epidemia diminuíram, de forma geral, a circulação dos micróbios, incluindo as bactérias que causam as meningites. 

Houve também uma queda de 20% nas vacinações, que influenciaram a imunidade de parte da população. Cerca de 10% das pessoas carregam os meningococos nas vias respiratórias, lembra Samy Taha, sem desenvolver infecções, mas podem transmiti-los.

Jovens retomaram vida normal mais rápido após a epidemia

A alta de casos na França após a pandemia de Covid-19 atinge principalmente adolescentes e se explica por várias razões, como a vida social mais intensa e a circulação entre populações de faixas etárias diferentes.

"Há muitos fatores que entram em jogo. Mas é provável que, após o fim das medidas restritivas, as primeiras pessoas que retomaram a vida social, incluindo viagens ou outros grandes eventos, tenham sido os adolescentes e jovens adultos. É por isso que aumento de número de casos atingiu primeiramente essa faixa etária", diz o pesquisador francês. 

Segundo ele, após a pandemia de Covid-19, outros sorogrupos de meningococos, antes raros no território francês, se tornaram mais frequentes nessa população. "Essa é a grande novidade. Depois do fim das restrições relacionadas ao Covid, houve um aumento importante das meningites relacionadas ao sorogrupo W e Y, principalmente na faixa etária entre 15 e 25 anos". 

Como os dois sorogrupos provocam infecções graves, as autoridades de saúde francesas decidiram modificar o calendário e a recomendação vacinal na França. As novas regras entraram em vigor no dia 1º de janeiro. "O que mudou é que a vacina contra o sorogrupo C foi substituída pela tetravalente, que protege contra os sorogrupos A, C, W e Y. Ela será obrigatória, com uma dose aos seis e aos 12 meses", explica o pesquisador francês.

"A Alta Autoridade de Saúde também recomenda um reforço da vacina tetravalente para adolescentes entre 11 e 14 anos, e uma atualização no máximo antes dos 25 anos, com uma dose única. A vacina contra o tipo B, que era apenas recomendada, tornou-se obrigatória para os bebês, em três doses: aos três, cinco e 12 meses", detalha. 

Antes, os bebês se vacinavam apenas contra o sorogrupo C, que hoje circula menos na França - apenas oito casos foram registrados em 2022. O sorogrupo B ainda é o mais comum e representa mais de 50% das infecções.

Sorogrupos W e Y provocam infecções invasivas mais letais

Segundo Samy Taha, os sorogrupos W e Y provocam um número maior de infecções invasivas por meningococos consideradas "atípicas", que são doenças diferentes das meningites. "Essas infecções, relacionadas aos sorogrupos W e Y, são mais letais e podem atingir o sistema digestivo e as articulações. São formas mais difíceis de serem diagnosticadas e, infelizmente, estão associadas a uma mortalidade maior, principalmente nas primeiras horas". 

Ela destaca que a meningite é apenas uma das formas de infecções graves provocadas pelos meningococos, apesar de ser a mais frequente. "Este é um trabalho de sensibilização que deve ser feito junto à população e aos profissionais de saúde. É importante ter essa noção". 

O pesquisador relembra ainda que é essencial também para pais e profissionais suspeitar de uma infecção invasiva diante de certos sintomas, que no início podem ser banais, como: pés e mãos gelados, febre alta, arrepios, intolerância à luz e ao barulho, dores musculares e nas articulações.  

Muitos vírus estão por trás desses incômodos, mas em função do estado geral do paciente, a infecção pelo meningococo não deve ser totalmente descartada. No caso da meningite, existem outros sinais de alerta mais específicos, como rigidez no pescoço, dor de cabeça forte, vômitos, confusão mental e sonolência também devem alertar.  

"As infecções invasivas causadas pelos meningococos são mortais sem tratamento. E mesmo se tratadas corretamente, com antibióticos e outros cuidados recebidos no Pronto-Socorro e nas UTIs, elas continuam apresentando uma taxa de mortalidade de 10%, com sequelas graves, neurosensoriais ou que levam a amputações. A melhor maneira de se proteger é a vacinação", alerta Samy Taha.

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