"É agora ou nunca", diz diretor-geral da OMS em nova rodada de negociações sobre acordo de pandemias
"É agora ou nunca" que um acordo internacional sobre pandemias deve ser concluído, disse o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, nesta segunda-feira (17), no início de uma nova rodada de negociações. As discussões acontecem sem a participação dos Estados Unidos, que se retiraram da organização.
Após tomar posse em janeiro, Donald Trump surpreendeu ao anunciar que o país deixaria a OMS, cancelando o financiamento de inúmeros programas. Washington também não participará das negociações durante o período de transição que antecede sua exclusão efetiva da organização e que dura um ano.
Os EUA notificaram oficialmente a organização de que não participariam das reuniões sobre o acordo de pandemias na última sexta-feira (14), disse Tedros. "Nenhum país pode se proteger sozinho. Os acordos bilaterais não nos permitirão ir muito longe", reagiu o diretor-geral da OMS. Ele diz esperar que Washington "volte atrás em sua decisão".
"Estamos em um momento crucial, que é o de preparar e finalizar o acordo sobre pandemias a tempo para apresentá-lo na Assembleia Mundial da Saúde" em maio, lembrou o diretor-geral da OMS na abertura da décima terceira rodada de negociações, na sede da organização, em Genebra.
As discussões desta semana visam concluir o acordo antes da reunião anual de todos os estados-membros da OMS. Se adotado, o tratado entre os 194 membros será vinculante, ou seja, os países se comprometem juridicamente a implementar as políticas estabelecidas durante as reuniões.
"É realmente agora ou nunca", reiterou o diretor-geral da organização. "Mas tenho certeza de que vocês escolherão o 'agora' porque sabemos o que está em jogo", declarou.
Despreparo dos governos
Em dezembro de 2021, os países membros da OMS decidiram elaborar um documento sobre prevenção e preparação para pandemias. O objetivo é evitar os erros cometidos durante a pandemia de Covid-19, que evidenciou o despreparo dos governos e a dificuldade em coordenar estratégias comuns para controlar a propagação do vírus Sars-Cov-2.
Várias questões importantes ainda continuam pendentes, como a criação de um sistema de compartilhamento de dados sobre patógenos emergentes, batizado de PABS (Pathogen Access and Benefit Sharing ou Acesso a Patógenos e Repartição de Benefícios).
Neste ponto, os países em desenvolvimento estão reticentes em fornecer informações que incluem sequenciamento genético, por exemplo, sobre seus patógenos, sem garantia de ter insumos farmacêuticos necessários para combatê-los, como vacinas, testes e tratamentos.
A transferência de tecnologia também gera divergências, já que os países mais pobres defendem que ela deve ser feita na base do "voluntarismo" e não condicionada a um acordo comum. Também ainda não há consenso em relação à doação de doses de vacinas para a OMS. A regulação dos contratos de produtos farmacêuticos, a divisão dos lucros e o financiamento das medidas propostas também geram polêmica.
Vigilância sanitária
A maioria dos países concordam, no entanto, que é necessário melhorar a vigilância sanitária e fitossanitária no comércio de produtos agrícolas. Alguns países alegam que tais medidas podem criar obstáculos protecionistas que beneficiem as nações mais ricas.
"Você se lembra das lições da Covid-19, que causou cerca de 20 milhões de mortes e continua matando. É por isso que estamos aqui para proteger as próximas gerações do impacto de futuras pandemias", insistiu Tedros nesta segunda-feira.
"A próxima pandemia não é uma questão de se, mas quando. Ao nosso redor, os vírus Ebola, Marburg, sarampo, varíola dos macacos, gripe e outras ameaças nos lembram disso", exemplificou.
(RFI e AFP)