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Teatro histórico de SP é demolido sem aviso: 'Ameaçaram me prender'

do UOL

Do UOL, em SP

16/02/2025 15h27Atualizada em 18/02/2025 08h33

A Prefeitura de São Paulo destruiu a sede do Teatro Vento Forte, fundado em 1984 no bairro do Itaim Bibi, zona sul de São Paulo, na quinta-feira (13), sem avisar ninguém, afirma o responsável pelo local, Claudeir Gonçalves, 52. O prédio fica no Parque do Povo.

"Destruíram tudo sem apresentar documento. Eu estava lá e perguntei o que estava acontecendo. Falaram para eu me calar ou iam me prender", diz. A prefeitura afirma que a demolição foi feita "com a ciência do responsável" para garantir a "reintegração de posse" do imóvel.

O que aconteceu

Prédio que abrigava o grupo de teatro Vento Forte foi demolido na quinta-feira. Hoje (16), houve uma manifestação no local para protestar.

A prefeitura disse que responsável tinha ciência da demolição, mas ele nega. A reportagem questionou a prefeitura sobre quem foi o responsável notificado, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

O teatro estava com as atividades pausadas, mas guardava um acervo de 40 anos de trabalhos. "Embaixo desses escombros há cenários, figurinos, peças de décadas de arte", diz Ademir de Castro, 54, arte-educador que frequentou o grupo por 27 anos.

Escombros do teatro Vento Forte, que existe desde 1984 em São Paulo - Camila Brandalise/UOL - Camila Brandalise/UOL
Escombros do teatro Vento Forte, que existe desde 1984 em São Paulo
Imagem: Camila Brandalise/UOL

Também foi iniciada a destruição de uma escola de capoeira na mesma área. "Soube só no outro dia de manhã que demoliram o espaço com minhas coisas dentro, não falaram nada antes", afirma o mestre de capoeira Messias dos Santos, 68.

A prefeitura afirma que a área era usada de maneira irregular. "Alguns espaços livres vinham sendo utilizados como estacionamento pago e havia uma banca precária na entrada que vendia bebidas", afirma o órgão. Advogado de Gonçalves, Carlos Alberto Santos Sousa diz que foi montada uma lanchonete para arrecadar dinheiro e bancar a manutenção do teatro.

A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo diz ter notificado os responsáveis em 31 de julho de 2023. "Não houve apresentação de documentação que comprovasse o direito de uso do imóvel público". Sousa afirma que não só não recebeu notificação como não consegue acessar o processo administrativo, cujo conteúdo estaria restrito.

A prefeitura rebate dizendo que Gonçalves até assinou uma notificação. "É equivocada a afirmação de desconhecimento do desfazimento e reintegração de posse da Prefeitura de São Paulo, tendo em vista que o mesmo assinou o auto de notificação e estava ciente do processo, que foi concluído em agosto de 2024", afirma a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Em nota enviada à imprensa, a prefeitura ainda disse que o local tinha "sinais de abandono" e que os objetos foram "retirados pelo responsável da atividade, com ajuda da equipe operacional da Prefeitura de São Paulo". No domingo, havia peças sob escombros e um piano destruído em meio ao concreto.

Gonçalves entrou no grupo aos 12 anos e assumiu a coordenação após a morte do fundador do grupo, Ilo Klugir, nome reconhecido nas artes cênicas brasileiras. Mas havia um embate entre ele e os integrantes do grupo para poder acessar o teatro.

A suspeita dos integrantes do grupo é de que o prédio tenha sido demolido por causa da especulação imobiliária. Hoje, o bairro do Itaim Bibi é um dos mais caros da cidade: o valor do metro quadrado chega a R$ 17 mil, segundo o índice FipeZap.

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