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Canibalismo de guerra: primeiros europeus comiam cérebros dos inimigos

Fragmento de crânio humano de Maszycka com marcas de corte - Antonio Rodríguez-Hidalgo/ IAM (CSIC-Junta de Extremadura), Francesc Marginedas/ IPHES-CERCA
Fragmento de crânio humano de Maszycka com marcas de corte Imagem: Antonio Rodríguez-Hidalgo/ IAM (CSIC-Junta de Extremadura), Francesc Marginedas/ IPHES-CERCA
do UOL

Do UOL, em São Paulo

16/02/2025 05h30

Restos mortais encontrados em uma caverna na Polônia revelaram que, na antiguidade, pessoas que moravam no que hoje é a Europa se alimentavam dos corpos de seus adversários durante as guerras.

É isso o que diz um estudo publicado no último dia 6, que analisou os corpos e identificou marcas de corte e fraturas que sugerem que os canibais removiam as orelhas e retiravam os cérebros de seus inimigos logo depois de sua morte.

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As descobertas foram divulgadas na revista Scientific Reports, lideradas pelo pesquisador Francesc Marginedas, um estudante de doutorado no Instituto Catalão de Patologia Humana e Evolução Social (IPHES).

Ele e seus colegas encontraram 53 ossos na caverna Maszycka, um sítio arqueológico próximo à Cracóvia. Os ossos têm ao menos 18.000 anos e pertencem a 10 pessoas: seis adultos e quatro crianças, segundo o site LiveScience.

Os pesquisadores usaram um microscópio 3D para identificar os sinais de canibalismo. Eles estavam presentes em 68% dos ossos. Os sinais encontrados eram incompatíveis com ataques de animais carnívoros ou com os de pessoas pisoteadas.

Olhando especificamente para os fragmentos do crânio, eles encontraram cortes compatíveis com escalpelamento, retirada de pele e remoção de orelhas e queixo. Além disso, fraturas específicas sugeriram que as pessoas estavam quebrando os crânios dos mortos especificamente para retirar seus cérebros. O fato de que os ossos eram manipulados após as mortes "sugere fortemente" comportamento canibal.

A localização e frequência dessas marcas e as fraturas intencionais nos esqueletos mostram claramente uma exploração nutricional desses corpos.
Francesc Margineda, líder da pesquisa

O padrão dos cortes e das fraturas também indica que os canibais priorizavam a retirada de partes mais "nutritivas" e "altas em caloria" dos corpos - o que inclui o cérebro, músculos e medula óssea. Já a razão para o suposto comportamento não é explicado pelo estudo.

"No contexto pré-histórico pode ter sido uma tática de sobrevivência, algo para a prática de rituais ou até parte da dinâmica de violência entre grupos", teorizou Palmira Saladié, co-autora do artigo e também pesquisadora no IPHES.

Como não existe evidência de que os mortos foram enterrados de forma respeitosa e os restos humanos estavam misturados a ossos animais, os pesquisadores acreditam que a prática era um "canibalismo de guerra": um resultado de um crescimento populacional não planejado combinado a poucos recursos no período Magdaleniano -de 23 a 11 mil anos atrás—que pode ter levado a tensões por território e por sobrevivência.

No caso dos esqueletos de Maszycka, a teoria é de que eles pertenciam ao mesmo núcleo familiar. A sugestão foi feita a partir do "perfil etário" dos ossos. Ainda segundo o site LiveScience, evidência de canibalismo já foram encontrada em outros sítios arqueológicos europeus do mesmo período —às vezes o canibalismo acontecia dentro da comunidade, outras vezes com os inimigos.

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