Líbano reage com dezenas de prisões após ataque visando comboio da ONU perto do aeroporto de Beirute
As autoridades libanesas anunciaram neste sábado (15) a prisão de 25 pessoas suspeitas de envolvimento no ataque da véspera visando um comboio da ONU em uma estrada nos arredores de Beirute. A pista estava bloqueada por partidários do grupo Hezbollah.
Com informações de Paul Khalifeh, correspondente da RFI no Líbano, e agências
O anúncio das prisões foi feito pelo ministro libanês do Interior, Ahmad Al-Hajjar, após uma reunião de segurança sobre o ataque visando o comboio da Força Interina da ONU (Unifil). "Isso não significa necessariamente que esses detentos tenham cometido o ataque", disse o ministro à imprensa. A investigação "mostrará quem é o responsável" e o Exército vai intensificar as medidas de segurança, completou.
Na noite de sexta-feira (14), um comboio da Unifil que transportava capacetes azuis para o aeroporto internacional de Beirute foi "violentamente atacado e um veículo foi incendiado", segundo informou a força das Nações Unidas. Um vice-comandante da força da ONU ficou ferido.
O ataque ao comboio da Unifil ocorreu após protestos organizados por supostos apoiadores do Hezbollah contra a proibição de pouso de aeronaves civis iranianas no Líbano. Grupos de jovens enfurecidos bloquearam várias ruas da capital, inclusive a que leva ao aeroporto de Beirute.
A onda de prisões logo após uma reunião de emergência dos chefes dos serviços de segurança, com a presença do primeiro-ministro libanês, Nawaf Salam, e do ministro do Interior, assim como a rapidez com que os serviços de segurança reagiram, mostra a determinação das autoridades políticas em evitar qualquer repercussão após um forte aumento das tensões no país nos últimos meses.
Hezbollah não reagiu ao ataque
O ataque às forças de paz provocou uma onda quase unânime de condenação no país. O presidente libanês, Joseph Aoun, afirmou que "os agressores serão punidos" e que as forças de segurança serão implacáveis com qualquer pessoa que tente "perturbar a estabilidade e a paz civil." Já a Unifil se declarou "chocada com esse ataque escandaloso" e exigiu das autoridades libanesas uma investigação imediata para que todos os responsáveis sejam punidos.
Mas, até o momento, o Hezbollah permaneceu em silêncio. Sem mencionar o incidente, um membro do parlamento do partido xiita denunciou a proibição do pouso de aeronaves iranianas em Beirute e a decisão de Israel de manter posições dentro do território libanês após o fim de sua retirada completa do país, prevista para 18 de fevereiro.
Frágil trégua no sul do Líbano
Israel tem acusado repetidamente o Hezbollah de usar o único aeroporto do Líbano para receber armas do Irã. O Hezbollah e as autoridades libanesas negaram essas acusações.
Uma guerra aberta opôs o Hezbollah a Israel de setembro a novembro de 2024. O movimento libanês, que dominava a vida política do país, saiu enfraquecido depois que sua liderança foi parcialmente dizimada por Israel.
Uma trégua, que entrou em vigor no final de novembro de 2024, foi prorrogada até 18 de fevereiro deste ano. Essa é a data limite para que Israel retire suas tropas do sul do país, com o objetivo de que o exército libanês, que deve desmantelar a infraestrutura do Hezbollah, possa se posicionar em coordenação com a Unifil.
No entanto, essa trégua tem se mostrado cada vez mais frágil. Na tarde deste sábado, a agência libanesa de notícias informou que um drone israelense realizou um ataque no sul do Líbano. As autoridades indicaram que não foram registradas vítimas, mas que "drones e aeronaves de vigilância continuam a sobrevoar a região em baixa altitude".