Bairro onde ciclista foi morto teve 8 celulares roubados por dia em 2024

A região do Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo, teve uma média de oito roubos ou furtos de celulares registrados por dia em 2024. O número representa uma ocorrência a cada três horas. Na quinta-feira (13), o ciclista Vitor Medrado, 46, foi morto com um tiro na região do pescoço enquanto estava com sua bicicleta ao lado do Parque do Povo, no bairro.
O que aconteceu
Na cidade de São Paulo foram roubados ou furtados 161.249 aparelhos em 2024. Foram em média 440 ocorrências do tipo a cada 24 horas —ou 18 a cada hora— no último ano. O número consta no levantamento feito pelo UOL a partir de dados disponibilizados pela SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública do estado). Como nem toda vítima registra uma ocorrência, há subnotificação de dados.
O bairro do Itaim Bibi teve 3.039 registros de furtos e roubos entre janeiro a dezembro do ano passado. Do total, os furtos —subtração de algo sem violência— representaram 1.926 ocorrências, enquanto roubos —subtração mediante grave ameaça ou violência— totalizaram 1.113.
Dados mostraram que as ocorrências de furto e roubos na região caíram 13,4% em 2024 ante 2023. Há dois anos, os furtos denunciados à polícia foram de 1.866, já os roubos, 1.642.
Horários dos crimes em 2024. Entre as ocorrências de furto na região, 19 delas foram cometidas entre 05h e 07h. Enquanto foram 34 roubos no mesmo horário. Medrado foi morto por volta das 06h10.
Entre 2023 e 2024, dois latrocínios (roubo seguido de morte) foram registrados no 15ºDP, responsável pela área do Itaim Bibi. Os dados não especificam quais objetos foram levados na ocasião. Porém, segundo o levantamento feito pela reportagem, não houve morte ligada a roubos e furtos de celulares no bairro nos últimos dois anos.
'Números são altíssimos', diz especialista
"Falta uma ação mais efetiva da política de segurança pública de São Paulo." Para Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), a Polícia Militar precisa estar mais presente nas ruas, ter investimentos e haver a contratação de mais agentes para as polícias Militar e Civil de São Paulo.
O especialista também destaca ser necessário que a Polícia Civil tenha atuação mais eficaz na investigação desses tipos de crimes. A medida também deve incluir na investigação as quadrilhas envolvidas nos furtos e roubos e também no repasse desses aparelhos.
Esse é um problema grande na cidade de São Paulo, mas tem que estar sob controle. Hoje, ele está completamente fora de controle na cidade toda, essa questão de furto e roubo de celular. A gente precisa de uma polícia Civil e Militar mais atuante e uma secretaria de segurança pública preocupada com essa questão e fazendo inovações para que a gente possa enfrentar esse crime de forma decidida.
Rafael Alcadipani, professor da FGV
O que diz a SSP-SP?
SSP-SP diz que patrulhamento na região foi intensificado após o crime. Eles ainda informaram que o caso é investigado pelo 15º DP (Itaim Bibi) e que diligências são realizadas para identificar e prender os autores da ocorrência.
A pasta ainda apontou que houve redução de 9% dos casos de furtos e roubos em 2024, ante 2023, na capital paulista. Também afirmaram que 379 criminosos envolvidos com esses crimes foram presos por meio da Operação Mobile e 54.990 aparelhos (não necessariamente roubados ou furtados no ano passado) foram apreendidos e mais de 35 mil foram devolvidos aos donos.
Morte de ciclista foi gravada
Imagens de câmera de segurança registraram a ação criminosa contra o ciclista. Na gravação, é possível ver quando Vitor Medrado é abordado por dois homens em uma moto.
A vítima cai no chão após ser atingida por um disparo na região do pescoço. O outro, que estava na garupa, desce da moto e pega o celular de Vitor. Depois, ele volta para o veículo e os dois criminosos deixam o local. A vítima foi socorrida ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu ao ferimento e morreu. O caso foi registrado como latrocínio.
Na quinta-feira, uma pessoa que trabalha próximo ao Parque do Povo contou ao UOL que já presenciou muitos furtos e assaltos na região. Segundo a pessoa, que preferiu não se identificar por segurança, os casos ocorrem com frequência enquanto as vítimas estão usando o celular.
Ex-mulher de Vitor, Gisele Gasparotto, que também é ciclista, diz que recebeu a notícia com um misto de indignação e tristeza. A fala ocorreu durante uma homenagem à vítima na sexta-feira (14).
O Vitor não é a primeira vítima e não será a última. Eu já fui assaltada, muitos colegas já tiveram seus pertences levados, seja bicicleta, seja celular, e as coisas não mudam. O policiamento vem e fica uma semana. Que a morte dele não seja em vão e que a gente consiga praticar nosso esporte com segurança.
Gisele Gasparotto, ex-companheira da vítima