Zelensky encontra Vance, mas Ucrânia não é prioridade dos Estados Unidos em conferência de Munique
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse na sexta-feira (14) que teve uma "boa conversa" com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, às margens da Conferência de Segurança de Munique. O representante de Washington atacou as democracias europeias em seu discurso no evento, deixando de lado o conflito na Ucrânia.
J.D. Vance afirmou que Washington quer garantir uma paz "duradoura" após sua primeira reunião com o presidente da Ucrânia, sobre os esforços para negociar o fim da guerra com a Rússia. O encontro na Alemanha é considerado um momento crucial para Kiev, que busca manter os Estados Unidos ao seu lado após o presidente Donald Trump surpreender seus aliados ao lançar conversas com o líder russo Vladimir Putin para encerrar o conflito.
"Queremos alcançar uma paz duradoura, não aquele tipo de paz que acabará com o leste europeu em conflito dentro de alguns anos", declarou Vance ao final da reunião.
O vice-presidente americano afirmou que ambos tiveram uma "boa conversa" sobre como alcançar esse objetivo e que continuariam conversando "nos próximos dias, semanas e meses".
A perspectiva de negociações de paz, prometida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, após conversas com Vladimir Putin, esta semana, deveria dominar a agenda da conferência, mas Vance, que nunca escondeu seu ceticismo sobre a ajuda à Ucrânia, mencionou pouco o conflito em seu discurso.
Volodymyr Zelensky também não foi muito mais comunicativo após seu encontro com o vice-presidente americano, dizendo que esperava que as discussões continuassem para "desenvolver um plano" capaz de deter a guerra de agressão russa.
"Estamos prontos para avançar o mais rápido possível em direção à paz real", disse ele, acrescentando que nenhum acordo poderá ser alcançado sem Kiev.
O presidente ucraniano havia dito anteriormente que estava disposto a negociar diretamente com Vladimir Putin no dia em que a Ucrânia chegasse a um acordo com os Estados Unidos e seus aliados europeus sobre um "plano comum".
"Eu me encontrarei com apenas um russo, Putin, e somente quando tivermos um plano comum com Trump e a Europa. Nos sentaremos com Putin e pararemos a guerra. Só então estarei pronto para uma reunião", disse ele.
Os anúncios de Donald Trump na quarta-feira (12) causaram impacto nas capitais europeias. Algumas temem ser excluídas de um acordo para encerrar a guerra que pode ser muito favorável à Rússia e comprometer a segurança de alguns países da Europa.
Mas J.D. Vance, que também se reuniu antes do início da conferência de Munique com o Secretário-Geral da Otan, Mark Rutte, não fez nenhum gesto para tranquilizar os europeus, a quem ele pediu principalmente que aumentassem seus gastos militares para garantir sua própria segurança.
Ataques à Rússia
Seu porta-voz, William Martin, também comentou as declarações feitas pelo vice-presidente em uma entrevista publicada na sexta-feira pelo Wall Street Journal, afirmando que foram mal interpretados.
Nessa entrevista, Vance sugeriu que os Estados Unidos estavam preparados para impor sanções econômicas adicionais a Moscou, ou até mesmo usar a força, se Vladimir Putin rejeitasse um acordo de paz que garantisse a independência de longo prazo da Ucrânia. "Existem ferramentas de pressão econômica e, claro, existem ferramentas de pressão militar", disse ele.
Martin afirmou que não eram ameaças contra a Rússia, em resposta ao pedido do Kremlin a Washington para "esclarecer" essas observações que, se tivessem sido confirmadas, teriam constituído, segundo Moscou, "um elemento novo".
Ao lado de J.D. Vance, Mark Rutte disse que queria "colocar a Ucrânia em uma posição de força máxima quando as negociações começarem". Deve haver "paz duradoura (e Putin) nunca mais deve tentar tal operação", ele insistiu.
Segundo o Secretário-Geral da Otan, o vice-presidente americano está "absolutamente certo" ao declarar que a Europa deve "intensificar seus esforços" para garantir sua defesa. "Precisamos avançar nessa direção e gastar muito mais", insistiu.
Temores de paz de fachada
Em resposta à insistência de Washington, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse na sexta-feira que Bruxelas proporia isentar os investimentos em defesa das regras de cálculo dos déficits públicos dos estados-membros.
Volodymyr Zelensky pediu, antes da abertura da conferência de Munique, para que não "acreditassem nas declarações de Putin de que ele está pronto para acabar com a guerra".
Os líderes europeus expressaram temores de um acordo que apenas congelaria o conflito na Ucrânia sem dissuadir a Rússia de retomar sua ofensiva mais tarde.
Em uma entrevista ao Financial Times publicada na sexta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron alertou contra uma "paz que seria uma capitulação" na Ucrânia, acrescentando que caberia a Zelensky discutir questões territoriais e de soberania.
"A única questão neste estágio é se o presidente (russo Vladimir) Putin está genuinamente, sustentavelmente e credivelmente disposto a aceitar um cessar-fogo nesta base. Depois disso, cabe aos ucranianos negociar com a Rússia", disse Macron.
No início da conferência de Munique, a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, disse que "uma paz de fachada, desafiando os ucranianos e os europeus (...) não traria segurança duradoura, nem ao povo ucraniano, nem a nós, na Europa, nem nos Estados Unidos."
"A paz só virá pela força. Isso requer garantias de segurança fortes e de longo prazo para a Ucrânia, uma Otan forte e progressos nas negociações de adesão da Ucrânia à União Europeia", acrescentou.
(Com AFP e Reuters)