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Crise judicial e política em Nova York, onde promotoria resiste a Trump

14/02/2025 17h34

A pressão do governo de Donald Trump sobre os tribunais para livrar o prefeito de Nova York de um julgamento por corrupção, com o pano de fundo das deportações de imigrantes, está encontrando resistência entre os promotores e provocando uma crise na maior cidade dos Estados Unidos.

Nesta sexta-feira (14), o prefeito democrata Eric Adams apareceu bastante sorridente nos estúdios da emissora conservadora Fox News, em companhia do "czar da fronteira" Tom Homan, chefe do programa de deportação em massa de imigrantes em situação irregular prometido por Trump durante a sua campanha, que suscitou temores de violações dos direitos humanos entre as organizações de defesa dos imigrantes.

Este é mais um sinal de sua aproximação com a direita, após afirmar no dia anterior que estava disposto a colaborar mais estreitamente com o governo Trump no tema das deportações.

Mas, por trás dos sorrisos, a ordem de segunda-feira do Departamento de Justiça aos promotores de Manhattan para que retirem as acusações de corrupção contra Adams em um caso de financiamento ilegal de campanha e suborno que envolve a Turquia está causando uma agitação política sem precedentes em Nova York.

- Ameaças -

A procuradora interina para o Distrito Sul de Nova York (Manhattan), Danielle Sassoon, apresentou na quinta-feira sua demissão em uma carta de oito páginas redigida em duros termos.

Ela foi acompanhada pelo procurador assistente e, segundo o jornal New York Times, outros cinco funcionários da divisão anticorrupção do Departamento de Justiça.

Sassoon assinalou em sua carta que se negava a eliminar um caso "por razões que não têm nada a ver com [sua] solidez".

"Sob nenhum regime livre se pode permitir que o governo utilize a retirada de acusações como prêmio, ou a ameaça de voltar a apresentá-las, para induzir um funcionário eleito a apoiar seus objetivos políticos", acrescentou, por sua vez, o procurador assistente Hagan Scotten, em um e-mail difundido pelos meios de comunicação americanos.

O número dois do Departamento de Justiça e ex-advogado pessoal de Trump, Emil Bove, escreveu claramente que "os julgamentos pendentes restringiram indevidamente a capacidade do prefeito Adams para dedicar toda a sua atenção e recursos para combater a imigração ilegal e a delinquência".

- Watergate -

"A negativa do procurador assistente e de vários outros promotores a cumprir a diretiva do Departamento de Justiça de retirar as acusações contra [Eric] Adams é uma extraordinária e notável afronta e um ato de desafio", declarou à AFP Bennett Gershman, ex-promotor estadual de Nova York e professor de Direito na Universidade de Pace.

O episódio o faz lembrar da enxurrada de demissões de altos magistrados em 1973, que incluiu o procurador-geral da época, por negar-se a cumprir as ordens do ex-presidente Richard Nixon no escândalo Watergate.

Ao meio-dia desta sexta-feira, Adams continuava oficialmente indiciado no caso.

Ex-capitão da polícia e de 64 anos, o prefeito nova-iorquino foi indiciado em setembro com cinco acusações, entre elas suborno e fraude, por receber doações ilegais para sua campanha eleitoral de 2021 e aceitar presentes luxuosos de empresários e funcionários turcos em troca de favores.

Adams se declara inocente e pretende concorrer à reeleição em novembro deste ano.

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© Agence France-Presse

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