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Cacá Diegues tinha uma longa história com Festival de Cinema de Cannes

14/02/2025 15h53

Conhecido no exterior como um dos ícones do Cinema Novo, o diretor Cacá Diegues, morto aos 84 aos na madrugada desta sexta-feira (14), viveu na Europa durante a ditadura militar. Mas antes mesmo de sua estadia como exilado, sua história com o país europeu começou em Cannes nos anos 1960, onde seu primeiro longa foi selecionado para a Semana da Crítica. Desde então, ele marcou presença várias vezes no principal evento do cinema mundial.

Cacá Diegues morou na França entre 1969 e 1972. Exilado com sua mulher Nara Leão, ele chegou a trabalhar para a televisão pública local e sua primeira filha, Isabel, nasceu em Paris. Mas foi bem longe da capital, no sul do país, que sua relação com a França começou.

"Eu vim a Cannes pela primeira vez em 1964, com 'Ganga Zumba', meu primeiro filme, na Semana da Crítica", lembrou Diegues em entrevista à RFI em 2018. "Eu tinha 24 anos e foi uma experiência muito importante, pois era a primeira vez que eu saía do Brasil com um filme", recorda.

A edição de 1964 do festival francês foi uma revelação para Diegues, mas também uma vitrine para a cinematografia que emergia no Brasil da época. Naquele ano, "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, e "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, também estavam na competição oficial do evento. "O Cinema Novo praticamente nasceu em Cannes, em 1964", resumiu Diegues.

O cineasta voltou ao festival francês na Quinzena dos Realizadores com "Os Herdeiros", em 1970, e "Chuvas de Verão", em 1978. Em seguida, retornou competindo na seleção oficial em 1980, com "Bye Bye Brasil", em 1984, com "Quilombo" e, em 1987, com "Um Trem para as Estrelas". Após uma pausa, Diegues voltou a Cannes como produtor, em 2010, com"5 X Favela por nós mesmos", apresentado na Sessão Especial, antes de projetar, em 2018, "O Grande Circo Místico", em sessão especial fora de competição.

O brasileiro lembrava de suas primeiras participações no Festival de Cannes com nostalgia. "Sou um veterano" do evento, brincou em entrevista à RFI em 2012. "Quando 'Bye Bye Brasil' esteve aqui na seleção oficial, em 1980, eu me lembro que a gente fez uma partida de futebol entre América do Sul e Europa. O time da Europa era organizado pelo ator Maximilian Schell e o no time da América do Sul jogavam eu, Luiz Carlos Barreto... Era muito divertido. Hoje não dá mais para fazer isso", disse o cineasta.

Em 2012, ele também fez uma participação em Cannes, mas desta vez dirigindo o júri da Câmera de Ouro, prêmio atribuído ao primeiro filme de jovens diretores que participam do evento, principalmente nas mostras paralelas. "Sou íntimo de Cannes", brincou Diegues em entrevista à RFI em 2018.

Cacá Diegues capturava "a essência do Brasil"

Em seu site, o festival de Cannes elogia o cinema "impregnado de realismo social" do brasileiro. Segundo os organizadores do evento francês, a obra de Diegues reflete "seu compromisso com um cinema do real" e "sua capacidade de capturar a própria essência do Brasil".

A morte de Diegues repercutiu na imprensa internacional. Jornais europeus celebraram seu talento e ressaltam seu papel de "figura emblemática do Cinema Novo", como resumiu o jornal suíço Le Matin. O jornal britânico The Independent lembra de suas inspirações da Nouvelle Vague francesa e o neorrealismo italiano, enquanto a revista francesa Télérama ressalta que Diegues morreu em um momento frutífero do cinema brasileiro, com a recente indicação do filme "Ainda Estou Aqui" ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional e de sua protagonista, Fernanda Torres, ao de Melhor Atriz.

"'Ganga Zumba', 'Xica da Silva', 'Bye, Bye Brasil', e, mais, recentemente, 'Deus é Brasileiro' mostram muito bem nossa história, nosso jeito de ser, nossa criatividade. E representam a luta de nosso cinema, que sempre se reergueu quando tentaram derrubá-lo", expressou o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em nota.

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