Taxa do aço nos EUA pode afetar preço dos carros importados no Brasil?

Novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou nesta semana novas tarifas, muito maiores, para todo aço e alumínio importados pelo país e afetando diretamente o Brasil - atualmente, mais da metade da produção siderúrgica nacional vai para os norte-americanos. A medida gera uma pergunta: será que isso afetará os preços dos carros por aqui?
Nos Estados Unidos, a decisão tem desagradado montadoras como General Motors e Ford, que se preparam para desembolsar mais pelo aço seja na América do Sul ou do Norte
"Tenho certeza de que os homens de negócio dos Estados Unidos estão conversando com Trump, pedindo calma", diz o especialista e pesquisador do mercado automotivo Ricardo Bacellar. "A guerra tarifária sempre prejudicará o negócio".
Exemplo disso é o CEO da Ford, Jim Farley, que acusou seu presidente de estar levando "caos" à indústria e viajou à capital Washington na última quarta (12), a fim de visitar congressistas.
A CEO da General Motors, Mary Barra, foi discreta e só afirmou que a companhia já está redistribuindo o inventário de fábricas fora dos EUA. Tudo para nacionalizar o máximo possível da produção e reduzir "até pela metade" o impacto nas finanças da GM.
Carro brasileiro prioriza aço nacional
Em relação aos carros importados dos EUA, há expectativa de aumento de preço, mas a maioria dos veículos norte-americanos à venda no Brasil são de luxo e de baixo volume, diluindo o impacto sentido pelo comprador.
Segundo dados do Instituto Aço Brasil, o país importou entre 12% e 18% do aço que utilizou nos últimos anos; números que sugerem uma proteção maior das fábricas nacionais, que sempre priorizaram fornecedores de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Uma agência global de risco político também aponta, curiosamente, que o foco muito maior de Donald Trump no Canadá acaba amenizando o impacto no Brasil, já que só os canadenses vendem mais aço aos EUA do que o Brasil e também serão taxados.
Dessa forma, diz o relatório obtido sob anonimato, não haveria o efeito de substituição de países na relação comercial, como ocorre em caso de sanções pontuais, por exemplo.
Uma fonte da siderúrgica da Usiminas em Ipatinga (MG) também destacou que, para fabricar o aço nas especificações necessárias, usa-se manganês, e 97% desse metal é importado pelos EUA. "É possível que o acesso ao manganês seja dificultado em retaliação".
Ricardo Bacellar, entretanto, vê como uma má ideia que o Brasil assuma esse papel, ressaltando a disparidade no poder econômico deixa o país fragilizado diante da maior potência global.
É por conta de tantas variáveis em cálculo que, ao longo da cadeia produtiva, a ordem é de cautela. Nos últimos dias, o Canadá já vem aprofundando a amizade com a União Europeia, e um caminho natural para o Brasil pode ser a China, sugere Bacellar.
No ano passado, o Governo Federal impôs tarifas para carros importados que buscam, justamente, diminuir a entrada de automóveis chineses. Até 2026, essas tarifas chegarão a 35%, mas o governo chinês não ensaiou retaliação à medida dos parceiros de Brics.
Com as mudanças provocadas por Trump, não há quem crave a estratégia do gigante asiático daqui em diante, mas a indústria automotiva pode ser uma peça dessa próxima jogada. "Eu estou até surpreso que a China ainda não se mexeu", completou o especialista.