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'Que alívio', diz viúva de petista morto após condenação de bolsonarista

do UOL

Do UOL, em São Paulo

13/02/2025 15h24Atualizada em 13/02/2025 16h42

Pamela Silva, viúva do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, assassinado pelo bolsonarista Jorge Guaranho em 2022, disse estar aliviada após o ex-policial penal ser condenado a 20 anos de prisão, nesta quinta-feira (13).

O que aconteceu

A policial civil afirmou que a família de Marcelo "venceu a guerra". "Que alívio, vencemos essa guerra, ele foi condenado e agora vai ter que cumprir a pena na prisão e repensar muito tudo o que ele fez, e o que destruiu", declarou em entrevista ao UOL logo após o fim do júri popular. O ex-policial penal Jorge Guaranho foi condenado a 20 anos de prisão em regime inicial fechado por homicídio duplamente qualificado, mediante motivo fútil e perigo comum.

Pamela ressalta que a decisão não traz Marcelo de volta, mas mostra que a justiça foi feita. "Eu sei que a gente não vai ter o Marcelo de volta, as crianças não vão ter o pai de volta, mas hoje a verdade prevaleceu, isso demonstra que a intolerância não vale a pena", disse. A mulher acrescentou que sempre esteve ao lado da verdade. "A gente, em nenhum momento dessa batalha, mudou a nossa narrativa. Eles viviam mudando de história".

Júri acabou nesta quinta-feira

A juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler aplicou a pena de 20 anos de prisão, no total, para o réu. Guaranho, que estava em prisão domiciliar, poderá recorrer da sentença, mas saíra do tribunal preso novamente. O Departamento de Polícia Penal do Paraná definirá para qual unidade prisional o réu será encaminhado. O julgamento ocorreu na Vara Privativa do Tribunal do Júri do Foro Central de Curitiba dois anos e meio após a morte de Arruda.

Na decisão, a juíza citou que Guaranho utilizou uma arma da União para cometer crime. Ela ressaltou a intolerância política que o ex-policial penal demonstrou com as ações.

A magistrada leu a sentença na tarde desta quinta-feira (13). A maioria dos sete jurados considerou que o ex-policial penal é culpado pela morte de Marcelo. Foram escolhidos, por sorteio eletrônico, sete jurados, sendo quatro mulheres e três homens. As decisões em um júri popular são tomadas por maioria de votos, ou seja, não é necessária a formação de unanimidade.

O UOL procurou a defesa de Jorge Guaranho para esclarecer se os advogados irão recorrer da sentença e se vão solicitar a prisão domiciliar novamente. O espaço segue aberto para manifestação.

Júri teve depoimentos do réu, peritos e nove testemunhas

Julgamento durou três dias. Nos dois primeiros dias foram ouvidas nove testemunhas, o réu e peritos. Hoje, a defesa e a acusação realizaram os debates, última fase do júri. Após o encerramento, os jurados foram para a sala secreta, onde cada um votou, de forma anônima e individual.

O ex-policial penal Jorge Guaranho chegou hoje ao tribunal de muletas. Ele conversou rapidamente com jornalistas e voltou a citar que a morte de Arruda foi uma "fatalidade".

"Que os jurados tenham entendido que não cheguei atirando como foi dito por aí, isso ficou muito claro ali, que ele apontou a arma para mim antes, andou para cima de mim, tacou pedra em mim e no meu filho. Então era eu ou ele ali naquele momento. Eu jamais atirei no Marcelo por causa de política, foi uma fatalidade", afirmou.

Ontem, o réu foi ouvido no júri e respondeu somente perguntas de seus advogados. Ele falou por cerca de duas horas, disse que se arrependeu de cometer o crime e pediu perdão. O ex-policial penal relatou que foi até o local da festa para brigar com a vítima, mesmo sem saber quem era, e tirar satisfação porque, na primeira ida ao local, Marcelo tinha acertado o olho do filho dele após jogar terra no veículo do acusado. O homem ainda reforçou não se lembrar de detalhes da própria ação.

Guaranho negou que tenha cometido um crime político. Ele disse que o partido não importaria se Marcelo não tivesse partido para cima dele com a arma de fogo em punho, fazendo com que ele precisasse atirar. "Eu mesmo namorei uma menina que era do Partido dos Trabalhadores", acrescentou, reforçando que o crime foi uma fatalidade e não houve motivação política.

Acusado falou que pensa o tempo todo que os filhos de Marcelo não têm mais pai, mas também declarou que a família dele sofreu com a situação. "Arrependimento vai ser para sempre. Marcelo morreu, eu quase morri".

Júri começou na terça-feira com depoimento de viúva

 Pamela Silva, viúva de Marcelo Arruda, assassinado em sua festa de aniversáriono dia 9 de julho de 2022  - CHRISTIAN RIZZI/UOL - CHRISTIAN RIZZI/UOL
Pamela Silva, viúva de Marcelo Arruda, assassinado em sua festa de aniversáriono dia 9 de julho de 2022
Imagem: CHRISTIAN RIZZI/UOL

Júri popular teve início por volta das 11h da terça-feira (11). A primeira testemunha ouvida foi Pamela Silva, viúva do tesoureiro do PT Marcelo Arruda. O júri é realizado na Vara Privativa do Tribunal do Júri do Foro Central de Curitiba.

Pamela Silva declarou que ela e o marido não conheciam Guaranho. Segundo a mulher, assim que o ex-policial penal chegou ao local da festa, ela achou que fosse algum convidado. "Quando eu vi a arma eu imediatamente me aproximei, pensei 'meu Deus, o que tá acontecendo aqui?'", afirmou durante o julgamento.

A viúva também detalhou que Marcelo tinha boa relação com pessoas que não gostavam do PT. "Ele tinha 28 anos como guarda municipal e, dentro da corporação, era minoria. As pessoas até se referiam a ele como o PT, o petista, de brincadeira", disse em respostas à promotora de Justiça Ticiane Louise Santana Pereira.

O julgamento teve início após três adiamentos. Inicialmente, o júri havia sido designado para 7 de dezembro de 2023. Após pedidos da defesa, no entanto, foi adiado para o dia 4 de abril de 2024. Na ocasião, a bancada da defesa abandonou o plenário, impossibilitando a realização do julgamento. Foi designada uma nova data para o júri, agendada para maio de 2024. Mas a defesa ingressou com um pedido de desaforamento em 7 de abril e pediu a mudança de onde seria realizado o julgamento.

Justiça aceitou mudança de endereço do júri. A Justiça do Paraná atendeu ao pedido da defesa do Guaranho para realizar o júri em Curitiba, já que, segundo os advogados, caso fosse sediado em Foz do Iguaçu, onde ocorreu o crime, possibilitaria o risco de parcialidade dos jurados. A juíza que preside o júri popular de Jorge Guaranho é Mychelle Pacheco Cintra Stadler.

Ministério Público do Paraná pediu condenação por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e perigo comum. Ao denunciar o ex-policial penal Jorge Guaranho, a Promotoria viu como motivação fútil a "preferência político-partidárias antagônicas dos envolvidos" e disse que o réu colocou a vida de outras pessoas em risco ao atirar.

Segundo a denúncia do MP, Guaranho disse que "petista vai morrer tudo" antes de atirar. A assistência da acusação informou que continua com a plena convicção de que o réu Jorge Guaranho será condenado. "Assim como acreditávamos na absoluta imparcialidade dos jurados de Foz do Iguaçu, também confiamos na imparcialidade, na integridade e no senso de justiça dos jurados de Curitiba", diz nota enviada pelo escritório Botelho e Raffaelli Boito Advocacia, representado pelos advogados Rogério Oscar Botelho e Alessandra Raffaelli Boito.

A defesa de Jorge Guaranho informou que ele foi "injustamente acusado" de assassinato político. "Desde o início, buscamos garantir um julgamento justo, conforme a lei. Estamos preparados para apresentar os fatos de maneira clara e objetiva, longe de narrativas políticas", diz nota enviada pelo advogado Samir Mattar Assad.

Relembre o caso

Vítima foi morta quando comemorava 50 anos. No dia 9 de julho de 2022, Arruda celebrava o aniversário com amigos em Foz do Iguaçu em uma festa temática do PT —o guarda municipal era eleitor de Lula.

Guaranho invadiu a festa aos gritos de "Bolsonaro" e "mito", segundo relataram testemunhas. O homem ameaçou os presentes e saiu. Depois, ao reencontrar Arruda, atirou no aniversariante, que também estava armado e revidou — mas não sobreviveu.

Arruda era casado e tinha quatro filhos. Ele era diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de Foz, tesoureiro do PT municipal e havia sido candidato a vice-prefeito. Era casado e tinha quatro filhos —entre eles uma menina de seis anos e um bebê de apenas um mês.

Defesa descarta motivação política e vai pedir absolvição. Os representantes legais de Guaranho alegam que o policial penal agiu em legítima defesa, já que Arruda estava com a arma em punho quando o atirador invadiu a festa onde ocorreu o crime.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, demitiu o policial penal. Guaranho foi exonerado por três infrações disciplinares. Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública esclareceu que demissão se deu pelo uso de recurso material da repartição em atividade particular, pela prática de ato de improbidade administrativa e pela e incontinência pública. Guaranho usou sua arma profissional para cometer o crime.

Um acordo garantiu o pagamento de indenização à família de Marcelo. Em fevereiro deste ano, a AGU (Advocacia-Geral da União) informou que vai garantir o pagamento de indenização no valor de R$ 1,7 milhão à companheira e aos quatro filhos de Marcelo Arruda.

A indenização será paga pela União. O acordo considerou que, entre outros fatores, o autor do crime se valeu da condição de agente público para acessar o local da festa e efetuar o disparo utilizando uma arma de propriedade da União.

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