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Lula volta a defender pesquisa na Margem Equatorial, mas promete não fazer loucura ambiental

13/02/2025 14h49

Por Maria Carolina Marcello

(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a pesquisa para exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas no Amapá, acrescentando que tem responsabilidade com o meio ambiente e que não permitirá qualquer "loucura ambiental".

O presidente disse ainda, em cerimônia de entrega de terras da União para o Estado do Amapá nesta quinta-feira, que incumbiu seu ministro da Casa Civil, Rui Costa, de negociar uma saída com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) -- responsável pelo licenciamento.

"Ninguém, ninguém nesse país tem mais responsabilidade do que eu — climática", disse Lula, no evento. "Eu quero preservar. Mas eu não posso deixar uma riqueza que a gente não sabe se tem, e quanto é, a 2 mil metros de profundidade, enquanto o Suriname e a Guiana estão ficando ricos às custas do petróleo que tem a 50 km de nós", afirmou o presidente.

Atualmente, a Petrobras aguarda um retorno do Ibama sobre um pedido de reconsideração feito pela companhia em 2023, após o órgão negar uma licença de perfuração na área. O Ibama não tem um prazo específico para responder.

Lula argumentou a Petrobras tem expertise tecnológica para promover a exploração e que não se pode proibir a pesquisa na área para se aferir "o tamanho da riqueza que a gente tem".

"Esse moço aqui (dirigindo-se a Rui Costa)... Tem a incumbência de acertar com o Instituto de Meio Ambiente no Brasil que a gente não vai fazer loucura. A Petrobras é a empresa que tem mais tecnologia no mundo de prospecção de petróleo em águas profundas", afirmou.

Na presença de lideranças políticas do Estado -- incluindo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União), e seu líder no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP) -- Lula garantiu que o governo vai "trabalhar muito" e quer assumir o compromisso de ser "responsável" e tratar do assunto "com muito carinho".

"A gente não quer poluir um metro d'água, um milímetro de água", disse, argumentando que o Amapá não pode ser deixado "pobre" se houver de fato uma reserva de petróleo na região.

"É apenas uma questão de bom senso."

Na quarta-feira, em entrevista à rádio Diário, de Macapá (AP), Lula afirmou que deve haver uma reunião nesta ou na próxima semana entre a Casa Civil e o Ibama para discutir a autorização para a pesquisa na área. "Depois se a gente vai explorar é outra discussão. O que não dá é a gente ficar nesse lenga-lenga."

A declaração provocou reações e críticas ao presidente por parte de órgãos ambientais e de entidades ligadas a servidores do meio ambiente.

Ao voltar ao tema nesta quinta, o presidente minimizou eventuais impactos negativos de uma autorização no mesmo ano em que o país vai sediar a COP30, cúpula da ONU sobre mudanças climáticas em Belém.

"Vê se os Estados unidos estão preocupados. Vê se a França, a Alemanha, a Inglaterra estão preocupados (com o tema). Não. Eles exploram o quanto puder. É a Inglaterra que está aqui na Guiana. É a França que está aqui no Suriname. Então só nós que vamos comer pão com água? Não, a gente também gosta de pão com mortadela. A gente gosta. A gente gosta de coisa boa", disse.

A região do litoral norte do Brasil tem grande potencial para descobertas de petróleo, mas também enormes desafios socioambientais.

A indústria de petróleo tem enfrentado ao longo de anos forte resistência para perfurar a Foz do Amazonas em busca de novas reservas. A área é considerada a de maior potencial para a abertura de uma nova fronteira de petróleo no país, devido à geologia semelhante com a vizinha Guiana, onde a Exxon Mobil está desenvolvendo campos enormes.

"Eu sou favorável e eu sonho que um dia a gente não precise de combustível fóssil. Eu sou favorável. Eu acho que um dia a gente não vai precisar de combustível fóssil. Mas esse dia está longe ainda."

(Reportagem de Maria Carolina Marcello, em Brasília)

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