Ela foi baleada na cabeça: 'Antes admirava a PRF, agora quero justiça'

Era véspera de Natal quando a vida de Juliana Leite Rangel, 26, virou do avesso. O carro em que estava com a família foi alvejado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), e a jovem foi atingida na cabeça.
Após 44 dias de internação, ela recebeu alta e agora precisa reaprender a andar e a fazer atividades básicas.
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'Vivi um milagre'
Juliana estava indo passar o Natal na casa de parentes em Niterói. Quando passavam pela BR-040 em Duque de Caxias, o carro foi alvejado por disparos.
Estava desanimada para o Natal, mas fui mesmo assim. Quando ouvi os tiros, achei que fosse um assalto. Falei para o meu irmão abaixar, mas acabei sendo atingida na cabeça e meu pai, na mão.
Juliana Leite Rangel
O pai de Juliana, Alexandre Rangel, disse que mais de 30 tiros foram disparados em série pelos agentes. Os policiais teriam alegado que abriram fogo porque o carro onde estava Juliana teria atirado primeiro.
Ao UOL, Juliana disse que "antes admirava a PRF" e que "não imaginava que eles poderiam fazer uma coisa dessas".
"Foi a PM que salvou minha vida, os policiais Carlos, Fernandes e Leite. A PRF não deu socorro nenhum. Passei pelo vale da morte, agora eu quero justiça."
Juliana ficou internada no Hospital Adão Pereira Nunes —e as notícias no início não eram nada boas. O quadro foi considerado gravíssimo.
"Quando acordei da sedação, minha mãe e minha irmã estavam comigo. Não lembrava o que tinha acontecido, elas tiveram de me explicar. Tive muito medo, mas já estava me recuperando."
Recuperação e dificuldade de enxergar
De alta e sob os cuidados da família, agora a jovem precisa continuar fazendo tratamentos para recuperar sua autonomia. Ela vai precisar frequentar o hospital para fazer fisioterapia, consultas com oftalmologista, neurologista e atendimento psicológico.
Técnica de enfermagem, Juliana atuava como agente de saúde e morava sozinha, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Como seu apartamento era no terceiro andar e a jovem está com dificuldades motoras, os pais precisaram devolver o imóvel para o proprietário. Agora os três estão morando temporariamente na casa da irmã, em Niterói.
"Eu vivi um milagre, porque tem gente que morre por muito menos. Sempre fui católica, mas estava afastada da igreja e tinha dúvidas se Deus realmente existia, agora eu tenho certeza", diz a jovem.
Dayse Leite Rangel, mãe de Juliana, contou que, mesmo desesperada com toda a situação, nunca perdeu as esperanças de que a filha sairia daquela situação.
"Foi muita fé nesse momento. Ficamos pensando nisso 24h, era muita oração, sem perder a fé e a confiança em Deus. E agora ela está aqui, de volta", disse a mãe.
Dayse conta que está muito feliz pelo retorno da filha, mas ainda preocupada com a recuperação, já que a jovem está com muita dificuldade de enxergar.
O carro da família segue na perícia, ainda não foi liberado e agora eles dependem da PRF para levar a Juliana para os tratamentos médicos. Indagada se vai ou não processar o Estado, Dayse afirmou: "Com certeza, já estou com advogados para me ajudar com isso".
O pai de Juliane é autônomo e estava sem trabalhar devido ao tiro que tomou na mão. A jovem também está afastada do trabalho, devido aos acontecimentos.
Para ajudar com as despesas, a família decidiu criar uma vaquinha online para ajudar na recuperação da jovem, que faz planos para o futuro.
O Natal vai ser sempre uma data marcante, mas estou muito grata por estar viva e feliz por estar em casa com minha família. Agora quero me recuperar o mais rápido possível e fazer uma faculdade de medicina para ajudar as pessoas.
Juliana Leite Rangel
Caso é investigado
Ao UOL, a PRF informou que os agentes permanecem afastados por tempo indeterminado.
Na época da ocorrência, o superintendente geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, classificou o caso como "um evento traumático". Já o superintendente da PRF no Rio, Vitor Almada, confirmou que a patrulha era feita por três agentes —dois homens e uma mulher— que portavam dois fuzis e uma pistola automática.
A conduta dos agentes é investigada em procedimento do Ministério Público Federal. O órgão abriu investigação no dia 25 de dezembro.