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Bradesco ou Santander: quem se recupera antes e em qual vale investir?

Um se recupera primeiro, mas outro oferece dividendos e valorização maiores. Mas cuidado, nem tudo que reluz é ouro! -  O Antagonista
Um se recupera primeiro, mas outro oferece dividendos e valorização maiores. Mas cuidado, nem tudo que reluz é ouro! Imagem: O Antagonista
do UOL

Colunista do UOL

13/02/2025 05h30

Em setembro de 2023, o Santander anunciou a reestruturação do seu negócio. Poucos meses depois, em fevereiro de 2024, o Bradesco seguiu os mesmos passos e divulgou um plano de recuperação que duraria pelo menos cinco anos.

Nos balanços do 4° trimestre de 2024, divulgados em fevereiro de 2025, já ficou nítido para o mercado que existe um claro vencedor nessa tentativa de retomada. Afinal, quem vai voltar aos trilhos mais cedo: Bradesco ou Santander?

Investir em grandes bancos ou "bancões" sempre foi considerada uma estratégia segura para os investidores. Mas nos últimos anos, diante de pandemia, juros altos e aumento da inadimplência, Santander e Bradesco ficaram para trás em comparação com Banco do Brasil e Itaú. O cenário macroeconômico para 2025 e 2026 não será nada fácil. O que pode representar um freio no crescimento da carteira de crédito dessas instituições e limitar a rentabilidade. A inadimplência é outro fator a ser monitorado.

Bradesco ou Santander: quem se recupera antes?

Por unanimidade, os analistas consultados pelo UOL acreditam que o Santander (SANB11) vai voltar aos trilhos primeiro. Os números não mentem e já revelam que o banco espanhol está se destacando.

A rentabilidade, medida pelo ROE (Retorno Sobre Patrimônio Líquido) do Santander alcançou 17,6% no 4° TRI 2024, acima do custo de capital. Enquanto o Bradesco (BBDC4) teve um ROE de 12,7%, abaixo do custo de capital. "O ROE indica quanto o banco está ganhando em relação ao dinheiro investido pelos seus acionistas. Um valor acima de 15% já é interessante", explica Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista.

Apesar da recuperação, os concorrentes já operam com um ROE na casa dos 20%. Mario Leão, CEO do Santander, afirmou que o objetivo de conquistar o ROE de 20% deve acontecer no curto e médio prazo, contudo não será em 2025.

Para o Bradesco, o panorama parece mais desafiador. Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, não enxerga que o ROE chegue a 15% em 2025. A recuperação deve vir só no longo prazo, entre 2 e 4 anos. "O Bradesco já está em outro patamar, mas sabemos que a recuperação envolve gestão, redução de custos, fechamento de agências. Isso certamente leva tempo", opina.

A gestão do Bradesco já manifestou que o plano é que o ROE chegue perto do custo de capital, cerca de 15%, em 2026. Analistas estão céticos e acreditam que um ROE de 18% ou 19% só será possível em 2028.

Algumas instituições nem pretendem esperar mais pela recuperação do Bradesco. É o caso do Goldman Sachs que na quarta-feira (12) rebaixou a sua recomendação das ações BBDC4 para venda.

Em relatório, os analistas da instituição justificaram que os desafios estruturais devem manter o ROE do Bradesco abaixo do custo de capital pelos próximos dois anos. Em 2025, o Goldman espera um ROE de 12,4%, rentabilidade que deve chegar a 13,4% em 2026 e 14,8% em 2027.

Segundo o Goldman, um ambiente macroeconômico desafiador, com aumento da inflação, dos juros e crescimento lento do PIB (Produto Interno Bruto) deve dificultar a recuperação do Bradesco, que precisa crescer na sua carteira de crédito para recuperar a lucratividade, enquanto faz investimentos significativos para ganhar participação com clientes de alta renda.

Na contramão, o Goldman elevou a classificação do Santander (SANB11) de venda para manter, destacando que o ROE do banco está acima do custo de capital há três trimestres e deve ter continuidade. O ROE esperado para 2025 é de 17,1% e para 2026, 17,2%. Em 2027, a rentabilidade do Santander deve ser de 16,9%.

Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, destaca que o Santander se recupera antes, até porque a reestruturação do banco espanhol começou mais cedo. Segundo ele, as ações SANB11 já não se encontram nas mínimas. "O investidor não pode se confundir e achar que as ações SANB11 vão valorizar mais, porque parte dessa recuperação já está no preço", diz.

Oliveira destaca também o posicionamento dos CEOs nas conferências de resultados. Enquanto Leão, do Santander, tem uma postura mais tranquila e assertiva, no Bradesco os discursos do CEO e CFO não parecem muito alinhados.

Observando outros indicadores, como índice de eficiência (quanto o banco gasta para ter receita), índice de inadimplência (mede os atrasos nos pagamentos), índice de cobertura (proteção contra possíveis inadimplentes), custo de crédito (percentual do "seguro" que o banco faz contra inadimplentes) e spread bancário (ganho entre o dinheiro captado e emprestado), o Santander se destaca em todos, perdendo apenas no custo de crédito para o Bradesco.

Carteira de crédito, inadimplência e ROE

Com os juros nas nuvens, a maioria dos bancões já confirmou um viés conservador no crédito. O Bradesco projetou um crescimento para sua carteira de crédito de 4% até 8% em 2025, abaixo dos 11,9% vistos em 2024.

No Santander, a perspectiva é de crescimento no mesmo padrão que 2024, após a carteira de crédito avançar 6,2% no ano passado.

"Uma expansão próxima de 5% a 6% nas carteiras de crédito já pode ser considerada saudável", avalia Saravalle.

Milton Rabelo, analista da VG Research, acredita que o Bradesco vai dar prioridade a créditos colateralizados, que são aqueles que possuem garantias e diminuem o risco da carteira. Ele também vê espaço para boas taxas de crescimento no crédito para pessoa jurídica.

No Santander, Rabelo destaca que os segmentos pessoa física e financiamento ao consumo devem gerar bons resultados.

Pedro Ávila, analista de bancos da Varos Research, aponta que o crédito consignado para servidores públicos e linhas de crédito consignado privado para funcionários CLT, ambos descontados em folha salarial, devem se fortalecer no Santander e Bradesco. Ele também enxerga as instituições trabalhando com crédito pessoal para alta renda e crédito para pequenas e microempresas, mas com garantia.

O conservadorismo no crédito também tem seus efeitos. No Bradesco, os ganhos com spreads devem ser modestos, em consequência, isso deve se traduzir em um crescimento do lucro entre 7% e 8% em 2025, avalia Nigri.

Já em relação ao Santander, Nigri acredita que na tentativa de aumentar um pouco a sua rentabilidade o banco possa oferecer crédito com risco maior. Principalmente considerando que Itaú e Bradesco já estarão no nicho de crédito com garantias. "Ainda que seja um movimento menor, isso pode acabar trazendo problemas para a inadimplência como o que aconteceu em 2019", observa Nigri. Contudo, vê o lucro do Santander crescendo entre 15% e 16%.

Em relação ao ROE, Ávila afirma que o destaque de 2025 será o Santander, até porque atualmente já possui uma rentabilidade maior. No lucro líquido, o do Bradesco será maior, mas quando se trata do lucro por ação, Santander fica novamente na frente.

Saravalle projeta que o Santander entregue um lucro de R$ 15,5 bilhões em 2025, enquanto Bradesco deve fechar este ano com lucro de R$ 22,5 bilhões.

"Mas no lucro de 2024 do Bradesco, mais de 45% no 4°TRI veio das atividades de seguro. De fato, Santander está criando valor para o acionista, Bradesco não", pontua Oliveira.

Sobre inadimplência, Ávila lembra que a do Santander está atualmente em 3,2%, mas não devemos ver melhoras tão significativas em 2025. Já no caso do Bradesco, a inadimplência é de 4% e na visão do analista tem chances de fechar 2025 em 3,5%.

O melhor para valorização

Sem dúvida, quem está mais descontado e oferece maior potencial para valorização das ações é o Bradesco (BBDC4). Mas só vale comprar na expectativa de longo prazo, de olho na rentabilidade em 2027 ou 2028.

O Goldman alerta que o Bradesco estaria barato por conta da lucratividade abaixo da média e a demora na sua recuperação. Diferente de outras instituições, a perspectiva para 2025 é pessimista. O Goldman acredita que o lucro líquido do Bradesco vai recuar 6% diante da receita menor com juros.

Segundo projeções do Goldman, as ações BBDC4 vão fechar 2025 cotadas a R$ 11,40.

Na Varos, Ávila espera que os papéis BBDC4 cheguem a R$ 16 em 2025, uma alta de quase 30%. Até 2028, Nigri, da Dica de Hoje, acredita que o Bradesco pode mais do que dobrar de valor.

Levantamento de consenso de mercado do TradeMap, com bancos, corretoras e casas de análise, aponta que na média a ação BBDC4 vai valorizar até R$ 16,17 neste ano, um salto de 34,72%. Veja projeções:

Para o Santander, também há espaço para valorização. Segundo o TradeMap, as ações SANB11 devem alcançar o preço-alvo médio de R$ 32,41 no final de 2025, salto de 23,92%.

Entre os analistas consultados, Rabelo, da VG, vê SANB11 custando R$ 31 e na Varos, o preço-alvo para 2025 é de R$ 30.

O melhor para dividendos

Por estar barato, o Bradesco também oferece um dividend yield maior. Mas o investidor precisa tomar cuidado, adverte Oliveira. Recentemente, o CFO do Bradesco, Cassiano Scarpelli, manifestou publicamente que o banco vai pagar entre R$ 12 bilhões e R$ 13 bilhões em dividendos em 2025, equivalente a R$ 1,22 por ação.

Compromissos como esse não costumam ser comuns entre os bancos e, segundo Oliveira, pode ser um sinal de que o Bradesco está preocupado com uma possível debandada dos investidores caso não haja melhorias nos fundamentos nos próximos trimestres.

É possível ainda que, como o Bradesco não está conseguindo rentabilizar o dinheiro acima do custo de capital e acima da Selic, não reste outra opção do que distribuir aos investidores, ao invés de reinvestir na operação.

De acordo com os analistas consultados e o consenso de mercado, Bradesco (BBDC4) vai entregar um dividend yield entre 6% e 11% em 2025. Para o Santander (SANB11), o dividend yield é menor, entre 4,24% e 8,49% neste ano. Veja as tabelas acima!

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