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Quais empresas brasileiras serão mais afetadas pela taxa dos EUA sobre aço?

Trump impôs tarifa para importação de aço - Sean Gallup/Getty Images
Trump impôs tarifa para importação de aço Imagem: Sean Gallup/Getty Images
do UOL

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

12/02/2025 05h30

A nova tarifa de 25% imposta pelos Estados Unidos sobre o aço importado impacta diretamente as siderúrgicas brasileiras, afetando especialmente empresas como Ternium e ArcelorMittal. A Gerdau, por outro lado, pode se beneficiar devido à sua produção nos EUA. Especialistas ouvidos pelo UOL analisam os impactos e as possíveis reações do setor.

O que aconteceu

O governo Donald Trump anunciou uma tarifa fixa de 25% sobre todas as importações de aço, encerrando isenções e cotas especiais. Com isso, o Brasil, que exportou 4,3 milhões de toneladas de aço em 2024, sendo 90% desse volume de produtos semiacabados, verá um aumento de custos significativo para manter sua presença no mercado americano.

As empresas mais afetadas serão aquelas que exportam aço semiacabado, essencial para siderúrgicas americanas. A análise é do BTG Pactual, assinada pelos analistas Leonardo Correa, Marcelo Arazi e Bruno Henriques.

  • ArcelorMittal: exporta mais de 75% da produção brasileira para os EUA, sendo fortemente dependente do mercado americano.
  • Ternium: produz placas de aço usadas em usinas laminadoras na América Latina (Argentina e México) e exporta para os EUA, sendo impactada diretamente.

A Ternium e a ArcelorMittal podem sofrer perda de receita e precisar realocar sua produção. "As empresas que exportam aço semiacabado serão as mais atingidas porque esses produtos são matéria-prima da indústria americana. Com a sobretaxa, tornam-se menos competitivos e podem enfrentar queda na demanda e na geração de receita", avalia o economista Roberto Simioni, da Blue3 Investimentos.

Já as siderúrgicas que exportam aço acabado, como chapas e bobinas, devem sofrer menos impacto. Isso ocorre porque esses produtos já competem diretamente com a produção americana, e algumas empresas brasileiras podem até ocupar espaços deixados por concorrentes de outros países.

Gerdau pode ser beneficiada

A Gerdau está em uma posição privilegiada devido à sua produção nos EUA. Segundo os relatórios do BTG Pactual e do Itaú BBA, a empresa tem 11 usinas na América do Norte, permitindo que continue operando sem ser afetada diretamente pela tarifa.

Se os preços do aço nos EUA subirem 5%, o EBITDA da Gerdau pode crescer 12%, colocando-a entre as empresas mais beneficiadas pela tarifa. A análise é da equipe do Itaú BBA, chefiada pelo economista Daniel Sasson. O EBITDA é um indicador financeiro que mede o lucro de uma empresa antes de descontar impostos, juros, depreciação e amortização. Apesar das vantagens, especialistas alertam que o mercado siderúrgico dos EUA opera com 27% de ociosidade, e uma desaceleração na demanda pode afetar indiretamente a empresa.

A produção local da Gerdau dá à empresa uma vantagem competitiva significativa. "A produção nos EUA permite que a Gerdau evite a tarifa de importação, mantendo seus preços mais competitivos que os de empresas que exportam do Brasil", explica Natan de Souza Marques, professor de economia da Universidade Cruzeiro do Sul.

Impacto moderado

A CSN e a Usiminas terão impactos menores, pois exportam pouco para os EUA, avalia Simioni. A CSN opera um centro de distribuição nos EUA, vendendo aço laminado em um sistema de cotas anual de 200 a 250 mil toneladas. A Usiminas tem pouca exposição ao mercado americano, concentrando-se na América Latina. No entanto, ambas podem precisar redirecionar parte da produção para outros mercados, como Oriente Médio, África e América Latina.

Para pequenas e médias siderúrgicas, a sobretaxa representa um risco ainda maior. Isso ocorre pois muitas dependem das exportações para os EUA e não têm estrutura para buscar novos mercados com rapidez.

Se a sobretaxa for mantida, o setor precisará de estratégias para mitigar os prejuízos. Especialistas apontam três caminhos principais:

  • Buscar novos mercados: América Latina (México, Argentina, Colômbia), Oriente Médio e África são opções viáveis, mas exigem adaptação a barreiras comerciais.
  • Expansão nos EUA: Empresas podem ampliar operações em solo americano para evitar tarifas.
  • Negociar exceções: O Brasil pode buscar acordos para minimizar os impactos da tarifa sobre produtos essenciais para a siderurgia americana. Até o momento, o governo brasileiro não anunciou medidas concretas para lidar com a sobretaxa.

O que diz o Instituto Aço Brasil

Em nota, o Instituto Aço Brasil, que representa empresas do setor, afirma ter recebido "com surpresa a decisão do governo dos Estados Unidos". O instituto diz que "Estados Unidos e Brasil detêm parceria comercial de longa data, que vem sendo, historicamente, favorável ao primeiro".

O Instituto Aço Brasil e empresas associadas estão confiantes na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos nas bases acordadas em 2018, em razão da parceria ao longo de muitos anos e por entender que a taxação de 25% sobre os produtos de aço brasileiros não será benéfica para ambas as partes. Instituto Aço Brasil, em nota

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